O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
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‘Sol de Inverno’: O final que todos esperavam

Chegou ao fim este domingo a novela Sol de Inverno, emitida na SIC ao longo do último ano. Ao todo, foram 282 episódios de exibição (que corresponderam a 316 de produção), escritos a pensar na realidade portuguesa e abordando temas muito próximos dos telespetadores.

Tal como é habitual, o guião sofreu momentos de altos e baixos, principalmente nas reviravoltas da história e na má construção de algumas personagens.

A novela acabou por ter uma das fases finais mais chatas das produções recentes da SIC e o último episódio de Sol de Inverno veio reforçar a ideia de que uma grande história, com duas personagens principais fortes, acabou por se perder devido ao número de episódios tão elevado.

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O PALACETE: O SÍTIO EM QUE TUDO ACONTECE

O final de Sol de Inverno pecou, sobretudo, pelos desfechos apressados ou inexistentes. Começando pelo núcleo de personagens habitualmente ligadas ao Palacete que, cada uma à sua maneira, acabaram por marcar a trama pelas suas particulares histórias. Mariano (Filipe Vargas), eterno apaixonado por literatura e por Beatriz (Fátima Belo); Fátima (Luciana Abreu), a excêntrica fã de Tony Carreira, filha do caricato Acácio (João Ricardo) e que só tem olhos para o ‘seu’ Carlos (Rui Unas); Lúcia (Diana Chaves), a mãe solteira que lutou pelos seus filhos e acabou ao lado de Tomás (Jorge Corrula) e Lé (Ana Padrão), a descontraída dona do Palacete. Todos eles mereciam um final original, adequado ao seu percurso na trama. Mas tal não aconteceu.

O autor optou por terminar o percurso de todos eles num casamento-surpresa e super forçado de Carlos e Fátima, onde os casais se reuniram e ao som de Ritmo do Amor de Emanuel (a sério?) ficaram juntos e felizes para sempre, numa espécie de “todos metidos no mesmo saco e está o final despachado”. Até a nível técnico este final soube a pouco. Gravada num dia visivelmente ventoso, a cena do casamento, passada em exteriores, acabou por ficar pobre visual e sonoramente, valendo apenas a inesperada chegada de uma banda filarmónica como substituta de Tony Carreira na animação da boda. Fora isso, pecou pelo fraco guião e pela falta de cuidado da produção.

Mas olhando para trás, é inegável que no primeiro terço da trama o núcleo do Palacete era um dos mais fortes e engraçados, na altura contando com outras personagens como Fábio (João Baptista) ou Célia (Cleia Almeida), que abandonaram a trama a meio, mas depois acabou por ser perder e andar um pouco à deriva entre tantas outras histórias mais dramáticas que ganharam mais importância. A introdução de Acácio, o pai de Fátima, não ajudou em nada e acabou por desgastar ainda mais este núcleo.

João Ricardo interpretou nesta novela aquela que deverá ser a pior personagem da sua carreira. Sendo a sua quarta novela consecutiva com um papel cómico (segue-se Mar Salgado com o mesmo registo!), o enorme talento do ator não foi o suficiente para tornar Acácio uma figura interessante e com algum conteúdo na história. Foi, antes, uma forma de ‘encher chouriços’ naqueles episódios mais parados da novela, chegando a ocupar mais de metade da duração dos mesmos. Todo o núcleo cómico que rodeou esta personagem acabou por cansar os telespetadores, resumindo-se ao casa-descasa de Mariano, Fátima e Carlos e às figuras ridículas de Acácio. O pior de toda a trama.

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A FAMÍLIA MENDES: DEPOIS DA TEMPESTADE…

A família Mendes acabou por ter um final adequado ao seu percurso ao longo da trama. Marcada sobretudo pelos dramas familiares, onde se destacam a morte de Nuno (Rui Neto), a separação e acidente de Ana (Andreia Dinis) e o divórcio de Rosa (Lia Gama) e Horácio (Alexandre Sousa).

