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Crítica: Pesar o Sol, de Capitão Fausto

Foi em 2011 que Tomás Wallenstein (voz/guitarra), Manuel Palha (guitarra), Francisco Ferreira (teclas), Domingos Coimbra (baixo) e Salvador Seabra (bateria) decidiram tomar o país de assalto. A arma escolhida foi Gazela, magnífico disco de estreia, e as suas canções incendiárias, apoiadas num indie rock fresco, directo e cheio de psicadélicas referências sonoras a Jimi Hendrix ou Led Zeppelin, fizeram com que depressa estes cinco rapazes se afirmassem como jovens promessas da música nacional.

Pesar o Sol, lançado no passado dia 27 de Janeiro pela Sony Music Portugal, é o segundo tomo desta “investida” levada a cabo pelos Capitão Fausto. Porém, quem espera uma mera repetição da fórmula de Gazela arrisca-se a ficar desiludido; o segundo registo do quinteto lisboeta afirma-se como uma obra de pleno mérito, apostada em trilhar o seu próprio caminho sem se apoiar nos louros do passado.

Citando, de forma mais ou menos fidedigna, os próprios Capitão Fausto, em entrevista à Antena 3, Pesar o Sol pode ser visto como “a viagem de uma banda à procura de encontrar um rumo” para além da frontalidade de Gazela. E, de facto, durante os 49 minutos do disco, são várias as passagens sonoras que nos remetem para uma autêntica odisseia. Apesar de não ser propriamente um álbum “mansinho”, Pesar o Sol desacelera o ritmo e tenta explorar, de forma bem-sucedida, novos territórios dentro do psicadelismo.

A comparação com os Tame Impala poderá soar a blasfémia para os fãs mais aguerridos dos australianos mas, perdoem-me, foi a primeira coisa que me veio à cabeça ao ouvir este disco. Os riffs estão mais encorpados, os sintetizadores trazem-nos passagens verdadeiramente cósmicas e a secção rítmica merece, com as suas cavalgadas possantes e avassaladoras, uma ovação em pé. A par disto, os filtros na voz de Tomás (que surge aqui num registo mais displicente e arrastado) e a produção do registo no geral também sugerem alguma influência do revivalismo psicadélico que se vai ouvindo lá fora.

Pesar o Sol

Contudo, é de notar um certo desinvestimento na componente lírica deste Pesar o Sol, sobretudo quando comparamos as letras deste com as de Gazela. Apesar de não ser nada de demasiado grave, especialmente para alguém que, como eu, tende a valorizar muito mais o som do que a lírica, a verdade é que, aqui e ali, encontram-se algumas passagens que me deixaram algo aparvalhado. Isto, em conjunto com o abrandamento de ritmo que este disco impõe, algo insatisfatório para alguém que adorou a abordagem “pé no pedal” do antecessor, faz com que este Pesar o Sol cause alguns dissabores momentâneos, ainda que não estrague o conjunto muito bem conseguido da obra.

Quanto às melhores canções do pedaço, é impossível não destacar a onírica Nunca Faço Nem Metade, a pungente Litoral, a portentosa Célebre Batalha do Formariz, a bipolar Maneiras Más e a incrivelmente épica Lameira, peças que, para mim, elevam a qualidade das composições dos Capitão Fausto para um outro nível. Por outro lado, as desinspiradas Tui, Flores do Mal e Pesar o Sol acabam por ser, para mim, as “favas” deste Pesar o Sol.

Resumindo, ao segundo álbum os Capitão Fausto assinam um disco que simboliza uma recusa dos caminhos fáceis da repetição de fórmulas bem-sucedidas. Assumindo-se como uma viagem cósmica pelas rotas do revivalismo psicadélico, à luz do que tem sido feito pelos Tame Impala e por outros entusiastas dos 60’s e 70’s, Pesar o Sol é um avanço significativo na estética dos Capitão Fausto e, apesar de menos conciso e directo do que Gazela, consegue ainda assim deixar-nos atordoados com a força das suas canções. Passado o teste do difícil segundo LP, só nos resta aguardar com ansiedade pelo brilhante futuro destes rapazes.

Nota final: 8.0/10

*Este artigo foi escrito, por opção do autor, segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1945.

[Publicado simultaneamente no Nova em Folha, jornal da Associação de Estudantes da FCSH/Nova]