O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
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6 bailados a ver pelo menos uma vez na vida

Hoje, Dia Mundial da Dança, o Espalha-Factos preparou-te uma lista com seis bailados que, para a equipa de dança, são de apreciação quase obrigatória. Muitos deles com versões disponibilizadas no youtube mostramos aos aficionados da dança (ou não) o que, para nós, tem de mais belo nesta arte de saber falar com o corpo.

 

La Sylphide

La Sylphide é considerado o bailado inaugural do período romântico com tutus acima do tornozelo, trabalho em pontas do início ao fim do espetáculo, muitos saltos e temáticas amorosas e fantásticas. Filippo Taglioni coreografou em 1832 este bailado pensando na sua filha como prima bailarina. Marie Taglioni interpretava o papel de Sylphide, uma fada do bosque delicada e inocente, que encantava qualquer um com a sua beleza.

 La Sylphide conta a história de James, um camponês escocês que no dia do seu casamento com Effie, conhece uma pequena Sylphide e fica perdido de amores por ela. Após abandonar a sua noiva, James tenta a toda a custa conquistar Sylphide, mas é impossível construir uma relação tendo em conta que ele é um mero mortal e ela um ser místico. Uma bruxa chamada Madge apercebe-se da paixão dos dois e oferece um lenço a James para que Sylphide se torne humana. Entretanto surge Effie que esqueceu James e se casou com outro jovem. James e Madge entram em luta e este acaba finalmente por morrer.

La Sylphide é um dos bailados com mais história e com maior significação que não pode deixar de ser visto pelo menos uma vez na vida.

 Lago dos Cisnes 

Lago dos Cisnes foi composto por Tchaikovsky, em 1876, em Paris, por  encomenda do Teatro Bolshoi. A 20 de fevereiro de 1877, pela mão criadora de Julius Reisinger, à obra musical de O Lago dos Cisnes aliou-se a dança com base na transformação da Mulher, em Cisne, numa estreia que ficou longe de alcançar o resultado desejado.

Em 1894, o príncipe Ivan Alexandrovich (diretor do Teatro Mariinsky ), em homenagem ao já falecido Tchaikovsky, criou uma nova versão de “O Lago dos Cisnes” a cargo coreográfico de Marius Petipa. Aí, o sucesso transbordou e a obra assumiu-se completa, ao fazer-se constituir por quatro principais atos que culminaram em palco em janeiro de 1895.

Numa abordagem direta das próprias características de um bailarino, a obra enfatiza as ideias de sacrifício, obstinação e busca obsessiva pela perfeição, com origem numa lenda alemã que conta a história de um intenso amor do Príncipe Siegfried por Odete que tinha sido, por um feiticeiro (Von Rothbart), transformada em Cisne.

O nó da intriga, a problematização da obra, ocupa-se por um papel duplo (bem e mal, bom e mau): Odília, filha do feiticeiro, ao assemelhar-se com Odete, toma o lugar desta última numa tentativa sedenta de ser alvo do amor do príncipe. Num feliz desenlace, a força do coração prevalece e Odete ganha lugar nos braços de Siegfried.

”O clássico dos clássicos” define na perfeição o lugar no pódio que até à contemporaneidade a obra consegue preservar. Permanentemente e por vários interpretado, o bailado do Lago dos Cisnes estará em exibição no mês que vem, no Teatro Camões, segundo coreografia de Fernando Duarte e corpo da CNB.

Quebra-Nozes

Um conto de natal de Ernst Theodor Amadeus Hoffmann, de 1881, deu origem a um bailado com música de Tchaikovsky e coreografia de Marius Petipa e Lev Ivanov, o Quebra-Nozes.

Clara, menina apaixonada pela fantasia e pela magia, é o ponto de partida para dar a conhecer aquele que é o elemento fulcral de toda a história: um quebra-nozes com aparência de soldadinho que se reconhece enquanto prenda de natal da menina. Aventuras e desventuras se sucedem e interpelam numa intensa relação entre Clara e o soldadinho quebra-nozes até que, junto à sua prenda, a menina adormece.

Naquele que se julga ser o sonho de Clara revela-se, numa primeira fase de um primeiro ato, a presença de um soldado de carne e osso na eminência de comandar e ordenar um pelotão de seus semelhantes. Num momento seguinte, o Quebra-Nozes é já um príncipe que se faz acompanhar por Clara até ao Reino das Neves. Pelo Caminho da Limonada, alcançam o Reino dos Doces numa alegre dança com pastéis. A visita a mundos paralelos recheados de tudo o que mais feliz faz qualquer criança vê, no entanto, um fim.

