A rubrica A Recordar, iniciada em 2012, está de volta ao Espalha-Factos. Vamos voltar a relembrar atores e atrizes que tenham marcado a sua época, mas que caíram em esquecimento ou não foram suficientemente reconhecidos. Percorreremos atores de diversas décadas, até à atualidade. Falaremos da sua vida, carreira, papéis mais icónicos e do legado que deixaram.
Hoje vamos falar de William H. Macy, um ator versátil que transforma qualquer papel numa performance incrível. No entanto, forma poucas as vezes que viu o seu trabalho reconhecido no mundo do cinema, e por isso merece ser recordado.
Nascido a 13 de março de 1950, conheceu a vida de ator cedo no secundário ao entrar em algumas produções de teatro e o interesse por esta área levou-o a abandonar um curso de medicina para seguir o seu sonho.
Macy conheceu o dramaturgo David Mamet nos tempos de universidade, e foi com ele que iniciou uma carreira profissional de ator, ao entrar em várias das suas peças de teatro. Com o início dos anos 80, começou a ter pequenos papéis no cinema, tendo feito a sua estreia no grande ecrã com Algures no Tempo. Embora tivesse mais sucesso no teatro, onde chegou mesmo a dirigir algumas peças, William H. Macy apostou numa carreira no cinema, e foi com o seu amigo Mamet que conseguiu o reconhecimento da crítica.
Em 1991, David Mamet realizou Brigada de Homicídios e convidou William H. Macy para um dos papéis secundários. O filme estreou no Festival de Cannes e, embora não tenha sido um sucesso junto do público, o desempenho do ator valeu-lhe elogios da crítica. Curiosamente, foi através da televisão que Macy começou a aproximar-se da fama, ao entrar nas duas primeiras temporadas da série Serviço de Urgência, entre 1994 e 1995. A sua personagem, Dr. David Morgenstern, não era das principais, mas foi uma pequena rampa de lançamento que o aproximou das grandes audiências.
A sua carreira só viria a ter um maior impulso em 1996. Por esta altura, Macy já havia voltado a trabalhar com David Mamet no filme Oleanna em 1994 e no ano seguinte entrou em vários filmes de pequeno orçamento e sem grande sucesso. Mas quando protagonizou o clássico Fargo, filme de culto dos irmãos Coen, passou a ser um dos atores mais valiosos do cinema. A sua interpretação da personagem Jerry Lundegaard valeu-lhe a primeira e até agora única nomeação para o Oscar de Melhor Ator, naquela que é para muitos a melhor performance da carreira do ator.
Os anos seguintes foram os anos de ouro do ator no cinema. Em 1997, William H. Macy fez parte do elenco de luxo do blockbuster Força Aérea 1, onde contracenou com grandes nomes como Harrison Ford, Gary Oldman e Glenn Close. No mesmo ano entrou em Manobras na Casa Branca, cujo argumento foi escrito por David Mamet, e em Jogos de Prazer, que marcou a primeira colaboração com o realizador Paul Thomas Anderson. Em nenhum dos filmes teve papéis principais, mas as suas pequenas performances foram muito bem recebidas. Macy apareceu novamente em Serviço de Urgência por apenas um episódio que lhe valeu uma nomeação para um Emmy, como Melhor Ator Convidado.
Até ao final do século XX, provou a sua versatilidade, ao entrar em 1999 na divertida comédia Happy, Texas e no forte filme dramático Magnolia. Deu também a voz a uma personagem num filme de animação, The Secret of NIMH 2: Timmy to the Rescue, que acabou por ser um enorme falhanço. William H. Macy acabou por fazer vários projetos na televisão a partir de 1999, com participações na série Sports Night e no filme A Slight Case of Murder, que lhe valeram novas nomeações nos Emmys.
E foi na televisão que William H. Macy foi tendo mais êxito desde 2000. No pequeno ecrã, realizou, escreveu e protagonizou vários filmes televisivos, muitos deles premiados, como os sucessos Door to Door (2002) e The Wool Cap (2004), que lhe valeram as primeiras nomeações nos Globos de Ouro. Em 2003, esteve também na corrida ao Globo de Ouro para Melhor Ator Secundário com o filme Nascido Para Ganhar, naquele que foi um dos seus últimos êxitos no cinema.
As suas colaborações com David Mamet continuaram a ser sinónimo de sucesso. State & Main (2000) e Spartan – O Rapto (2004), ambos realizados pelo seu amigo de universidade, foram bem recebidos pela crítica. Mas desde aí, a carreira do ator entrou numa espécie de espiral recessiva. Os filmes que protagonizou na última década, embora tenham atingido bons resultados na box office, não têm convencido a crítica. Porcos & Selvagens, Bobby e Golpe de Artistas (este último foi direto para DVD) são alguns dos trabalhos mais fracos, onde se juntam algumas animações menos conseguidas às quais deu voz, como A Lenda de Despereaux e História de uma Abelha.
É claro que William H. Macy não teve apenas fiascos nesta altura. Em 2003 foi a personagem principal no drama romântico Má Sorte e entrou na bem sucedida comédia negra Obrigado por Fumar já em 2005. Ainda recentemente, em 2012, foi uma das personagens da comédia dramática Seis Sessões e já este ano fez parte da versão americana de dois excelentes filmes de animação: As Asas do Vento e Ernest & Célestine. O mais recente projeto promete ser um dos seus mais interessantes. Chama-se Rudderless, estreou já com críticas favoráveis no Festival de Sundance e é realizado e interpretado por Macy.
Nos últimos anos, Macy tem andado nas luzes da ribalta graças a No Limite, a versão americana da série britânica Shameless, onde é protagonista desde 2011. A sua interpretação já lhe valeu uma nomeação para Melhor Ator numa Comédia nos Emmys deste ano e é ela que tem conquistado o público. A sua personagem, Frank Gallagher, é um falhado, à semelhança do que acontece com outras tantas interpretadas pelo ator, como Jerry Lundegaard em Fargo ou Donnie Smith em Magnolia. O próprio William H. Macy já admitiu gostar mais dar vida a personagens assim pois tem uma “aptidão especial para mostrar às pessoas o que vai na cabeça desses falhados que interpreto.“
Mas contrariamente às sua personagens, William H. Macy é um vencedor. Já provou que consegue entrar em todo o tipo de filmes, séries televisivas e até peças de teatro e não precisa de ser o protagonista principal para revelar o seu enorme talento. Nunca foi galardoado com Oscars nem com Globos de Ouro, mas a forma como encarna cada um dos seus papéis continua a apaixonar o público e pode afirmar-se sem sombra de dúvidas como um dos melhores atores da atualidade.