O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
Untitled

“Mexefest” à torriense com Samuel Úria e Capitão Fausto

Em Torres Vedras, onde muitas vezes faltam planos para um sábado à noite, viveu-se uma noite absolutamente invulgar. Em apenas dois espaços (o Teatro-Cine e o Espaço Transforma), os torrienses puderam ver e ouvir ao vivo Samuel Úria, Lionskin, The Zanibar Aliens e Capitão Fausto, quase como se de um mini-festival se tratasse.

Para quem nasceu e cresceu na cidade de Torres Vedras, deve haver poucas coisas mais estranhas do que cruzar-se com os elementos dos Capitão Fausto no centro histórico da cidade. Tal pôde acontecer a caminho do primeiro concerto da noite, o de Samuel Úria no Teatro-Cine.

Samuel Úria e a tragicomédia

Com apenas dez minutos de atraso relativamente à hora marcada, Samuel Úria e os seus músicos subiram ao palco de um Teatro-Cine pouco cheio para aquilo que o artista merecia. Foi com Essa Voz, tema de O grande medo do pequeno mundo, que o concerto começou com uma entrada a pés juntos, completamente capaz de aquecer os ânimos. Seguiu-se Rua da fonte nova, tema mais antigo e que nem fazia parte do alinhamento, mas que Samuel decidiu tocar porque na sua última passagem por Torres Vedras, há três anos, foi um tema que teve imensos problemas técnicos. Três anos depois, tudo correu pelo melhor.

Nas suas intervenções entre músicas, para apresentar os seus músicos ou as canções que se seguiam, Samuel esteve invariavelmente bem disposto, brindando-nos com algumas histórias engraçadas e repetindo diversas vezes: “vocês são muito boas pessoas”.

O concerto de Samuel Úria foi uma autêntica tragicomédia: tanto soltámos gargalhadas com as suas histórias, dançámos (ainda que limitados pelos lugares sentados) ao som do seu rock poderosíssimo em temas como Não arrastes o meu caixão, como, no minuto a seguir, estávamos de lágrima no canto do olho na canção “chorosa e lacrimosa” que é Lenço Enxuto ou na balada Barbarela e Barba Rala.

ce26e96cb78b11e38dee122bd5d7bc13_8

Sem a companhia do baterista Tiago Ramos, Jónatas Pires (que nos brindou com solos de guitarra absolutamente fascinantes), e dos primos Filipe (baixo) e Miguel Sousa (teclas), Samuel tocou Para ninguém, tema composto especialmente para a colectânea Voz e Guitarra 2, lançada este ano. De seguida, e aproveitando o facto do Festival da Canção estar nas bocas do mundo, tocou a canção “que o fez ganhar o festival da canção lá para 93/94, sob o pseudónimo Rosa Lobato Faria”. Trouxe-nos, então, o seu cover de Chamar a música, que também faz parte da mesma colectânea, e que soa tão estranho e tão bem, que quase parece mesmo um original de Úria.

“Esta é uma canção nova”, anunciou. Ainda acreditámos, até ouvir os primeiros acordes de Teimoso, um dos maiores clássicos do cantautor. Já não é a primeira vez que nos prega esta partida em concerto, mas caímos sempre.

O Diabo foi certamente um dos pontos altos do concerto. Com os primos Filipe e Miguel Sousa a tocarem baixo a quatro mãos no início, o breakdance e os movimentos de cintura de Samuel, e a batida poderosíssima, a casa foi abaixo quando nos aproximávamos a passos largos para o final do concerto (há que louvar Samuel por ter sido tão bom colega para os amigos Capitão Fausto, tendo acabado a horas para quem os quisesse ir ver, ou melhor, estávamos “proibidíssimos de não os ir ver” pelo tio Sam).

