O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
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‘Game of Thrones’. You know nothing, Jon Snow

Se, para muitos fãs de Game of Thrones (A Guerra dos Tronos), os enredos associados às ocorrências na Muralha (The Wall) não tinham qualquer interesse, é bastante plausível assumir que, depois dos mais recentes cinquenta minutos da série, essa ideia acabou por mudar. Caso contrário, “you know nothing” (“vocês não sabem nada”).

Aviso: este artigo contém spoilers.

As aventuras de Jon Snow (Kit Harington) no seio da Night’s Watch (Patrulha da Noite) têm sido, indubitavelmente, das mais estagnadas de toda a série. A constante ameaça de um ataque dos Wildlings (Povo Livre) ou dos White Walkers (Outros) tem-se vindo a arrastar desde a primeira temporada, deixando grande parte dos fãs compreensivelmente exasperados. O próprio Jon não é uma personagem especialmente cativante, pelo menos à primeira vista – bem, talvez nem à segunda. Precisamente por isto, pode dizer-se que a opção de dedicar o presente episódio unicamente aos eventos da Muralha foi bastante arriscada, apesar de ousada. Contudo, tendo em conta o resultado final, o risco acabou, em última instância, por compensar. Definitivamente.

Este nono capítulo da quarta temporada da série criada por David Benioff e D. B. Weiss, intitulado The Watchers on the Wall, foi originalmente transmitido no domingo à noite, nos Estados Unidos da América, pela HBO; em Portugal, foi para o ar na terça-feira, no canal Syfy. Ainda não o viste? Trata disso e volta cá.

Analisando apenas os penúltimos episódios das quatro temporadas de Game of Thrones, é facílimo observar uma tendência: na primeira, vimos a morte de uma personagem central (Ned Stark); na segunda, assistimos a uma batalha de proporções épicas (Blackwater – Água Negra); na terceira, fomos brindados com a morte de mais personagens centrais, durante aquele que ficou conhecido como o Red Wedding (Casamento Vermelho); e agora, na quarta, voltámos a presenciar uma batalha de grande escala. Terá este padrão continuação?

Mas foquemo-nos apenas no mais recente dos nonos episódios e na extraordinária batalha que se desenrolou na Muralha e em Castle Black (Castelo Negro). O diretor do capítulo, Neil Marshall, pode estar orgulhoso: a nível técnico, ainda não se vê nada desta qualidade em televisão. As cenas de ação foram soberbas – e sempre variadas –, tendo existido um balanço perfeito entre os momentos de combate puro e os momentos mais calmos e emotivos – que foram vários.

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The biggest fire The North has ever seen.”

Passemos, agora, a uma análise mais detalhada de The Watchers on the Wall.

O episódio abriu com uma constrangedora conversa entre Jon e Sam (John Bradley), sobre as virtudes do amor e do sexo. Por esta altura, o jovem Tarly ainda estava convencido de que Gilly (Hannah Murray) tinha sido morta no ataque dos Wildlings a Mole’s Town (Vila Toupeira) e, como tal, na iminência do presumível fim da sua curta vida, quis a todo o custo compreender como é ter alguém. Pena que Jon não seja propriamente um poeta. Posteriormente, Sam voltou a abordar o mesmo tema, desta vez com o velho Aemon Targaryen (Peter Vaughan) que, aparentemente, e apesar da cegueira, ainda consegue visualizar mentalmente a sua paixão de juventude.

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Informações importantes a retirar: Ygritte é completamente ruiva e o velho Aemon chegou a fazer as suas marotices no passado.

Tarly viu-se incapaz de negar por muito tempo aquilo que sente por Gilly e, como consequência, a dicotomia existente entre o amor e o dever na vida de um homem da Night’s Watch voltou a ser tema de conversa. Mais tarde, quando Sam viu a sua Wildling favorita, de bebé nos braços, aos portões de Castle Black, tendo-a deixado entrar de imediato – ignorando as ordens de Alliser Thorne (Owen Teale) –, foi por demais evidente aquilo que é realmente importante para ele.

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Faltam apenas a vaca e o burro para o presépio estar completo.

