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CF-35

Capitão Fausto no Lux: faça-se-lhes continência.

A julgar pela fila infindável, dava a sensação que tinha saído o novo modelo da Playstation. Mas não. Era o novo álbum dos Capitão Fausto, Pesar o Sol. Numa noite de pôr qualquer um em sentido, a banda portuguesa atulhou o Lux Frágil, em Lisboa, e retribuiu o carinho do público com um concerto que ficará para a posteridade. 

Além de caloroso, este público foi paciente, já que o concerto se iniciou com mais de uma hora de atraso. Eles (os Capitão) sabiam que estavam a deixar os corações aos pulos, mas sabiam também que iam ser perdoados. A entrada em palco só o veio corroborar. Não tardou para que o psicadelismo de Pesar o Sol emanasse das cordas de Tomás Wallenstein e Manuel Palha, sempre com os dois pés no autêntico tapete que são as teclas de Francisco Ferreira. Gazela não faz parte do passado: o público tem (e teve, ontem em particular) bem presente a azáfama deste primeiro álbum.

Mas, nos dias que correm, estes Capitão já carregam mais uma ou duas divisas ao ombro. Para trás ficam as suas atuações acanhadas, onde ainda tinham medo de ser, onde se limitavam a respeitar o alinhamento e soltar “obrigados” no fim de cada música. Ontem não foi assim. Ontem tivemos um “General Fausto”, com a chefia rebelde e acervejada de Wallenstein. Nunca Faço Nem Metade foi só um cheirinho das Maneiras Más que estavam para vir. Foi o vocalista quem deu o “mau” exemplo e saltou à confiança para o colo da multidão. E como os maus exemplos são sempre os mais fáceis de imitar, foi uma questão de tempo até ver alguns fãs a aventurarem-se em crowd-surfing’s. Da parte de Tomás Wallenstein, não seria o último.

Foi impressionante ver a forma como este “General Fausto” exerceu a autoridade sobre os seus soldados: “Cheguem-se mais à frente ainda!”, foi a ordem constante do ilustre Domingos Coimbra. A correria de Gazela fez-se sentir, especialmente, com Febre e Sobremesa, obrigando os fotógrafos de serviço a fazer uma pausa no trabalho, tal não era o alvoroço. Sentido de uma forma diferente, Pesar o Sol teve uma degustação mais lenta, mas com igual entrega. Tui e Flores do Mal são o arquétipo do novo disco, ambas com uma alta dosagem de rendilhados. Destaque ainda para Maneiras Más, com pormenores arrojados do baixo de Domingos. Dos hábito antigos, os Capitão Fausto preservam, em Pesar o Sol, o quebrantamento rítmico (gradual ou repentino) e os momentos de explosão com intermitências de melancolia. Com uma série de arranjos que não constam dos dois álbuns, protagonizaram aquilo a que se pode chamar uma atuação “not-by-the-book”.

O concerto terminou como termina Pesar o Sol: oito minutos arrepiantes de Lameira. Eles tiveram, de facto, o seu conjunto de maneiras más. Nós chegámos a boas conclusões. Não há nada que corrigir. Está perfeito assim.

Vê aqui a galeria do concerto:

 

 

Fotografias de Débora Lino