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Perfil Fotográfico: Sally Mann

Este mês o Espalha-Factos vai homenagear alguns fotógrafos que marcaram o mundo com estilos fotográficos bem vincados. Desde a sexualidade, à morte e ao uso do preto e branco, esta rúbrica semanal, intitulada “Perfil Fotográfico”, vai dar-te a conhecer um pouco mais sobre a vida de quem esteve por detrás destas fotografias.

Sally Mann é uma das mais aclamadas fotógrafas americanas.  Actualmente com 62 anos, Sally nasceu em Lexington, estado de Virginia, no ano de 1951. Frequentou a escola Putney, onde estudou fotografia. Contudo, afirma que o único motivo para esta escolha foi a oportunidade de estar sozinha com o namorado na câmara escura.

O seu verdadeiro interesse pelo mundo da fotografia surgiu por influência do pai. Este possuía uma câmara 5×7 e incentivou Sally a utilizá-la, tornando-se esta na primeira das câmaras de grande formato que ainda hoje a acompanham. Nascia assim a paixão que tomaria conta da vida de Sally por completo.

De facto, esta apaixonou-se pelas técnicas fotográficas antigas, fotografando a preto e branco e tendo utilizado durante imenso tempo uma câmara de fole 8×10. Explorou ainda inúmeros métodos de impressão, nomeadamente a impressão em papel de platina (platinotipia) ou a brometo de prata. Em meados dos anos 90 começou a utilizar o processo de colódio húmido. Serve-se também de lentes danificadas, o que faz com que as suas fotografias sejam marcadas por riscos, vazamentos de luz e mudanças no foco, tudo características inerentes à fotografia do século XIX.

Sally é mais conhecida pelos retratos íntimos da sua família, nomeadamente do marido e dos três filhos (Jessie, Emmett e Virginia), para além das suas imagens da paisagem sul-americana. Poderá talvez afirmar-se que a criatividade de Sally tem a sua génese na rotina. A sua filosofia sempre foi fotografar o espaço comum do seu dia-a-dia, nutrindo, contudo, um imenso respeito por aqueles que viajam mundo fora rumo à inspiração artística. Fotografa melhor o que lhe é próximo, revelando que, consequentemente, nunca seria capaz de fazer boa arte se não fotografasse aquilo que ama.

Larry Mann, marido de Sally, afirma que esta teve uma câmara na mão praticamente desde que se conheceram. Quando questionado acerca de ser constantemente fotografado pela mulher, este diz ser apenas uma questão de hábito. Segundo o mesmo, Sally vê o mundo unicamente através das lentes de uma câmara. Só assim consegue realmente estabelecer uma ligação profunda com aquilo que a rodeia.

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Foi em 1992 que Sally ganhou reconhecimento a nível internacional, com a série complexa e enigmática de fotografias dos seus três filhos, Immediate Family. Já a sua série de fotografias What Remains explora a morte e a decadência, temas recorrentes na sua obra, tendo mesmo sido alvo de um documentário nomeado para um Emmy em 2007. Esta foi a segunda vez que Sally foi sujeito central de um filme, sendo que a primeira data de 1994, com Blood Ties, nomeado para um Óscar da Academia

Contudo, a nudez das crianças causou alguma polémica. O The Wall Street Journal chegou a censurar fotografias de Sally, nomeadamente uma em que Virginia, com 4 anos de idade, apareceu com os olhos, peito e genitais cobertos por barras pretas. Até mesmo o Artforum, a revista mais radical do universo artístico nova-iorquino, se recusou a publicar uma fotografia em que Jessie aparece nua.

Em relação às imagens em que as crianças surgem com olhos negros ou narizes ensanguentados, alguns críticos chamaram à atenção para os limites existentes no que pode ou não ser considerado “arte”. Suscitou-se ainda a hipótese da exposição das crianças atrair atenções erradas, apelando-se assim ao perigo da pedofilia e colocando em causa o facto de Sally ter ou não desempenhado correctamente o seu papel de mãe.

Apesar da controvérsia, o sucesso de Sally Mann é inquestionável. Esta já foi detentora do “National Endowment for the Arts fellowship”, tendo sido eleita a “Melhor Fotógrafa da América” pela revista Time em 2001.  O seu enorme sucesso é ainda visível na presença constante da sua obra no Metropolitan Museum of Art, no San Francisco Museum of Modern Art e no Whitney Museum of American Art, entre muitos outros. Uma artista extremamente influente que continua a forçar as barreiras de ferro da arte contemporânea.

*Este artigo foi escrito, por opção da autora, segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1945