A matriarca da família, uma mulher constantemente insatisfeita e que havia trocado Horácio por Adelino (João Perry), acaba por descobrir que sofre da Doença de Huntington. Um tema interessante mas que nada de novo trouxe à história, uma vez que foi introduzido apenas nos últimos episódios, não tendo sido devidamente explorado. Valeu pela ideia de que o amor na terceira idade pode e deve acontecer.

Já Ana, Manel (Rogério Samora) e Vasco (Francisco Monteiro) acabam unidos, voltando a formar a família feliz (que nunca o chegara a ser, nem mesmo no início da trama). Apesar de justa, esta reviravolta na relação do casal acabou também por surgir de uma forma demasiado óbvia e repentina na fase final. A separação de Ana e Manel dos seus ex-namorados não aconteceu da melhor forma e deixou no ar que tudo não passou de uma desculpa forçada para juntar os pais de Vasco no final.

BENEDITA E ANDREIA: O QUE FICOU POR DIZER

Benedita (Dânia Neto) termina como responsável da fábrica de sapatos, comprada pela cooperativa de trabalhadoras da mesma. Na sua última cena, vemo-la dedicada ao trabalho e aparentemente sozinha. Um desfecho sem sal, bem ao estilo do percurso desta personagem, uma das mais mal exploradas em toda a trama. Já a sua irmã Isabel (Ana Nave) faz as pazes com Salvador (Pedro Sousa), o seu primeiro filho e fica ao lado de Artur (Duarte Soares), ainda grávida.

Também Andreia (Cláudia Vieira), uma das personagens mais surpreendentes no início da história acabou por ser relegada para segundo plano e só voltou a ganhar destaque na novela nas últimas semanas. Dececionante foi a sua última aparição em Sol de Inverno, no antepenúltimo episódio, fugindo do seu ex-amante Morais (José Neto). O que aconteceu a Andreia? O que aconteceu a Morais? Não foi um final aberto, foi simplesmente um final que não aconteceu.

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OS FILHOS DE LAURA E SOFIA

Num episódio final com cerca de 50 minutos, os primeiros 35 foram dedicados sobretudo aos núcleos secundários, deixando as protagonistas da história para depois. E em pouco mais de 15 minutos muito ficou por explicar.

Na família Aragão, ficou a faltar uma cena final entre Simão (Ângelo Rodrigues) e Camila (que entretanto nunca mais surgiu na história, depois de se saber a decisão do juíz). Faltou também perceber de que forma terminou Teresa (Inês Castel-Branco). Afinal, uma personagem que passou a novela a sofrer – primeiro devido ao seu problema de saúde, depois pelos fracassos amorosos – chegou ao fim sem qualquer perspetiva ou explicação do seu futuro, nem profissional, nem pessoalmente. Uma das maiores desilusões deste episódio.

O mesmo aconteceu com Margarida (Joana Ribeiro), que terminou sem rumo certo, embora esta personagem tivesse tido direito a uma última despedida do seu pai. Já Salvador e Matilde (Victoria Guerra), afastados definitivamente das suas mães, terminaram juntos em Londres, com a filha, surgindo em algumas cenas chatas e sem grande ritmo para um último episódio.

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LAURA E SOFIA: O ENCONTRO FINAL

Na derradeira cena, vemos Sofia (Rita Blanco) prestes a completar o seu plano de vingança e apoderar-se da Quinta dos Aragão. A cena final entre as duas personagens, a mais aguardada ao longo de toda a novela, acaba por marcar este último episódio e prova o porquê de Sol de Inverno ter continuado a agarrar os telespetadores. E isso acontece pelas atrizes que a protagonizam e não pela construção da cena em si, que pouco tem de empolgante. Contudo, é interessante a opção de mostrar o final alternativo através de uma suposição de Laura (Maria João Luís).

Maria João Luís e Rita Blanco interpretaram de forma brilhante o último encontro entre Sofia e Laura, primeiro pautado pela tensão e pelo suposto suicídio de Laura e logo depois pelo momento em que optam pelas tréguas e deixam em aberto uma relação de amizade que provavelmente nunca terá futuro.

