Os Blarghinis invadiram o mundo. Agnes, uma bruxinha carismática, tem de salvar o seu gato, o Mr. Bica, e todas as criaturas fofinhas destes monstrinhos devoradores. Sejam bem-vindos ao universo do Smash It, o trunfo na manga da Bica Studios, considerada uma das startups portuguesas mais promissoras. Nuno Folhadela, Miguel Tomás, Filipe Augusto, André Santos e João Catarino são as mentes por detrás do jogo. Sabem que Portugal não é um mercado fácil mas não pensam em sair do país. Numa altura em que se preparam para lançar uma nova versão do Smash It, e dar o próximo passo na internacionalização, a “energetic team” (como se definem no seu website) recebeu o Espalha-Factos no seu escritório, no espaço da Startup Lisboa, e partilhou algumas novidades.
Espalha-Factos: Vocês são uma empresa muito recente, têm pouco mais de um ano, mas como é que se formou a equipa? Vocês já se conheciam antes?
Nuno Folhadela (Nuno F.): Já nos conhecíamos antes. Nós trabalhávamos numa outra empresa de jogos e, ao sentir que estávamos a dedicar-nos imensamente a uma série de projetos que depois não estavam a ser explorados com todo o seu potencial, decidimos aventurar-nos por nós próprios. Iniciámos uma ideia que foi para o Smash It. Nós na altura éramos quê, quatro? E saímos. Tudo começou primeiro em minha casa, num ‘quarto-sala-escritório’, mas foi só durante um mês porque candidatámo-nos à Startup Lisboa e em três meses, menos…
Miguel Tomás (Miguel T.): Menos. Foi rápido. Nós candidatámo-nos em julho e em setembro já estávamos cá.
EF: Que vantagens têm por estarem inseridos na Startup Lisboa?
Nuno F.: Dão-nos um espaço, um sítio para trabalhar. A renda é mínima, é simbólica digamos assim. E depois estás dentro de um universo todo ele aliado em empreendedorismo, tens acesso a uma série de contactos, de apoios para te moveres com mais alguma facilidade. Como é que eu hei de dizer… não é por estares aqui que a tua empresa vai ter mais sucesso, não sinto isso, mas que te moves com muito maior facilidade numa série de meios isso sim.
EF: Mas têm acesso a algum tipo de financiamento?
Nuno F.: Não.
EF: E desde o início da empresa até agora tiveram algum tipo de financiamento ou incentivo?
Nuno F.: Foi o nosso próprio financiamento.
EF: E por parte do Estado português?
Nuno F.: Tivemos o apoio do IEFP, de estágio, para quem quer o primeiro trabalho. Eles financiam 100% e nós pagamos em segurança social.
EF: Portanto, consideram que há pouco financiamento…
Nuno F.: Há pouco tempo tivemos uma conversa com o Ministro da Economia e ele pensava que eu estava a contar uma anedota quando disse: ‘nós trabalhamos numa empresa de jogos, como é que vai ser o apoio nessa área?’ É que na Finlândia têm apoios regionais, Espanha está a dar imensos apoios, em Inglaterra, se lançares uma empresa de jogos, durante o primeiro ano não pagas impostos. E pronto, em Portugal ainda está tudo assim um bocadinho…
EF: E apesar disso vocês pretendem continuar sediados em Portugal ou acham que estariam a ganhar mais dinheiro lá fora?
Nuno F.: O que dizemos é que, se tivéssemos aberto a empresa hoje, não estávamos cá. Teríamos ido para Singapura ou Tailândia, qualquer coisa assim. Singapura porque eles falam inglês e têm super acesso à tecnologia, e é muito mais barato em termos de vida. O que nós conseguimos viver cá num ano, lá se calhar conseguíamos viver em três anos.
EF: Consideram que há boas ideias em Portugal?
Nuno F.: Claro que sim. Em termos técnicos, criativos, isso está cá tudo. O problema é assim: há muito projeto a começar, não há é depois apoios financeiros para os manter, esse é que é o grande problema. Se fores ver, na maior parte das empresas de jogos ou de animação, diria até cinema, começa-se muitos projetos mas depois morrem porque não têm as bases para os suportar.
EF: Para quem não vos conhece como é que vocês gostam de se definir?
Nuno F.: Como uma equipa de videojogos altamente que está cá para fazer a diferença.
Miguel T.: Somos os maiores. [risos]
Nuno F.: Sim, sim, somos provavelmente a melhor empresa em Portugal. Já fomos considerados uma das 100 startups mais promissoras da Europa. E por um portal de referência que é o Develop. É o portal com maior destaque na Europa.
EF – No vosso jogo, o Smash It, nota-se que há uma grande preocupação com a narrativa. Como é que surgiu a história da bruxinha Agnes que tem de salvar o Mr. Bica dos Blarghinis ?
