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NOS Primavera Sound, 7 de junho: O fim em beleza

O último dia do NOS Primavera Sound acabou por se revelar aquele que teve o melhor conjunto de concertos com Neutral Milk Hotel, John Grant, The National, Slint e Ty Segall a serem reis.

O perfeito pôr do sol: As preces dos cerca de 70 mil festivaleiros que passaram pelo Parque da Cidade do Porto surtiram efeito e as ameaças de chuva acabaram por não se concretizar. Ontem o sol pôs-se, até de forma brilhante, no Palco NOSLá os Neutral Milk Hotel deliciaram os presentes com as músicas de In The Aeroplane Over The Sea (1998). Foram o primeiro avanço para este festival e estiveram à altura da honra que lhe foi concedida, com um Jeff Magnum mais doce que as coisas doces, apesar do quase mau feitio com que várias vezes insistiu que não queria câmaras nem telemóveis apontados. A plêiade que se lhe juntou em palco, destaque para Julian Koster imparável e Scott Spillane, com as suas barbas notáveis, fabuloso nos sopros, deliciou a comunidade indie que ali se agrupou. Belíssimo fim de tarde.

A confirmação do dia: John Grant apareceu com um gorro enfiado e uma voz arrepiante, mais uma banda para o acompanhar nos temas dos seus dois discos a solo: Queen of Denmark (2010) e Pale Green Ghosts (2012). Quase bipolar apresenta temas eletrónicos dançáveis, como Black Belt, e temas de fazer chorar as pedras da calçada como Queen of Denmark e Where Dreams Come To Die, que nos enchem o coração. Cantautor de primeira linha (que letras, meu deus!) John Grant fala-nos de amor e de azulejos (a sua palavra portuguesa favorita) e nós, arrepiados, pedimos que venha depressa tocar numa sala fechada.

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Dilemas: O cartaz do NOS Primavera Sound é tão rico e variado que dentro do mesmo grupo de amigos podemos fazer percursos totalmente distintos entre os 4 palcos. Como se fazem as escolhas? Os The National são como aqueles chinelos confortáveis que já usámos várias vezes, mas que sabemos que já têm o jeito do nosso pé.

Charles Bradley, apesar de ser marca de qualidade garantida, é novo na nossa vida, apesar de sexagenário só recentemente foi descoberto pela Daptone Records. Pois bem, calcemos os chinelos usados. Já ouvimos aquelas músicas de The National ao vivo várias vezes, têm regressado ao nosso país frequentemente desde o concerto de fim de tarde em Paredes de Coura em 2005, mas ver Matt Berninger cantar os seus demónios, libertar-se dos seus fantasmas e ser carregado em ombros pelo público é sempre um privilégio. Também já o vimos com melhor voz. O som do palco também não ajuda, mas o jogo de luzes, projeções fantásticas que interligam imagens do palco e público com outras previamente realizadas disfarça isso tudo. Há ainda a dupla de sopros que tem acompanhado a digressão de Trouble Will Find Me e até a presença de St. Vincent em palco, tímida, com uma voz que mal se ouviu, a ajudar em Sorrow.

E faltam-nos sempre músicas que adoramos, mas ouvir Ada ao vivo foi impagável e o cheirinho dos sopros a Chicago de Sufjan Stevens, fazem deste um concerto diferente dos outros. Tudo termina uma vez mais ao som de Vanderlyle (Crybaby Geeks) entoada a capella com Matt mergulhado na multidão que o acarinha e lhe agradece por cantar sobre as nossas vidas. Nós, de coração cheio porque este calçado tem a forma do nosso pé.

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O concerto evocativo: Desde o seu começo em Barcelona que o Primavera Sound tem patrocinado regressos de bandas desaparecidas ou adormecidas. A edição deste ano – além dos Television e Neutral Milk Hotel – contou também com a presença dos norte-americanos Slint, um dos porta-estandarte do rock alternativo norte-americano do início dos anos noventa e que haveria de ajudar a estabelecer as fundações do movimento pós-rock.
Foi no ano de 1991 que lançaram Spiderland, disco que encabeçou o alinhamento do concerto de ontem. Possivelmente um registo desconhecido para muitos dos presentes, e com a “concorrência” de St. Vincent ali perto, o que é facto é que os que ficaram no Palco ATP assistiram a um belo pedaço de história, história essa sem a qual hoje possivelmente não existiriam uns Explosions In The Sky, uns Mogwai ou mesmo uns Isis.
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O concerto mais excitante: Ty Segall era um dos nomes mais aguardados pelas mentes mais famintas de rock contemporâneo e a verdade é que, mesmo com a inicial fraca qualidade do som e um ou outro “prego” da baterista, as expetativas não saíram defraudadas.

O seu rock desenfreado, aqui e ali com laivos de surf rock, ecoou pelo Parque da Cidade, tendo o jovem Ty Garret Segall completado nesse dia uns joviais 27 anos, pouca idade para quem já tem tantos discos editados (6 discos entre 2011 e 2013). Em jeito de celebração, houve um tema novo, Tall Man, Skinny Lady, e muito crowdsurf enquanto enchendo os pulmões contagiava a plateia com os seus slogans apregoando o amor entre as pessoas.

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Contas feitas, mais uma edição notável do NOS Primavera Sound, com excelente ambiente, muitos estrangeiros, 40 países diferentes, segundo a organização, compraram bilhete para estar no Parque da Cidade, brindes publicitários condizentes com a atmosfera do festival, um cartaz eclético e ótimos concertos. Para o ano há mais. Mas deixem as pessoas levarem a sua comida.