E depois? Laura será acusada da morte de Eduardo? Sofia irá realmente estar à sua espera? Nunca saberemos, pois a trama termina com um movimento de câmara que vai do carro da polícia que transporta Laura até à varanda da Quinta, onde se encontra Sofia, ciente de que a guerra entre si e Laura nunca acabará. Seria uma última cena interessante, se todas as questões que ficaram no ar tivessem sido respondidas. Assim, foi apenas uma forma ‘diferente’, mas descabida, de fechar o episódio.

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A NOVELA QUE CONQUISTOU OS PORTUGUESES

Estreada a 16 de setembro de 2013, esta aposta foi apelidada por muitos como a «novela que vai mudar a ficção» e, à partida, tinha tudo para marcar pela diferença, a começar pela dupla de protagonistas. A verdade é que a novela revelou-se um verdadeiro sucesso nos seus primeiros meses de exibição, manteve os resultados satisfatórios nos meses seguintes e veio continuar o bom trabalho da sua antecessora, Dancin’ Days, liderando contra as novelas da concorrência em quase toda a sua exibição.

A nível técnico, Sol de Inverno manteve-se coerente até ao fim. O primeiro episódio esteve ao nível de tantas outras estreias de tramas portuguesas: mais ação, mais cenas de exterior, um maior cuidado com a fotografia, a iluminação, os movimento de câmara e a montagem das cenas. Com o decorrer da trama, as cenas de interior ganharam destaque, mas o cuidado com a fotografia de cada cena nunca foi esquecido.

A rivalidade entre Laura (Maria João Luís) e Sofia (Rita Blanco) foi o mote para a trama central da novela escrita por Pedro Lopes. Se numa primeira fase da história, as disputas entre Sofia e Laura eram os pontos-chave do episódio, rapidamente se tornaram repetitivas e com pouca imaginação. O jogo de ataque entre as duas acabou por ser desviado em determinado momento da novela e só nas últimas semanas voltou a ser reaceso e levado ao extremo pelas duas.

No final de Sol de Inverno, fica no ar a sensação de que muita coisa ficou por dizer. Uma trama com tanto potencial acabou por se perder e aqueles episódios em que pouco ou nada aconteceu acabaram por prejudicar o seu sucesso. A novela poderia ter ido muito mais longe, poderia ter de facto sido um marco ainda maior na ficção nacional. Bastava explorar mais certas personagens, desenvolver melhor as tramas secundárias e diminuir o número de algumas cenas cómicas que pouca ou nenhuma piada tinham.

Mas o balanço geral é positivo. No meio de um elenco de luxo e de uma trama visualmente tão bem conseguida, a história muitas vezes acabou por ser o menos importante e Sol de Inverno despediu-se como uma das dez novelas mais vistas em Portugal desde 2000.

Nota geral: 6,5 /10

Nota do último episódio: 3,5/10

  1. Assisti a novela aqui no Brasil onde o último capítulo foi apresentado na semana passada. Os primeiros meses da novela foram excelentes (eu não perdia nenhum) tanto pelo enredo quanto pela alta qualidade dos atores, além da originalidade das cenas do Palacete. Mas nos dois últimos meses a novela tornou-se monótona, Que lástima! Será que o sucesso levou a muitos ganhos por conta dos patrocinadores e a novela foi por esse motivo “esticada” em prejuízo dos telespectadores. De toda forma, parabéns aos diretores e grandes atores portugueses !

  2. Depois de um ano inteiro ver uma história acabar sem fim é uma desilusão, e falta de respeito para todos os espectadores.

    Quando lemos um livro imaginamos o final, ali ficamos sem saber o que aconteceu a principal vilã, a probrezinha de sua filha que foi comandada pela mãe a novela inteira acabou triste como a noite. Para tristezas basta vermos o telejornal todo o dia… DESILUSÃO a única palavra.

  3. Eu adorei o acacio e a Fatima…o palacete foi o melhor do ultimo episodeo…mas de resto…um monte de perguntas ficam no ar.
    Episodeos assim..faz parecer que querem acabr logo com a novela ou fizeram a toa.

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