O sonho termina e a menina pouco tempo tem para se entristecer pela maravilha do sonho que a envolveu. Ao descobrir que, afinal, o príncipe existe, os predicados invertem-se e o sonho torna-se real. Uma história que penetrou nas sociedades ocidentais e que remete para uma multiplicidade de interpretações é agora recriado, no contexto do ciclo da Companhia Nacional de Bailado dedicado à poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen.

 

Sagração da Primavera

A Sagração da Primavera é considerado o primeiro bailado moderno que veio romper com os cânones tradicionais do ballet romântico. Vaslav Ninjinski foi o coreógrafo que juntamente com música de Stravinsky revolucionaram o mundo da arte.

A Sagração da Primavera é uma obra que se baseia num ritual pagão sagrado em que uma jovem virgem é sacrificada, como forma de agradecimento ao Deus da Primavera. A escolhida deve dançar até à morte com o objetivo de ganhar a benevolência deste Deus. É uma peça extremamente pesada e violenta, em que os movimentos descoordenados e frenéticos eram executados pelos bailarinos ao som nada normal de um fagote.

Quando este bailado estreou em 1913 pelos Ballet Russes houve uma autêntica revolução no público sendo necessária uma intervenção policial para acalmar os ânimos. Enquanto tudo isto acontecia, o espetáculo continuou: os bailarinos não pararam de dançar, nem os músicos de tocar. Para a jovem Maria Piltz  não foi uma situação fácil, uma vez que foi durante o seu solo final que a plateia mais se revoltou.

A Sagração da Primavera é uma das obras mais mediáticas do mundo da dança, havendo já um grande número de reintrepretações desta peça por grandes coreógrafos como Pina Bausch, Martha Graham ou Olga Roriz.

http://youtu.be/ewOBXph0hP4

Café Muller   

Considerada a mais íntima obra de Pina BauschCafé Müller (1978) remonta para um tempo e espaço de vivências da bailarina na sua infância, no seio do restaurante dos seus pais.

Numa Alemanha pós-guerra, a deambulação, a solidão, a superficialidade e a dispersão aliam-se a um cenário cinzento e escuro ocupado, à vez, por corpos deambulantes que se expressam numa disrupção, no rebentar de um nó que parece não ter esperança, não sentir resolução. Os corpos em hesitação aliados ao latente receio do reconhecimento assume-se o padrão de relação de toda a obra numa expressão espiritual e muito sensível.

Uma obra minimalista que no seu fosso e desgraça mais profunda se encontra com uma beleza e pureza de movimentos que a felicidade muitas vezes não permite mostrar. Um trabalho de permanente interação com o espaço realça uma proximidade e identificação com o real num movimento de transposição pessoal e muito íntima, numa extensão aos espetadores.

“Tudo se tornou rotina e já ninguém sabe porque está a usar certos movimentos. Tudo o que sobra é uma estranha espécie de vaidade que se afasta cada vez mais das pessoas. E eu acho que deveríamos estar cada vez mais perto do outro.”, explica Pina Bausch 

http://youtu.be/pEQGYs3d5Ys

 

Rosas danst Rosas

Rosas danst Rosas é uma peça da coreógrafa belga Anne Teresa de Keersmaeker. Keersmaeker criou esta peça para as quatro intérpretes da sua companhia chamada igualmente Rosas: Michèle Anne De Mey, Fumiyo Ikeda, Adriana Borriello e a própria Keersmaeker.

Rosas danst Rosas é considerada já um clássico da dança contemporânea onde a repetição, a exatidão dos movimentos e a expressividade são evidentes. Esta peça estreou originalmente a 6 de maio de 1983 em Bruxelas, mas entretanto já foi levada a vários palcos espalhados por todo o mundo. A música de Rosas danst Rosas, da autoria de Thierry De Mey e Peter Vermeersch, foi composta em paralelo com a coreografia. A peça é constituída por cinco partes, e tanto a dança como a música baseiam-se em princípios minimalistas e repetitivos.

Baseando-se em movimentos do quotidiano, este espetáculo tem como unidade o corpo que se comporta como um máquina. Primeiro estranha-se, mas à medida que a peça vai avançando deixamos de ver algo abstrato e aos poucos  é possível deter as pequenas narrativas emocionais e concretas

Este artigo foi redigido por Beatriz Vasconcelos Inês Galvão Teles