Estamos em época de listas mas também na época das playlists de Natal. O Espalha Factos convidou alguns artistas e jornalistas musicais da nossa praça para escolherem três temas para nos ajudar a entrar no espírito, acompanhar na viagem até à terra ou facilitar a digestão do bacalhau.
As escolhas dos jornalistas
André Gomes (Bodyspace, Blitz)
-
Frank Sinatra, The Christmas Waltz – Porque a voz do Sinatra personifica – e representa – o Natal como nenhum outro cantor.
-
She & Him, Baby, It’s Cold Outside – Porque a fofidão dos She & Him amplia a beleza do Natal – e porque, bem, tem a Zooey Deschanel.
- Isaac Hayes, The Mistletoe and Me – Porque o Natal também pode – e deve – ser uma coisa sexy.
Inês Meneses (Radar) Aconteceu-me gostar mais do Natal em adulta, e cada vez gosto mais. Na minha colecção de discos estão as viciantes colectâneas “Cocktails da Ultra Lounge” que são temáticas e eu tenho pelo menos 3 de Natal. São canções antigas cheias de charme, vozes que têm vida, sem efeitos, nem camadas. Neste caso só campaínhas e quase que apetece soprar nas janelas o nosso bafo, ainda que não haja neve lá fora. Deixo 3 canções que cá em casa já ouvimos em repeat.
-
Bing Crosby, Frosty the Snowman
-
Julie London, I’ve Got My Love to Keep me Warm
-
Peggy Lee, White Christmas
João Bonifácio (Público)
-
Low, Just Like Christmas – Tem a piada de ser uma falsa canção de Natal. Como a letra diz, começou a nevar e parecia Natal, e eu sempre a ouvi fora do Natal e associo aquelas percussões ao Natal.
-
Galaxie 500, Listen, the Snow is Falling – Lembra-me o natal por duas razões, indiretas: o nosso imaginário de Natal está ligado à ideia de neve, vindo o Pai Natal de onde vem, pelo que quando a ouço cantar ‘listen, the snow is falling’ penso no Natal. Além disso, aquele sentimento de peito cheio com que a canção nos deixa também me recorda o afago natalício.
-
Wham!, Last Christmas – Qualquer pessoa nascida naquela época percebe.
Lia Pereira (Blitz)
-
The National, So Far Around The Bend – A canção mais impossivelmente ternurenta da rapaziada do Ohio via Brooklyn.
-
Fleet Foxes, White Winter Hymnal – Barbas, doçura e a promessa da neve com que não nos cansamos de sonhar.
-
Pure Bathing Culture, Seven 2 One- Do álbum Moon Tides, deste ano, a voz vaporosa de Sarah Versprille ao serviço de uma melodia infalível – com sininhos.
As escolhas dos artistas
Afonso Simões (Gala Drop, Filho Único)
- Alvin and the Chipmunks, Christmas Song – Há uma certa melancolia associada ao Natal na qual eu não me revejo e a primeira escolha que me veio à cabeça, que é simultaneamente a musica de Natal mais feliz que conheço, foi esta.
- The Velvet Underground, Beginning To See The Light – Gostava de relembrar aquela que foi para mim a perda mais significativa de um músico desde que me lembro, que foi o senhor Lou Reed. Fica aqui uma das minhas musicas preferidas dele (com os Velvet Underground). Devia haver um Natal separado só para o senhor.
- Curtis Mayfield & The Impressions, Keep on Pushing – Uma música do disco que ouvi mais obsessivamente este ano, que foi uma colectânea com todas as músicas dos Impressions com o Curtis Mayfield, e que tem que ver com transcendência (pessoal e espiritual).
Diogo Alves Pinto (Gobi Bear) Nunca tive um espírito natalício muito afiado. Mais do que uma lista de músicas que associo ao Natal, trata-se de uma lista de músicas que associo/gosto mais de ouvir ao frio:
- The Tallest Man on Earth, The Blizzard’s Never Seen The Desert Sands
- The Evpatoria Report, Acheron
- Eels, Guest List
Hélio Morais (Paus, Linda Martini)
-
Mariah Carey, All I Want for Christmas is You – Melhor que um Carrey disfarçado de uma coisa verde e assustadora e vestido de Pai Natal, só uma Carey no flirt com um Pai Natal puxado por cães assustadores disfarçados de bonzinhos.
- B Fachada, Dia de Natal – B Fachada a dizer “Que se lixe o Pai Natal” na RTP e com o João Baião a bater o pezinho. Clássico para a vida. Nota: não batam palmas se não conseguem manter o ritmo, liguem antes para o número dos donativos que aparece em rodapé.
- The Ramones, Merry Christmas (I Don’t Want To Fight Tonight) – Nunca percebi o fascínio pelas reuniões de família no Natal. Invariavelmente, para grande parte das famílias, acabam em discussão. Não deixa de ser interessante ver os Ramones a caricaturarem isso mesmo, mas ainda assim a beneficiarem daquilo que criticam.
Filipe Damil Vicente (Plane Ticket)
- The Walkmen, Christmas Party – A canção da parafernália ilustra a aleatoriedade que me é familiar na quadra: pouco ou nada planeado, tudo em cima da hora, barrigada de coscorões, risota na cozinha, o cão estrategicamente ao lado de quem lhe dá mais pão, Home Alone em loop no ecrã da televisão e a miudagem à luta com o papel de embrulho. Se houvesse uma hashtag para esta canção seria #bebammaisvinhotinto
- Ryuichi Sakamoto, Merry Christmas Mr Lawrence – A versão em trio: piano, violino, violoncelo. Em vez de matar pinheiros ou comprar árvores de plástico, ouve esta canção uma vez por ano e no caso de agravamento ou persistência dos sintomas de consumismo, consulta uma instituição de benefeciência onde possas fazer voluntariado.
- Sufjan Stevens, Come On! Let’s Boogey to the Elf Dance! – Imagina que os maquinistas não estão em greve. Imagina que tens cinco minutos para apanhar um comboio que sai de Torres Vedras com destino a Paço de Arcos. Imagina uma espectacular paragem-que-faz-todo-o-sentido em Moscavide. Toda a tua gente sorri e as gargalhadas que enchem as carruagens ecoam pela linha fora.
Henrique Toscano, Joana Corker, Ricardo Jerónimo (Birds Are Indie)
-
Gruff Rhys, Slashed Wrists This Christmas – Um feliz bacalhau com grão para todos! (Henrique)
-
Belle and Sebastian, Fox in the Snow – Que melhor prenda de Natal (de 2000 ou 2001?) se pode receber senão um pack de vinis de 7 e 12 polegadas da discografia dos Belle and Sebastian? Obrigada mano! (Joana)
-
The Velvet Undergound, We’re Gonna Have a Real Good Time Together – Há uns anos passei o Natal na cama. Não a dormir, infelizmente, mas doente. De surpresa trouxeram-me a casa este disco de outtakes Another View (que começa com esta música). E ali fiquei eu, a ouvi-lo, ainda deitado, mas menos doente. (Ricardo)