O túnel de Alcântara, em Lisboa, já começa a ter um ar mais convidativo. A Associação Portuguesa de Arte Urbana (Apaurb) iniciou em agosto uma iniciativa que visa mudar a imagem da famosa passagem subterrânea, pintando desenhos de paisagens, monumentos e edifícios mais emblemáticos da cidade. A intervenção conta já com mais de 400 voluntários.
Nas paredes do túnel, onde antes se via sujidade e gatafunhos incompreensíveis, pode ver-se agora imagens da Ponte 25 de Abril, do Aqueduto das Águas Livres, do Museu do Oriente, do Castelo de S. Jorge, da Torre de Belém e até mesmo referências aos murais revolucionários do pós-25 de Abril.
O projeto conta também com o apoio da Câmara Municipal, que é a entidade responsável pelo espaço. Desde o começo da iniciativa, já 10.400 euros foram gastos em tinta, e 4500 em tinta de spray. Quanto à mão-de-obra, é totalmente voluntária, e apesar de o projeto ter iniciado com a ajuda de estudantes que ali passavam parte do verão, gente de outras nacionalidades acabaram por se juntar também.
Sara Malta foi uma das muitas voluntárias desta iniciativa. Antiga estudante de design de interiores na Escola Superior de Artes Decorativas, mostra-se satisfeita com a iniciativa, e afirma que “já estava na altura” de o túnel começar a ter uma nova imagem. Bruno Silva foi um dos primeiros inscritos no projeto, que achou “interessante” e procurou ajudar, embora mantendo uma posição pessimista por acreditar que vão continuar a surgir rabiscos, apesar dos desenhos.
Octávio Pinho, graffiter e impulsionador do projeto, não mostra preocupação, alegando que sempre que surge um rabisco nos desenhos, podem sempre pintar por cima e esperar que os demais graffiters percebam a mensagem: poderão escrever tags (nomes inscritos na parede), mas de forma a ficarem integradas nos desenhos.
A Câmara de Lisboa assumiu a gestão do espaço em 2005, e agradece a intervenção da Apaurb. Também a autarquia já contribuiu com uma melhor iluminação e resolvendo os problemas do escoamento de águas pluviais, de forma a evitar futuras infiltrações. O próximo passo será melhorar as acessibilidades, trocando uma das escadas rolantes por uma rampa de 60 metros para poderem circular bicicletas, cadeiras de rodas e até mesmo veículos municipais que asseguram a higiene urbana. De forma a aceder à plataforma da estação, a Refer afirma que vai instalar elevadores, embora não tenha especificado uma data.
João de Sá Machado, coordenador Unidade de Intervenção Territorial Ocidental, apesar de não adiantar uma data para o início do projeto da Câmara, revela vários pormenores. A autarquia pretende mandar instalar um café com esplanada e mesmo um palco para espetáculos. Ao lado haverá também um posto de apoio da PSP com acesso às imagens captadas pelas câmaras de vigilância já instaladas no espaço, assim como sanitários públicos. Sá Machado pretende que o túnel se torne num local de paragem para turistas.
Entretanto, o projeto da Apaurb está quase concluído. O objetivo é transformar um espaço sujo numa galeria aberta, com graffiti de artistas nacionais e estrangeiros. Octávio Pinho adianta já que o projeto “já entra em três roteiros”, sendo que os pilares centrais vão sendo alterados e renovados ao longo dos tempos.