Este mês o Espalha-Factos apresenta-te a rubrica “Artistas Contemporâneos”. Desde o surrealismo à arte conceptual, passando pela arte multimédia e até pela land art, damos-te a conhecer artistas cujo trabalho te irá certamente fascinar.
Sendo uma ambientalista extremamente activa, Maya Lin tem-se focado repetidamente em preocupações ambientais, uma característica que transpõe para a sua arte. Ao observar cuidadosamente a paisagem sob o olhar atento de uma alma cosmopolita do século XXI, a sua curiosidade leva-a a captar cada detalhe através de uma abordagem que mistura o racional e o tecnológico com a beleza e o transcendente. A paisagem é, assim, o contexto e a base de inspiração primária na sua obra.
Sempre soube manter um subtil balanço entre arte e arquitectura ao longo da sua carreira, criando uma obra admirável que inclui instalações em grande escala, peças mais íntimas, trabalhos arquitectónicos e memoriais.
Para estudar e visualizar o mundo natural, Lin captura imagens micro e macro do planeta terra, utilizando aparelhos aéreos e de mapeamento por satélite e traduzindo a informação obtida em esculturas, desenhos e instalações ambientais. Os seus trabalhos abordam o modo como nos relacionamos com o meio ambiente, e apresentam-nos formas inovadoras de estabelecermos essa mesma ligação com o mundo que nos rodeia. A artista pretende assim captar a atenção do espectador e focá-la no meio ambiente, fazendo com que este preste mais atenção ao mundo natural. Uma visão actual proveniente de uma mente consciente.
Em trabalhos como Storm King Wavefield (Campo Ondulado Rei da Tempestade) e Where the Land Meets the Sea (Onde a Terra Encontra o Mar), Maya explorou intensamente a nossa relação com as paisagens: como as encaramos, de que modo somos influenciados por elas e, principalmente, como nos diluímos nas mesmas. Certas obras estão mesmo inculcadas no terreno, gerando uma ordem sistemática que abrange história, língua e tempo, e tornando difusas as linhas entre o espaço bidimensional e tridimensional.
Maya Lin é extremamente activa no que toca a causas sociais, sendo que os seus memoriais abordam muitos problemas críticos quer históricos como actuais. Este é o caso do Vietnam Veteran’s Memorial (Memorial dos Veteranos do Vietname), em Washington D.C., apresentado em baixo, ou o Civil Rights Memorial (Memorial dos Direitos Humanos) em Montgomery ou até mesmo The Women’s Table (A Mesa das Mulheres), localizada na Universidade de Yale.
Está neste momento a trabalhar no Confluence Project (Projecto Confluência), uma instalação que se estende ao longo de várias áreas, abrangendo todo o sistema do rio Columbia no noroeste do Pacífico, que entrelaça a história de Lewis e Clark (que realizaram a primeira expedição americana a atravessar o que é agora a parte ocidental dos Estados Unidos), com a história das tribos nativas americanas que habitam essas regiões. Com um olhar crítico em relação às mudanças ambientais que ocorreram rapidamente, o Confluence Project de Lin trouxe restauração ecológica significativa para seis parques estaduais e nacionais ao longo da Bacia do Rio Columbia. É um projecto em andamento com quatro dos seis locais concluídos (para mais informações clica aqui).
Já o seu memorial What is Missing? (O que falta?), que dá também nome à Fundação que Maya criou em 2003, pretende alertar para a presente crise relacionada com biodiversidade e ameaças ao habitat. Reinventando mais uma vez a própria noção de “monumento”, What is Missing? é outro exemplo de um trabalho que se encontra situado em vários locais, mais especificamente instituições cientificas, sob forma de esculturas e instalações sonoras e audiovisuais, para além de se encontrar online e em formato de livro.
O seu trabalho realizado em estúdio já foi exibido em múltiplos museus não só nos Estados Unidos como no resto do mundo. A exposição Systematic Landscape (Paisagens Sistemáticas) teve origem na Henry Art Gallery, em Seattle, e foi a primeira a traduzir a dimensão e a capacidade de imersão das suas instalações ao ar livre para o espaço interior de um museu. Em 2009, a exposição Three Ways of Looking at the Earth (Três Maneiras Olhar a Terra) foi exibida na The Pace Galley (antiga PaceWildenstein), em Nova Iorque. Em relação aos seus trabalhos arquitectónicos, estes encontram-se espalhados por todo o mundo, incluindo mesmo museus, pontes, ou bibliotecas. Recebeu ainda inúmeros prémios e condecorações como foi o caso do Presidential Design Award e do Mayor’s Award for Arts and Culture.
Maya Lin é uma artista com uma leveza tal que se consegue dissolver nos tempos ancestrais e incutir-lhes uma certa actualidade sem por isso danificar minimamente a sua pureza. Alguém que cria novos pontos de contacto entre Arte e Natureza, entre passado, presente e futuro. Uma visionária que acredita num destino mais luminoso e harmonioso entre o planeta terra e a humanidade mas que compreende o quão complicado é gerir essa relação. A sua obra é um canto suave que se espalha pelos campos, montanhas e oceanos e nos devolve a sensibilidade que um dia perdemos: a união que possuímos com todo um universo natural que devemos contemplar e preservar.
*Este artigo foi escrito, por opção da autora, segundo as normas do acordo ortográfico de 1945