Na sexta-feira, na Caixa Económica Operária, os russos Motorama e os portugueses First Breath After Coma aqueceram a fria noite lisboeta com concertos soberbos.
Numa organização d’A Comissão, a 11.ª edição de Another Night at The Box trouxe o projeto indie mais aclamado das terras de Putin, que a cada acorde invoca o ambiente de Manchester e os Joy Division. A culpa é, em boa parte, do tom algo sinistro do vocalista Vladislav Parshin, que tem também muitos tiques de Ian Curtis.
A ele juntam-se a fria e delicada Irene Parsina no baixo, o exímio Maxim Polivanov na guitarra, Alexander Norets nos teclados preciosos e Roman Belenkiy na bateria certeira. São eles que compõem o quinteto que saiu da Rússia e se deu a conhecer na cena musical alternativa com um nome inspirado no filme de 1990 que tem Drew Barrymore como protagonista.
Os temas de Motorama, dos vários singles e EPs e dos longa-duração Alps e Calendar (editados pela Talitres Records) são também eles cinematográficos. Invocam paisagens densas, natureza em estado puro, emoções fortes e inspiram à imaginação quando fechamos os olhos e sentimos a música.
Assim foi na noite de sexta-feira. O quinteto russo mostrou como a new wave e o post-punk fazem parte da sua cartilha. Há temas mais dançáveis como Lantern, logo a abrir, outros mais descontraídos como em Young River com Vlad sentado no palco.
Há também guitarras melódicas, como em Two Stones, que por vezes se descontrolam em riffs esgalhados e danças quase perigosas do frontman (que chega a pisar os seus próprios óculos num momento maior de excitação). Num dos grandes momentos da noite, com Alps, já com uma fã ajoelhada aos pés da banda, em cima do palco, o público ficou em êxtase e com a certeza de uma noite muito bem passada.
Depois desta noite de despedida do outono (as temperaturas já são invernosas) ficamos com uma certeza: os nossos ouvidos agradecem sons que vêm de sítios do globo para os quais não estamos acostumados a olhar.
Fotos gentilmente cedidas por Virgílio Santos