A 2ª edição do Gameshifters da Novabase decorreu no dia mundial do sono… mas pouco ou nada se descansou. Nos passados dias 13 e 14 de março, o lema era pôr os mais de 150 participantes a pensar “fora de caixa” de forma a aproximarem os cidadãos dos serviços financeiros.
Numa maratona de 24 horas, sozinhos ou em grupo, os candidatos a gameshifters, tiveram de desenvolver a sua ideia de Live Banking – um conceito criado pela Novabase na área dos serviços financeiros que tem como base quatro vetores: simplicidade, emoção, contexto e mobilidade. No fundo, como disse Nuno Gama da empresa: “dar às pessoas o que elas querem, quando elas querem, onde elas querem”. O resultado teria depois de ser apresentado num pitch de sete minutos a um júri especializado. E foi assim que aconteceu…
24 horas de ‘sangue, suor e lágrimas’…
Às 12 horas de sexta-feira, dia 13, os candidatos a gameshifters foram recebido pelos ‘geeks’ de camisolas vermelhas da Novabase. Os mesmos ‘experts‘ que, em apresentações de cinco minutos, foram subindo ao palco para breves formações – desde o ‘design thinking‘, à importância de falhar e falhar depressa, vários foram os temas abordados. 24 horas depois? O cansaço já se fazia sentir.
É o caso de João, Samara e Rafael, concorrentes nesta edição e criadores da já existente POW, uma plataforma de pagamentos digitais. Ao GameShifters trouxeram uma nova funcionalidade que permite substituir o pagamento via NFC por um sistema de impulsos de luz. Se a ideia já vinha antes do concurso, foi aqui que a puseram em prática: “O grande ‘breakthrough’ que conseguimos à noite foi a efetivação física da leitura do raio de luz, do impulso de luz”, dizem, orgulhosos, apesar do cansaço já ser evidente. Confiantes com a ideia, que dizem ser “potencialmente revolucionária”, reconhecem que ter uma boa ideia não chega. Há que saber comunicá-la e, claro, vendê-la: “Não se trata propriamente do projeto em si mas da forma como o vendemos”.
Rafael é o “hacker de serviço” e Samara (é socióloga, mas aqui) é o “génio de vendas e de parcerias”, como diz João (ou a “cabeça pensante” do grupo). Participar no Gameshifters é, para eles, mais do que a oportunidade de vencer o prémio monetário: “Muito mais importante é a visibilidade que temos, principalmente junto de alguns elementos do júri do setor da banca”, afirmam, antes de saberem que esse mesmo júri lhes atribuiu o 3º lugar na competição.
Já têm tudo pensado, “desde a parte técnica ao modelo de negócio”. Falta-lhes apenas a otimização do projeto de modo a servir mais telemóveis e a conseguir transmitir mais informação num impulso de luz. Se as 24 horas foram de trabalho intensivo para esta equipa, admitem que o networking ficou um pouco para segundo plano. “Na realidade trouxemos o projeto de raiz, produzimos esta caixa. Isso mostra a nossa dedicação e a cara de fantasma com que estamos hoje”, brinca Samara.
Também a Team TBD pouco tempo teve para aproveitar o espaço. Ela trabalha na área do design de comunicação, ele na área de design de produto. Aditya Gujaran é da Índia, estudou na Madeira e vive em Lisboa, onde trabalha na Novabase. “Tivemos a ideia ontem, mas era muito má. Continuámos a trabalhar nela e, por volta da 1 da manhã, começámos a pensar ‘isto está a ir a algum lado'”. Com zero horas de sono, não excluem a hipótese de vir a desenvolver a ideia depois do concurso: “Somos designers, criámos um conceito diferente, novo“. E ficaram entre os 10 finalistas.
O GameShifters tem aberto algumas portas aos participantes e é como um “mestrado condensado”, diz Hugo Faria, “Head of Brand Ignition” (que é como quem diz Diretor de Marketing) da Novabase. Como Hugo frisa, esta competição distingue-se de outras hackathons (hack+marathon) pela sua forte componente formativa. “Das 24 horas: as últimas duas horas são de avaliação; as outras 22 horas são de engagement, formação, trabalho“.
O evento pretende estimular o espírito empreendedor das pessoas: “não vamos ensinar ninguém a ser talentoso, vamos é dar ferramentas“, revela Hugo. Entre os “talentosos” que se encontram em competição, há uma preponderância de recém-licenciados mas, como o talento não é geracional, não há limite máximo de idades: “é dos 18 aos 80”. A grande maioria tem entre os 25 e os 35 anos. Este ano há repetentes e o número de inscrições aumentou comparativamente ao ano passado.