O encore do concerto foi, como já é habitual, constituído pela acústica Em caso de fogo, seguida do clássico Tigre dentes de sabre. Apesar de alguns elementos do público terem abandonado a sala, foram muitos os que ficaram a aplaudir insistentemente para que Samuel voltasse. O músico já não estava sequer à espera, “achava que já se tinham ido todos embora”, mas fez a vontade aos torrienses, tocando um tema infantil dos tempos em que era professor e ensinava O senhor feijão aos seus pequenos alunos. O refrão do tema infantil ficou-nos no ouvido durante a rápida ida do Teatro-Cine ao Espaço Transforma, para assistir ao resto dos concertos. A noite ainda estava a começar.

O lo-fi dos The Zanibar Aliens

Não tendo o dom da ubiquidade, não foi possível assistirmos ao concerto de Lionskin, a banda de rock electrónico que abriu a noite no Espaço Transforma e que foi a única com uma voz feminina a atuar nesta noite. O feedback dos amigos que lá estiveram, e que fomos encontrando nos bares do centro histórico, ou no largo dos Paços do Concelho, foi bastante positivo. Juntámo-nos a eles para assistir à segunda banda da noite, os Zanibar Aliens.

850e2100b7b311e38a9612370a065fae_8

A banda surpreendeu-nos pelo facto dos músicos serem muito jovens mas terem já uma presença em palco incrível. Com uma sonoridade visivelmente influenciada por grandes nomes como Led Zeppelin ou The White Stripes, os Zanibar Aliens atuaram para um Espaço Transforma já completamente cheio e a fazer lembrar uma sala de espetáculos digna de filmes como 24 hour party people, de Michael Winterbottom. Os Capitão Fausto não podiam ter escolhido melhor banda para os acompanhar em tournée.

Capitão Fausto – Chamem a polícia quando o país rebentar (ou quando a hora mudar)

A noite já ia longa quando os Capitão Fausto subiram ao palco. Tantas vezes pediram ao público para se chegar mais próximo do palco (pouco mais alto que o nível da plateia), que foi facílimo chegar à primeira fila de um Espaço Transforma onde tudo o que não se sentia era o frio que reinava na rua. Os vários problemas técnicos, nomeadamente com o microfone do vocalista Tomás Wallenstein, fizeram atrasar o início do concerto, mas o charme e a boa disposição dos músicos (que até samples de música electrónica passaram para entreter o público durante a espera) não demoveu os torrienses, que aguardavam pacientemente e com um sorriso nos lábios pelo início do concerto. Resolvidos os problemas, foi com Nunca faço nem metade que os Capitão Fausto começaram, com uma energia incrível. “Epá, os heróis da noite costumam ser as bandas, mas neste caso são vocês…que heróis, estarem aqui à espera!”, agradeceu Tomás pela paciência e boa onda do público de Torres, ansioso por ver os Capitão Fausto pela primeira vez na sua cidade.

Os temas do explosivo Pesar o Sol, o mais recente disco da banda, resultam extremamente bem ao vivo, ainda para mais num ambiente tão próximo como este. O público acompanhou, de cor, as letras das canções e dançou até não poder mais. “Preparem-se porque não prometemos não ir tocar aí para o meio não tarda”, foi a ameaça de crowdsurfing, não concretizada da banda. Nos singles Maneiras Más e Célebre Batalha do Formariz a festa aconteceu. “Cheguem-se mais à frente ainda!”, pediu várias vezes o baixista Domingos Coimbra. Acedemos ao pedido com muito gosto.

A cada música íamos ficando cada vez mais rendidos às versões que os Capitão Fausto apresentavam. Os riffs poderosíssimos, a linha de baixo viciante, os interlúdios em slowmotion. Ficávamos ali para sempre.

0838e772b7b411e393180e650af46df4_8

Infelizmente, e devido aos atrasos iniciais, a organização veio pedir aos músicos que apressassem o final do concerto. “É melhor despacharmo-nos senão ainda chamam a polícia!”, brincou Wallenstein. Todos estávamos esquecidos da mudança da hora (já eram duas e meia da manhã!). O final apressado deu-se ao som de Santa Ana, tema de Gazela, o diamante em bruto, que é o álbum de estreia da banda. Desenganando quem achava que só iam ser tocados temas de Pesar o Sol, Santa Ana juntou-se a Sobremesa e Supernova, temas de Gazela que também se fizeram ouvir no espetáculo.