Mas passemos à ação. A épica batalha que marcou o mais recente capítulo de Game of Thrones dividiu-se em duas frentes: no topo da Muralha, de onde foi possível assistir à investida dos cerca de 100.000 Wildlings – entre os quais dois gigantes e um mamute –, e em Castle Black, atacado a sul por um grupo mais pequeno, com Ygritte (Rose Leslie), Tormund (Kristofer Hivju) e Styr (Yuri Kolokolnikov) à cabeça. Quando o sinal foi dado – “o maior incêndio que o Norte (The North) já viu” –, o ataque dos Wildlings não tardou muito.

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Porque um cavalo é muito mainstream.

Porém, ainda houve tempo para um diálogo interessante entre Jon Snow e Alliser Thorne, durante o qual deu para perceber que o último, apesar do seu caráter desprezível, sabe o que é a liderança e o que a mesma implica. Isto ficou bem patente na seguinte fala: “Do you know what leadership means, Lord Snow? It means that the person in charge gets second-guessed by every clever little twat with a mouth. But if he starts second-guessing himself, that’s the end. For him, for the clever little twats, for everyone.” (“Sabes o que significa liderança, Lorde Snow? Significa que a pessoa no comando vai ser julgada e criticada por todo e qualquer espertinho com boca para falar. Mas se essa pessoa começar a duvidar de si própria, aí é o fim. Para ela, para os espertinhos, para todos.“).

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“Eu pedi um quarto com vista para o mar, não isto! Vai lá abaixo à receção, Snow!”

Entretanto, Samwell Tarly começava a sua metamorfose: primeiramente, levou Gilly para um dos armazéns do castelo para a proteger da batalha, reunindo finalmente a coragem necessária para a beijar – já depois de lhe ter prometido que nunca mais a abandonaria; e de seguida, demonstrou ainda mais bravura quando decidiu voltar para junto dos seus irmãos da Night’s Watch, conseguindo até ajudar Pyp (Josef Altin) a controlar o medo que estava a sentir, com palavras de incentivo. Finalmente um Sam com alguma confiança em si.

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Namorada e amigos: quem diria, Sam?

Quando Alliser Thorne decidiu abandonar o seu posto no topo da Muralha, optando antes por ir tentar travar a investida dos Wildlings que estavam a atacar pelo lado sul, colocou Janos Slynt (Dominic Carter) na liderança. O antigo Comandante da City Watch (Patrulha da Cidade) de King’s Landing (Porto Real) vacilou imediatamente, evidenciando desde logo a sua cobardia extrema. Felizmente, Grenn (Mark Stanley) teve a frieza necessária para conseguir fazer com que Slynt deixasse de ser um incómodo, levando-o a crer que era necessário no castelo. Com isto, Jon assumiu o comando, demonstrando desde logo vocação natural para a posição. Entretanto, Alliser continuava também a evidenciar as suas capacidades de liderança, oferecendo aos seus homens um discurso motivacional exemplar. Por sua vez, Janos decidiu refugiar-se no mesmo armazém onde se encontrava Gilly. Opções.

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O homem e o rato.

E eis que, de repente, o caos se instala em definitivo: Ygritte não tarda em demonstrar o quão temível é com um arco e flechas em sua posse, matando dezenas de homens impiedosamente e a uma velocidade incrível; Tormund e Styr desatam a trucidar todos os oponentes que lhes aparecem à frente, implacável e selvaticamente; Alliser é o único que consegue abrandar Tormund durante algum tempo, presenteando-nos com um duelo titânico, que terminou com o atual Comandante da Night’s Watch em retirada, gravemente ferido.

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“Toma lá mais esta! Ai, aleijaste-me!”

Por esta altura, Sam continuava a incentivar Pyp, munindo-o constantemente de setas para a besta que tinha em mãos. Depois de dezenas de tentativas, o jovem da Night’s Watch finalmente conseguiu acertar num dos invasores Wildlings. Contudo, o regozijo de Pyp não durou muito, tendo em conta o facto de o seu pescoço ter sido trespassado por mais uma das mortíferas setas de Ygritte.

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As ruivas são lixadas.

Depois disto, e vendo a situação a tornar-se cada vez mais complicada, Sam continuou a participar ativamente na batalha, decidindo ir chamar Jon ao topo da Muralha, pelo caminho matando um dos ferozes Thenn e encorajando Olly (Brenock O’Connor) – o miúdo que se juntou à Night’s Watch recentemente, cujo pai foi morto por Ygritte – a manter o seu posto e a proteger-se. A transformação de Sam neste episódio foi notável, para além de bem-vinda, com John Bradley a conseguir fazer transparecer a confiança e determinação que a sua personagem finalmente demonstrou possuir.

