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Entrevista a Rui Sinel de Cordes: “Não há nervos nenhuns. Fazia todos os dias na boa.”

No passado dia 7 de março, de one-liners a perguntas filosóficas, Isto Era Para Ser Com o Sassetti, até teve espaço para uma mostra de stand-up comedy para crianças ,muito pouco recomendável, diga-se de passagem. Além do tempo de antena dedicado a determinadas notícias do Correio da ManhãRui Sinel de Cordes ainda aproveitou para fazer um pedido de desculpas atípico ao Malato e a outras figuras públicas, que já ofendeu ao longo da sua carreira como humorista cáustico.

Um espetáculo de 1h10, que passou rápido demais, mas que se distinguiu pela diferença e originalidade. No palco do Teatro Villaret, tivemos uma dupla imparável: alguém que não tem medo de partir pratos e um mestre do piano, dono de uma mala recheada de surpresas. O Espalha-Factos aproveitou para entrevistar “o cavaleiro negro do humor nacional”.

Espalha-Factos: Boa noite.

Rui Sinel de Cordes: Olá, diz coisas.

EF: Em primeiro lugar, parabéns pelo espetáculo! Já fazes humor há 10 anos.

RSC: Não, já faço há mais. Mas a sério é só há 10.

EF: Era isso que ia perguntar, se te lembras qual foi a primeira piada que fizeste.

RSC: Não, não me lembro. Não me lembro porque foi antes de eu me conseguir lembrar. Foi muito cedo, deve ter sido muito cedo.

“Nunca contei isto, vais ter um exclusivo!”

Anjos Negros

EF: Então, a história mais engraçada que te lembras de te ter acontecido quando eras mais jovem.

RSC: A história mais engraçada, e nunca contei isto, vais ter um exclusivo! Eu tinha para aí 5 ou 6 anos, ou 7, e estava em casa de familiares. Estava um senhor, que era amigo de família deles, a ver televisão, sentado num banquinho na cozinha a ver futebol, uma merda qualquer. E levantou-se para festejar um golo. Eu vi um banco, entrei na cozinha nesse momento, vi o banco, tirei-o e sentei-me eu. E ele, quando se voltou a sentar, convencido que estava lá o banco, sem olhar, estás a ver? Epah, caiu monstruosamente no chão e foi das maiores gargalhadas que aquela família deu. Durante anos, alimentei que tinha tirado o banco de propósito, que era muito engraçado e era uma partida, quando na verdade foi totalmente por acaso. Mas só contei a verdade para aí 20 anos depois.

EF: Por falar em acasos, nasceste, não sei se era sexta-feira , mas nasceste num dia 13.

RSC: Sim, não sei se era sexta-feira, não faço ideia, mas acho que não.

EF: Será que existiu aí uma mãozinha do destino a empurrar-te para o humor negro?

RSC: Não sei, acho que não, porque eu não acredito em nada disso.

EF: Não acreditas no destino?

RSC: Não acredito em signos, horóscopo, em nada disso.

EF: Mas chegaste a dizer numa entrevista que todas as pessoas têm mais ou menos graça, mas só algumas é que se tornam humoristas.

RSC: Sim, todas entre aspas, claro.

EF: Sim, generalizando. Como é que achas que te tornaste humorista? Se não foi o destino, foi sorte? Talento?

RSC: Sorte um bocadinho. Muito trabalho. Acima de tudo, muito trabalho. O talento é importante, mas sem trabalho não vale de nada. E depois, sim, eu sempre gostei de me rir, de contar piadas e ser palhaço, mas foi aos 25 anos, 26, que decidi, não sei porquê, que era isto que queria, fazer rir as pessoas. Tirei uma série de workshops, comecei a fazer stand-up comedy e foram surgindo as oportunidades naturalmente.

“Nunca seria um bom jornalista, porque sou demasiado opinativo.”

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EF: Nunca pensaste ter perdido uma carreira brilhante no jornalismo?

RSC: Não, não, nunca seria um bom jornalista, porque sou demasiado opinativo. Tenho muita opinião sobre tudo e tenho opiniões, às vezes, um bocado drásticas, então seria um péssimo jornalista, de certeza absoluta.

EF: Achas que Portugal tem medo da verdade?

RSC: Toda a gente tem medo da verdade. Todos. Eu próprio tenho medo da verdade, mas eu também não digo verdades, eu digo piadas, algumas são verdade, outras não. Mas todos temos medo da verdade e todos nos sentimos incomodados. Portugal sente-se incomodado com alguém que diz coisas que são incómodas de ouvir. As minhas piadas mais quentes, entre aspas – é uma palavra estúpida, quente –, mas em relação a temas mais controversos muitas pessoas não querem ouvir, porque se sentem incomodadas e desafiadas, como a pedofilia ou a igreja ou outro tema qualquer. Ou o cancro. As pessoas não querem brincar com isso. Então, têm medo de alguém que brinca levemente.

EF: Qual é que foi a verdade mais inconveniente que já ouviste acerca do teu trabalho?

RSC: Não faço ideia. Verdade? A verdade nunca é inconveniente. Eu não ligo muito nem a elogios nem a críticas, mas a verdade é sempre conveniente.

EF: Foste o primeiro humorista a incomodar a ERC.

RSC: Não fui o primeiro a incomodar, fui o primeiro a ver um programa a ser censurado. A incomodar não diria, mas sim, fui o primeiro a quem proibiram mesmo de passar o programa outra vez, o especial de natal, neste caso.

EF: Como é que te sentiste?

RSC: Não me senti bem. As pessoas acham que fiquei muita contente. Não, não fiquei. Não fiquei, porque o canal, que no caso era a SIC Radical, onde estou a trabalhar outra vez, fez uma aposta nesse produto, e eu não gosto que as apostas que fazem em mim resultem em multas ou em não poderem passar depois um produto que foi pago. Não fiquei particularmente feliz. Nunca fico feliz quando um canal me paga para fazer um trabalho e depois esse trabalho não rende, percebes? Não pode ser passado e o investimento é defraudado, mais ainda quando tiveram de pagar uma multa de 20 mil euros, penso eu, ou seja, uma multa quase 10 vezes mais do que me pagaram por aquele programazinho de 20 minutos. Claro que não fiquei feliz, especialmente pelos motivos que foram ridículos na altura, mas pronto, já passou.

“Chama-se Very Typical, 10 episódios, é um programa sobre o pior de Portugal.”

EF: Por falar no regresso à SIC Radical, o que é que podemos esperar?

RSC: O melhor programa que eu já fiz na vida.

EF: O melhor programa?

RSC: Sem dúvida nenhuma. É mesmo, mesmo, o melhor programa que eu já fiz.

EF: Sem revelar muito.

RSC: Não, eu posso revelar. Chama-se Very Typical, 10 episódios, é um programa sobre o pior de Portugal. Cada episódio é um tema, imagina, as tradições, os homens, as mulheres, a noite, as férias. E eu faço o top10 desse tema, do 10 até ao 1.

EF: Regressando atrás no tempo, Lx Comedy Club: vai voltar?

RSC: Não, nunca mais vai voltar.

EF: Porquê?

RSC: Porque a vida é assim mesmo. A vida é feita de projetos. É como os Excesso. Os Excesso nunca mais vão voltar e as pessoas têm de reagir bem a isso. Nós somos os Excesso do humor, correu muita bem, foi um grande sucesso e agora continuamos todos amigos, mas seguimos as nossas carreiras.

EF: Esgotou o espetáculo, os dois dias.

RSC: Três. Este é o terceiro, agora vamos a caminho do quarto.

EF: Dia 14, no Teatro Sá da Bandeira.

RSC: No [TeatroSá da Bandeira, já vamos nos 700 e também vai esgotar.

“O meu recorde foi ali no São Jorge, setecentas, e agora vai ser no Sá da Bandeira. Setecentas já está, por isso acho que vamos às mil e vamos esgotar.”

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EF: Como é que te sentes?