Nuno F.: Uma vez o Filipe chegou cá com uma caixinha de cogumelos. [risos] Não, estou a brincar. Nós queremos fazer grandes jogos para serem as marcas de amanhã, ou seja, tudo isto é uma estratégia. Não estamos a fazer jogos porque sim. Estamos a fazer jogos porque adoramos, crescemos com isto, é uma área que mexe imenso connosco. Mas queremos passar às pessoas que estão a jogar o Smash It a sensação que foi criada há 20 anos quando jogávamos Sonic ou o Super Mario. Daí algo que nós quisemos importar foi personagens fixes, carismáticas, envolventes. Se um dia quisermos que a Agnes saia de um videojogo para um filme de animação ou para uma banda desenhada, há material para que isso aconteça. A malta quando joga sente que tem de salvar o gato Bica. Em primeiro porque é um gatinho, e os gatinhos funcionam, mas há uma empatia e é por isso que queremos fazer todos os meses novas personagens, todas elas com uma história por trás.
EF: Vocês têm ideia de quantos downloads já conseguiram?
Nuno F.: Claro: 47 mil downloads. Em Portugal, Espanha e Nova Zelândia.
EF: Sim, vocês têm uma parceria a nível mundial com a Thumbstar…
Nuno F.: Sim, o nosso publisher. Basicamente o que eles fazem é como quando tens um livro, a editora distribui em todas as lojas.
EF – E o próximo passo?
Nuno F.: Mundo. Na próxima quinta-feira.
EF – No vosso Facebook estão a convidar as pessoas a virem à Bica Studios esta semana para que possam experimentar a nova versão do Smash It…
Nuno F.: A porta está sempre aberta. Mas sim, durante esta semana as pessoas podem vir cá se quiserem e experimentar o jogo.
Miguel T.: E darem feedback…
Nuno F.: Sim, uma coisa a que nós damos imenso valor é feedback. A razão porque nos lançámos neste tipo de mercado não é à toa. Portugal porque é fácil, conseguimos ter aqui alguma agilidade com os media. Espanha foi uma experiência para ver se as pessoas pagam o jogo. Não pagam. Nova Zelândia porque é um mercado muito semelhante aos Estados Unidos da América. Portanto, são tudo mercados estratégicos. E estamos a receber imenso feedback. Havia malta a queixar-se: “Ah, eu perco-me no mapa porque tem vertical e horizontal”. Okay, só horizontal. “Ah, eu gostava que houvesse mais personagens” Okay, novas personagens. Todo o feedback que nos dão, estamos a tentar melhorar.
EF – Portanto esse contacto direto com o público é muito importante para vocês?
Nuno F.: É tudo. Nós estamos a fazer jogos para pessoas.
EF – Foi nesta nova versão que vocês inseriram D. Sebastião. Como é que surgiu a ideia e como é que ele se insere nesta narrativa do Smash It?
EF – E para além do Smash It têm outros jogos em mente?
Nuno F.: Um segundo projeto que já está em desenvolvimento. Está ainda em fase protótipo. E este vai ser para plataformas mobile e, possivelmente, consolas.
EF – E também tem assim uma história por trás?
Nuno F.: Claro. Tudo tem de ter uma história envolvente e personagens carismáticas. O que nós fazemos, a ideia é que toque nas pessoas e que mais tarde possa saltar para outros meios. Nós queremos ser a próxima Disney, a próxima Nintendo.
EF – Que conselhos têm para aqueles, sejam mais novos, mais velhos, mas que têm uma boa ideia, só não sabem é por onde começar, têm medo das burocracias, acham que a ideia pode não resultar…?
Nuno F.: Nós começámos a realizar eventos mensais aqui na Startup, em que chamamos todas as pessoas que estão a desenvolver jogos ou que querem fazê-lo para estarem aqui presentes. Nós mudámos aqui um bocadinho… podemos ser convencidos? E somos um bocadinho [risos]. Nós mudámos aqui o panorama um bocado das coisas. Estava tudo de costas viradas, ninguém interagia uns com os outros e nós mudámos isso. Nós queremos unir a malta.
A Finlândia tem a força que tem – o Angry Birds por exemplo – porque eles são unidos e é isso que está a fazer falta. Nós precisamos de partilhar experiências porque se alguém já cometeu um erro, é bom que nos digam a nós para não os cometermos. Portanto o que eu digo, se alguém quiser fazer jogos, é: batam cá à porta. Foi o que nós fizemos, nós andámos a chatear imensa gente. E temos mentores: a Miniclip, que é uma empresa altamente em termos de desenvolvimento. Procurámos mentores porque precisamos de experiência. Nós consideramo-nos uma das empresas com mais experiência em Portugal no desenvolvimento de jogos mas, a comparar lá fora, somos uns meninos. Daí termos a parceria com a Thumbstar.
Conselhos? Apareçam nestes eventos, falem com pessoas que já lançaram jogos. Falem, mostrem-se, comuniquem e, se estiverem a fazer um jogo, metam imensas pessoas a jogar. A nossa ambição é lançar um jogo para chegar ao maior número possível de pessoas por isso o jogo é free, não queremos colocar barreiras à entrada. Portanto é assim, a malta deve é ter feedback das pessoas. Estamos cá é para isso. Para criar entretenimento.
A nova versão do Smash It está disponível em todo o mundo a partir de hoje (dia 16 de outubro) para iOS, Android e, em breve, para Windows Phone.
Fotografias: Andreia Martins