… mas nem sempre
Não só de trabalho e formação se faz o GameShifters. Para ser capaz de pensar “fora da caixa”, há também que apostar no lazer e conforto dos participantes. Na verdade, conforto foi, aqui, uma das palavras de ordem. Massagens (oriental e ocidental), uma divisão para sestas, consolas, matraquilhos, música de DJ’s da MTV ou o yoga suspenso, foram algumas das ofertas aos participantes durante o evento.
Para os 100 Ideias, o Gameshifters não foi só sinal de trabalho. Houve também tempo para outras atividades: “Gostámos do yoga suspenso… e das playstations”. José, Pedro, Afonso e Igor não são não novos nestas andanças. Em novembro passado ficaram em 1º lugar no Leadership Tournament da AIESEC, um evento de liderança e empreendedorismo, onde tiveram conhecimento do GameShifters. Mas também houve trabalho: “Tínhamos um esqueleto de ideia mas alteramos completamente quando chegámos aqui. Aqui é que desenvolvemos toda a ideia”. Admitem que o tema da banca não foi o que mais os atraiu nesta edição mas sim o gosto “de fazer coisas diferentes”. “Falhámos um bocadinho na comunicação final”, admite o grupo de estudantes de engenharia do Instituto Superior Técnico, depois de os termos interrompido no animado jogo de matraquilhos. Voltar? Para eles depende do tema. “Só se houver mais playstations… e massagens”, dizem em tom de brincadeira.
Fã das massagens foi também João Elvas que, apesar de se ter inscrito com um colega, veio sozinho ao evento. Confiante na ideia, João admite que o desenvolvimento do setor da banca não lhe traz grande interesse, mas decidiu participar pela experiência: “A Novabase é uma empresa que tem um bom nome, que está em crescimento, por isso decidimos arriscar”. 24 horas depois, não se deixou intimidar pela concorrência e a experiência correspondeu às expetativas: “Para o ano estou cá outra vez”, confessa. A ideia já vinha pensada de casa e, por isso, houve tempo para aprendizagens: “O que mais gostei foi ter aprendido a vender a minha ideia. Ensinaram-me a estruturar um data show de maneira a que eu consiga influenciar a pessoa a que estou a vender“.
Lamenta apenas a resistência de alguns participantes para networking: “reparei que não estava muita gente aberta para comunicação“, diz, depois de aproveitar para conviver com alguns membros da Novabase. “Só por estar aqui já ganhei“, conclui.
Da Faculdade de Engenharia do Porto vieram os Bambinos, já com experiência em hackathons. “Vimos o concurso e começámos a fazer brainstorming para tentar arranjar uma ideia que fosse interessante“. Dificuldades? A falta de sono e algumas complicações técnicas durante a apresentação do pitch.
Mas desengane-se quem pensa que as mais de 50 equipas estiveram a concorrer por um “lugar ao sol”. Vencer o GameShifters traz responsabilidades e muito trabalho para serem capazes de se afirmarem no difícil e competitivo mercado das startups. E qual o papel da Novabase com os vencedores? Diz Hugo Faria que é o de atuar como um “silent partner“: “A ideia é dar ferramentas às pessoas, não ficarmos ‘owners’. Temos de lhes dar espaço“.
E os vencedores são…
Para chegarem à competição, as ideias dos concorrentes já tinham sido alvo de uma pré-seleção. Os selecionados para o evento teriam de, após as 24 horas, apresentar a sua ideia num pitch de três minutos a um júri ligado ao empreendedorismo e jornalismo em Portugal. São eles: Francisco João Lopes, CEO e fundador do Portal da Sabedoria, a ideia vencedora da primeira edição, João Adelino Faria, jornalista da RTP, Nuno Fórneas, membro da Comissão Executiva da Novabase, João Baptista Leite, administrador do Banco Santander Totta, e Pedro Pina, diretor geral do Google Global Brand Solutions.
As 10 melhores ideias foram depois escolhidas com base em critérios como o “potencial de negócio”, “sofisticação” ou “inovação”, para um outro pitch, agora de sete minutos, frente a todos os participantes. Prémios de consolação à parte, vencedores foram três. Em primeiro lugar ficaram os Ninjas Financeiros – Gonçalo e Filipe -, com a sua plataforma que permite levantar dinheiro sem cartão de crédito, recorrendo ao telemóvel. Ganharam 5000€, um espaço de trabalho e ainda consultoria oferecida pela Novabase.
Fotografias de Andreia Martins e Teresa Serafim.