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“Eh pá, tanto barulho!”

Entretanto, no topo da Muralha, e com Jon na liderança, a vantagem estava do lado da Night’s Watch, apesar da grande diferença existente no número de homens. Isto porque a Muralha em si demonstrou ser uma defesa sem igual, praticamente inexpugnável, tornando simples impedir o avanço dos atacantes. Setas, pedras, óleo a ferver – tudo serviu para frustrar as hipóteses dos Wildlings de subir a Muralha. Mesmo com gigantes – munidos de arcos e flechas enormes –, as investidas dos homens de Mance Rayder foram sempre facilmente anuladas. A única exceção a esta regra assentou na tentativa bem-sucedida de um dos gigantes (Mag Mar Tun Doh Weg – Neil Fingleton) de entrar pelo maciço portão localizado na base da Muralha. Jon encarregou Grenn de ir lidar com o intruso e desceu, então, a Castle Black, deixando Eddison Tollett (Ben Crompton) no comando. Edd não desempenhou o papel durante muito tempo, visto que os Wildlings se retiraram logo após a utilização do último trunfo da Night’s Watch: uma foice gigante.

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 “Hora de varrer a Muralha!”

A cena de Grenn no túnel da Muralha, enunciando os votos da Night’s Watch para incentivar os homens que estavam consigo a manter as suas posições – apesar de terem um temível gigante a correr na sua direção – foi espetacular e emocionante. Depois de quatro temporadas na série, Mark Stanley merecia uma despedida memorável como esta.

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“Deveria ter adivinhado que não valia a pena vestir roupa interior lavada antes da batalha.”

Falemos agora dos últimos momentos do combate na base da Muralha, em Castle Black, durante os quais houve uma segunda rodada de caos: inicialmente, fomos brindados com uma cena fantástica, que nos mostrou um plano de 360º do campo de batalha – evidenciando, mais uma vez, uma preparação extraordinária por parte dos figurantes; de seguida, vimos o lobo gigante de Jon, Ghost (Fantasma), despedaçar a cara de um oponente numa questão de segundos; e ainda houve tempo para o confronto entre Snow e Styr, que terminou com o primeiro a pôr a honra de lado, cuspindo na cara do seu opositor, distraindo-o o suficiente para ter tempo de lhe amolgar irremediavelmente o crânio com um martelo.

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Se ainda fosse um martelo de São João… Bom apetite, Ghost.

Finalmente, não há como fugir ao momento mais trágico do episódio: o tão esperado reencontro de Jon Snow e Ygritte. Bastou um segundo de hesitação por parte da ‘rapariga beijada pelo fogo’ para que a mesma fosse mortalmente alvejada no coração, precisamente pelo jovem Olly, que assim vingou o assassínio do seu pai. Uma cena emotiva e comovente, com direito a slow-motion, que marcou definitivamente o fim de uma relação que nunca poderia ter resultado. Tal como disse Ygritte: “We should have stayed in the cave” (“Devíamos ter ficado na caverna“). Era a única maneira.

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Nem consigo brincar com a situação, neste caso.

No rescaldo do primeiro dia de batalha, Tormund acabou por ser capturado, Grenn conseguiu defender o túnel, matando o gigante mas perdendo a própria vida no processo, e Jon tomou a irrefletida decisão de ir ter com Mance Rayder, desarmado e desacompanhado. Será que é desta que vamos voltar a ver o Rei dos Wildlings?

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Notas Finais do Episódio:

Melhor cena – Morte de Ygritte, com Jon Snow a assistir

Melhor ator / atriz – John Bradley (Samwell Tarly)

Melhor fala – “Nothing makes the past a sweeter place to visit than the prospect of imminent death.” / “Nada torna o passado um lugar tão agradável de visitar como a perspetiva de morte iminente.” (Aemon Targaryen)

Momento de ‘comic relief‘ (alívio cómico) – (Pyp) “Sam, I think we are goig to die.” (Sam) “If you keep missing, we will.” / (Pyp) “Sam, acho que vamos morrer.” (Sam) “Se continuares a falhar, vamos.

Nota – 9.5/10

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Terminada a review, resta-nos esperar por um novo capítulo, que chega já no próximo domingo. Se tiverem curiosidade, vejam a preview do décimo e último episódio, divulgada pela HBO: