É a mais recente comédia francesa a chegar às nossas salas. Embora não tenha uma história muito cativante ou sequer bem construída, Os Putos garante muitos risos que escondem os principais problemas do filme.
Depois de pedir a sua namorada Lola (Mélanie Bernier) em casamento, o aspirante a músico Thomas (Max Boublil) tem agora que conhecer os seus sogros. Enquanto que a mãe da sua noiva é uma mulher alegre e aberta, o pai, Gilbert (Alain Chabat), não faz nada o dia todo e passa o tempo aborrecido com a própria vida. Mas quando se conhecem melhor, Thomas e Gilbert vão dar início a uma nova amizade que vai não só trazer de novo a alegria à vida do sogro, mas também pôr o jovem noivo a questionar se quer mesmo casar-se.
O filme marca a estreia de Anthony Marciano como realizador e argumentista e percebe-se desde início que o seu primeiro objetivo é fazer rir as pessoas. E é aí que este jovem cineasta francês se vai concentrar, deixando de parte a construção da sua narrativa. Qual vai ser o resultado? Bem, as gargalhadas estão mais que garantidas e não há dúvida de que o público sai mais alegre da sala, mas o enredo e as suas pequenas peripécias vão ser pobremente construídos (algumas cenas não trazem nada de novo ao enredo, apenas mais minutos para o realizador criar situações cómicas).
São muitos os plot holes, dando a ideia que ninguém quis dar grande importância a certo e determinado assunto, e a narrativa anda forçosamente para a frente pois Marciano despacha com indiferença vários momentos que deveriam ser mais trabalhados, pois tornaram-se confusos ou perdem o sentido. Ficam então várias perguntas no ar: Porque é que Gilbert do nada quis dar um novo rumo à vida? Porque é que a sua filha e a sua mulher não se preocuparam muito com a coisa? Porque é que Thomas está a dedicar praticamente todo o seu tempo com um velho em vez de estar com a noiva ou a apostar na sua música? Por vezes o filme parece um conjunto de sketches que por acaso têm as mesmas personagens.
Até dá ideia que Os Putos quer ser uma espécie de Amigos Improváveis (a ideia base é a mesma: um velho resmungão que ganha uma amigo mais jovem que lhe devolve a alegria de viver), mas tal torna-se impossível quando lhe falta a seriedade e a maturidade do sucesso de 2011 (que se pode observar na comercial e irritante banda sonora, por exemplo). No entanto, este filme acaba por ter um timing perfeito para estrear no nosso país. Estamos em pleno verão, em tempo de férias, e não se quer uma ida ao cinema que nos ponha perante uma história complexa mas sim uma que nos entretenha e nos divirta durante um bocadinho.
E é isso exatamente que temos em Os Putos. Sem nunca recorrer a um humor inteligente ou sofisticado, Marciano vai pondo o público a rir com piadas fáceis mas eficazes, desde as clássicas de cariz mais sexual às mais criativas e divertidamente absurdas, como a música que Thomas canta no início do filme e que nos fica na cabeça durante muito tempo. É claro que temos aquelas situações que são tiradas a papel químico de outras comédias e uma ou outra anedota que nos passa ao lado, quer pela utilização de trocadilhos franceses que em português não resultam quer pelo seu exagero desnecessário, mas pouco importa.
Há ainda um bom trabalho por parte do elenco. Alain Chabat e Max Boublil, no papel dos “putos”, estão à vontade um com o outro e têm momentos muito engraçados nas suas performances. Mas curiosamente a melhor química no ecrã acaba por ser entre os atores que dão vida ao jovem casal do filme. Boublil e Mélanie Bernier, quando juntos em cena, acabam por ser cativantes e fica-se até com vontade de vermos uma comédia romântica entre eles. Em papéis mais secundários, destaca-se Sandrine Kiberlain como a mãe de Lola, que não estando ao nível de trabalhos anteriores não deixa de chamar à atenção, e o caricato François Dunoyer como o vizinho simpático de Gilbert.
A primeira obra de Anthony Marciano não oferece personagens incríveis ou uma história inesquecível e uma semana depois de vermos o filme já ele se desvaneceu da memória. Mas durante a hora e meia em que estamos sentados na sala de cinema a ver Os Putos, não vão faltar risos e gargalhadas que nos fazem passar um bom momento. E não se pede mais durante a silly season.
6/10
Ficha Técnica
Título: Les gamins
Realizador: Anthony Marciano
Argumento: Anthony Marciano e Max Boublil
Elenco: Max Boublil, Alain Chabat, Sandrine Kiberlain, Mélanie Bernier, Arié Elmaleh, François Dunoyer
Género: Comédia
Duração: 97 minutos