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NOS Primavera Sound, 6 de junho: A chuva não manda aqui

Foi debaixo da ameaça de chuva que o Parque da Cidade, no Porto, se preparou de impermeáveis e botas para receber alguns dos nomes grandes dos anos noventa como Slowdive, Pixies e Loop, mas também novas sonoridades com Pond, WarpaintTrentem​øller ou Darkside.
O concerto mais fofinho: A tão badalada chuva raramente apareceu e achámos que as músicas quentes e aconchegantes dos Midlake tiveram a sua quota parte de influência nesse agradável desfecho. Um concerto claramente em crescendo, com temas do bonito e algo psicadélico disco Antiphon em destaque, os Midlake conseguiram conquistar grande parte da audiência. Destaqueas belíssimas interpretações de The Gathering in Spring, Roscoe e The Old and The Young. O teclista casado com uma portuguesa, num português perfeito, aproveitou para elogiar o público e o vinho do Porto.
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A surpresa do dia: Os Pond, um conjunto de jovens australianos com meia dúzia de discos editados em meia dúzia de anos de formação, a praticar um rock psicadélico potente e espacial de tal forma contangiante que não conseguimos abandonar o Palco ATP para nos dirigirmos ao Palco Super Bock, onde os Slowdive davam, pelo que ouvimos dizer, um dos concertos do festival. Mas de nada nos arrependemos, porque os rapazes que este ano lançarão Man, It Feels Like Space Again pela Modularderam uma surpreendente festa em palco e fora dele. Na plateia, foi muito o crowdsurfing feito pelos fãs, entre eles elementos dos portugueses Capitão Fausto que reconhecem os seus pares.
O concerto que não devia ter acontecido: É certo que há temas dos Pixies aos quais ninguém consegue ficar indiferente – Debaser, Hey, Monkey Gone To Heaven, e tantos outros – mas a verdade é que o regresso de parte dos Pixies (lembremos que Kim Deal já não faz parte do coletivo) e o regresso aos discos com o fraquíssimo Indie Cindy, maculam a nossa ligação a uma banda cheia de passado que marcou indelevelmente as vidas de muitos presentes no festival. Num primeiro momento (Super Bock Super Rock 2004 e Paredes de Coura 2005) tudo soou perfeito e maravilhoso mas esta tentativa de dar segunda vida à banda de Black Francis soa demasiado forçada e pouco resultou ontem. A plateia, bastante composta,  nunca se mostrou totalmente rendida.
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​​O concerto “foi bom mas quero rever noutro espaço“: Trentem​øller, produtor e multinstrumentista dinamarquês apresentou o seu terceiro e último disco, Lost, a uma plateia composta, possivelmente algo surpreendida (pelo menos os menos atentos) pela mudança radical de atmosfera a seguir aos Pixies. Com um espetáculo visualmente denso, sombrio, e musicalmente energético, a transposição dos temas para o palco resulta numa interpretação mais orgânica do que os registos originais, pena é que não tenha trazido no bolso as vocalistas convidadas do referido disco, entre elas Sune Rose Wagner dos The Raveonettes ou Kazu Makino dos Blonde Redhead. Fica a vontade de o rever num espaço fechado.
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O melhor da noite: Com o desenho que adorna a capa do maravilhoso Rave Tapes, oitavo disco de originais dos escoceses Mogwai, prepara-se o Palco NOS para o último concerto da noite e aquele que pode muito bem ter sido um dos melhores da edição deste ano do festival. É certo que tínhamos memória, ainda fresca, da atuação arrepiante em Paredes de Coura há apenas dois anos e, no Palco Pitchfork, outro possível grande concerto estaria a acontecer com Darkside. Há uma ameaça de chuva que não se concretiza e muito frio, mas as explosões de luz e som que em breve iríamos assistir compensaram tudo. Debaixo de um jogo de luzes absolutamente fabuloso ao toque de guitarras pungentes, uma bateria quase dolorosa e temas catárticos, os Mogwai começaram por servir Hardcore Will Never Die But You Will (2011), passaram por Deesh ou Remurdered Auto do novo Rave Tapes, e na reta final brindaram-nas com a absolutamente fabulosa Mogwai Fear Satan de  Young Team (1997). Soberbos.
O NOS Primavera Sound encerra hoje com concertos de Neutral Milk Hotel, The National e Ty Segall, entre outros.

Fotografias de Gonçalo Loureiro