RSC: Vai ser o melhor espetáculo. A melhor noite da minha vida, em termos profissionais, e digo a todas as pessoas, que já não são muitas – falta vender 200 e tal bilhetes –  que o Porto é fantástico, as pessoas sabem. Sou de Lisboa, mas adoro o Porto, estou sempre no Porto, sou um deles. E é sempre, as melhores noites é sempre no Porto. Vai ser a noite da minha vida em que vou atuar para mais pessoas. O meu recorde foi ali no [CinemaSão Jorge, setecentas, e agora vai ser no [TeatroSá da Bandeira. Setecentas já está, por isso acho que vamos às mil e vamos esgotar.

EF: Sobre o atraso de hoje, uma sala cheia, meia hora de atraso.

RSC: Yah, mas não foi culpa minha.

EF: Dava tempo para o Sassetti ressuscitar.

RSC: Quase, foi quase. Havia um espetáculo antes e eu soube hoje que demorava um bocado mais do que eu estava a pensar. Não foi culpa minha.

EF: Não, foi óptimo, humor negro logo à entrada. Mas como é subir ao palco?

RSC: É natural para mim, naturalíssimo.

EF: Não há medo nenhum?

RSC: Não, para mim não. Medos nenhuns. Porque é o que eu gosto mais de fazer, então não faria sentido nenhum estar nervoso. Estou muito ansioso para que chegue a hora, para fazer.

EF: E o improviso?

RSC: Há pouco improviso, há algum, tu viste. Mas há pouco. O início foi, claro. Mas também depende dos espetáculos. Quando é stand-up mais clássico. Este espetáculo não é um espetáculo do meu stand-up clássico. É um espetáculo de piadas e de momentos diferentes. Não há nervos nenhuns. Fazia todos os dias na boa. Eu sou um abençoado, porque há grandes humoristas que têm nervos e é natural ter. Não estou armado em campeão, simplesmente não acontece comigo, felizmente, e tenho sorte por isso. Mas também tem a ver com o que eu gosto mais de fazer na vida, não faria sentido estar nervoso. As pessoas nas suas profissões não ficam nervosas. Nas profissões normais, um advogado, um carpinteiro, um médico. Um médico não está nervoso antes da operação, é o trabalho dele. E eu também não fico nervoso antes de entrar em palco.

EF: Ansioso talvez?

RSC: Ansioso para que comece, sim. Quero muito entrar e, mal entro, estou bem.

EF: Fizeste ali um bocadinho de poesia no espetáculo? Gostas de poesia, tens algum poeta preferido?

RSC: Não, não tenho. Mas gosto. [Pausa] O meu poeta preferido é o Valete. O rapper Valete, sim. De resto, sim, pá, gosto muito. Já há muito tempo. Já tinha feito as 100 barras no final do meu segundo solo e agora decidi fazer. E gosto muito, mas só a brincar. Respeito muito os poetas. É mesmo só para brincar.

EF: Como é que é ter em palco a companhia de Paulo Almeida?

RSC: O Paulo é o maior. É o maior. O Paulo tem uma expressão física fortíssima, tem uma cara fortíssima. Todo ele é humor. É uma pessoa que não precisa de abrir a boca para ter piada. É muito forte na expressão facial. É muito bom contra em palco, que não é qualquer humorista que consegue. É preciso ser muito generoso para ser um bom contra. Já trabalhei com vários humoristas e já tive em palco com vários e não é fácil termos a generosidade de saber quando devemos deixar ir, ou dar menos ou dar mais, é difícil. E o Paulo é perfeito, a companhia perfeita para este espetáculo.

EF: Uma piada para terminar?

RSC: Já fiz tantas, não tenho nenhuma. Não tenho mais nenhuma. Tenho uma! Vem agora aí o verão e há pessoas que ficam bronzeadas, há outras que ficam brancas e há as que ficam com escaldões e a pele cor-de-rosa, o que é irónico, porque por um lado é um risco de apanhar cancro de pele e, por outro, é uma bonita homenagem à Princesa Nonô.

[risinhos]

RSC: Só tinha essa no bolso, ok?

EF: Obrigada.

RSC: Tá, posso ir lá acima?

Isto Era Para Ser Com o Sassetti volta a estar em palco no Teatro Sá da Bandeira, dia 14 de março, e no Teatro Villaret, dia 3 de abril. Mais informações na Ticketline.

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