O primeiro dia da ModaLisboa é, como sempre, um dia para se rever amigos e colegas que já não se via há algum tempo. É também um dia de expectativas e entusiasmo que marca os dois dias seguintes, dando o mote para aquilo que se irá ver ao longo da Semana da Moda de Lisboa. A Marta F. Cardoso esteve presente no primeiro dia do evento e desvenda-te as coleções apresentadas.
A abrir esta 41ª edição da ModaLisboa, estiveram os designers da plataforma Sangue Novo, um espaço recuperado de edições passadas que já não era realizado há 8 anos. Da nossa parte, podemos dizer que foi com um grande agrado que vimos esta plataforma surgir novamente no contexto deste evento. Consideramos que é de extrema importância dar um espaço aos jovens criadores onde possam apresentar o seu trabalho perante um público alargado, informado e atento às últimas novidades ao nível do design de moda.
O ambiente revelou-se agradável, numa tarde amena onde a Lua era já visível. E se o astro se apresentava em quarto crescente, assim também os designers presentes no Sangue Novo se apresentariam.
Joaquim Correia foi o primeiro a apresentar a sua colecção. Inspirada num processo de auto-análise e de introspecção, “Dissertação do Eu”, surge-nos como um estudo do ser-humano e das várias fases que este atravessa ao longo da sua vida, o que inclui os sonhos, desejos e vontades, assim como os conflitos e dilemas internos.
O designer apresentou uma colecção inteiramente de vestuário feminino, marcada pelo uso de tons nude e pelo recurso a materiais como látex, pele sintética, gesso e tarlatana. Tanto a opção por cores neutras, como a escolha de materiais remeteu-nos para a ideia de alusão à pele humana, que nasce virgem e crua, sendo nela marcadas memórias e histórias ao longo da construção do Ser.
Seguidamente, Filipa Gomes apresentou a colecção “UNI”, baseada nos seus tempos de Faculdade, daí provavelmente a escolha do nome. A designer frequentou a Universidade da Beira Interior – UBI – na Covilhã, local de onde retirou inspiração para a criação desta colecção. Inspirada na Serra da Estrela, Filipa procurou retratar de forma abstracta as cores e as faunas existentes nesse local tão português.
Sofia Macedo, 20|25, Catarina Ferreira, Renata Bernardo, Claúdia Mendes e, o já referido, Joaquim Correia apresentaram coleções unicamente femininas. Já Catarina Oliveira apresentou uma colecção inteiramente desenhada para homem, enquanto a marca HIBU., à semelhança de Filipa Gomes, apresentou propostas para o sexo feminino e masculino, colocando ambos em confronto quase de forma andrógina.
Destacam-se as transparências e os prints utilizados pela designer, assim como os plissados, as parkas e a escolha das cores. O verde menta destacou-se entre tons mais escuros e a utilização do plástico fez desta colecção uma colecção irreverente e dicotómica, onde se misturaram tecidos robustos com outros mais frágeis e cores apagadas com cores mais vibrantes.
Outra das colecções exclusivamente feminina foi a colecção “Baboon – O Primeiro Homem”, apresentada por Renata Bernardo. A designer optou por apresentar a mesma colecção de final de mestrado, anteriormente vista no evento DEMO 2013. A colecção de Renata Bernardo explora bastante os volumes, texturas e o trabalho com as malhas.
A fechar o vestuário feminino, surge o nome de Cláudia Mendes que nos trouxe a colecção “Careca Cabeluda”, a junção de duas personagens distintas que tanto se complementam como se diferenciam. A base de inspiração para esta colecção foram ilustrações e streetwear, daí os fantásticos prints propostos pela designer.
Num jogo de volumes, tecidos tecnológicos e dicotomias entre o desportivo e urbano, preto e branco e círculo vsquadrado, Cláudia Mendes conseguiu arrepiar-nos. A música escolhida poderá ter ajudado, visto ter acompanhado o desfilar das peças na perfeição.
Fugindo por momentos até ao vestuário masculino, falemos da designer Catarina Oliveira que, com a colecção“Anamorfose”, nos mostrou que a escolha de uma boa paleta de cores pode, muitas vezes, fazer a diferença.
Dando-nos uma sensação de sportswear, a designer contrapôs tons de cinzento com um amarelo limão, fazendo com que o mesmo ganhasse destaque, criando, desta forma, interesse visual. Catarina deixa, assim, bem claro que o vestuário masculino não precisa de ser aborrecido. As suas sugestões passaram por peças dinâmicas e jovens, expressando uma atitude muito própria e moderna.
HIBU., como referido anteriormente, entrou num campo perigoso, a androginia. Isto verificou-se pela opção de execução de vestuário tanto para homem, como para mulher, e pela escolha dos próprios manequins.
“Les Artists” foi uma colecção marcada pelos neutros, nude e brancos, com assimetrias subtis e formas interessantes. Os acessórios escolhidos foram brincos cheios de cor, que se destacaram de forma óbvia de entre as peças. Apontamos ainda a leveza e fluidez desta colecção, principalmente presente num jumpsuit. Jovem e chamativa,“Les Artists” revelou-se uma lufada de ar fresco.
Olga Noronha foi a designer que nos apresentou a colecção mais out of the box, recorrendo a manequins femininos e masculinos, sendo, contudo, o principal foco não o vestuário, mas sim peças de joalharia inspiradas em handicaps.
A designer mostrou-nos algo diferente, que se enquadra no género de performance. Olga marcou pela diferença, diferença essa que se fez sentir nas pessoas que estavam a assistir à sua apresentação. A cara e reacção de alguns dos presentes foi impagável.
Não sabemos se foi propositado, mas havia alguns acabamentos a nível têxtil um pouco duvidosos. A base de vestuário foi sempre igual, visto o grande destaque serem as peças de joalharia, não fosse o nome da colecção“Jóias Medicamente Prescritas”.
Em breve serão publicadas as críticas acerca dos restantes desfiles do primeiro dia da ModaLisboa Ever.Now.
Fotografias por Catarina Alves