Acabado o concerto, as setlists foram ‘roubadas’ numa fração de segundo, enquanto alguns reclamavam o fim antecipado do concerto e a falta de Teresa no alinhamento. Lá fora, houve ainda a oportunidade de trocar dois dedos de conversa com alguns membros da banda. Ouvia-se alguém comentar: “Epá, estes gajos são mesmo os Tame Impala portugueses”. Não podíamos concordar mais.

Esta foi uma noite absolutamente fora do normal dos serões torrienses. De louvar a programação do Teatro-Cine que tem evoluído a olhos vistos de ano para ano, e o projecto Transforma Jammin, que é das melhores iniciativas musicais que o concelho de Torres Vedras já viu. Esperam-se mais noites assim, que enquanto houver amigos e boa música, tudo está bem (mesmo que chamem a polícia).

  1. Estranho seria as pessoas conhecerem os elementos da banda…parece que são músicos consagradíssimos. Ainda bem que tiveram a ‘humildade’ de passear na cidade. Pena é que os lisboetas tenham a mania irritante que o mundo é Lisboa e o resto é província e outros (que não os lisboetas) são uns pacóvios. Estou perfeitamente à vontade para dizer isto porque sou da ‘província’ e vivo em Lisboa há 7 anos. Se investigassem a naturalidade de muitos músicos da praça (alguns com muitos anos de carreira) veriam que, por acaso, até são de Torres Vedras.
    Dito isto, nada tenho contra as bandas em causa, como é óbvio. Mas tenho tudo contra o snobismo de muita gente para com quem não nasceu na capital, as if…
    No que respeita aos erros de ortografia/gramática e afins, talvez tenha sido algum ‘pacóvio’ que não teve a sorte de estudar num qualquer colégio lisboeta.
    E, já agora, viva a liberdade de expressão e não se confunda uma crítica com o estar contra a autora do Espalhafactos. É na discussão que se desenvolvem os intelectos…

  2. “Quem têm os elementos da banda de estranho? não são pessoas normais?”
    A autora não disse que não eram normais, apenas quis transmitir que não deram ares de vedetas!
    Anormal é não saber fazer interrogativas, “Quem têm…?”! …Sinceramente! Há quem fale e escreva só para não estar calado e quieto!

    1. Peço deculpa então por não ter entendido o verdadeiro significado do que a autora quis transmitir.Só achei que não devia ser estranho uma vez que é uma cidade que tem bastantes musicos até, e costumam circular pelos bares do centro da cidade! E é mais comum encontrarem-se artistas nas ruas da cidade quando por lá passam em espectaculos do que julga!
      E ali aquele o “Quem têm…” está mal sim, tem toda a razão escapou-me, obrigado pelo correcção 😉
      Ass: Aquele-que-não-sabe-fazer-interrogativas 🙂

  3. “cruzar-se com os elementos dos Capitão Fausto no centro histórico da cidade” é “estranho” porque invulgar… Normalmente, as bandas chegam aos concertos, recolhem-se nos espaços destinados à sua preparação para atuar em palco. Samuel Úria e seus músicos, com a simplicidade e modéstia que lhes é própria, passeando-se pelo Centro Histórico de Torres Vedras não faz deles pessoas estranhas, mas que não é muito vulgar, não é!
    Parabéns pelo artigo Joana, mais uma vez, tenho imenso gosto em ler os teus e os de outros colaboradores do Espalha Factos. Obrigada

  4. “Para quem nasceu e cresceu na cidade de Torres Vedras, deve haver poucas coisas mais estranhas do que cruzar-se com os elementos dos Capitão Fausto no centro histórico da cidade”

    Porquê estranhar? Quem têm os elementos da banda de estranho? não são pessoas normais?

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.