A aldeia de Santa Cruz recebeu, nos dias 23 e 24 de agosto, a primeira edição do Santa Summer Sounds, um festival cujo objetivo é apostar na música nacional e ao mesmo tempo resolver a falta de eventos musicais, no verão, no concelho de Torres Vedras.
Organizado pelas associações de estudantes das escolas secundárias da região em parceria com a Câmara Municipal de Torres Vedras, o Santa Summer Sounds contou com um cartaz ecléctico, conjugando grandes nomes e novos talentos da música portuguesa, numa data escolhida criteriosamente para não coincidir com nenhum outro festival de música do país.
Na noite que antecedeu o primeiro dia de festival, Santa Cruz recebeu a Welcome Party do festival, com uma programação diversificada pelos bares da aldeia, bem como as atuações de Dillaz e de Mr.Marley&Zacky Man na discoteca Faraó.
O primeiro dia de Santa Summer Sounds arrancou com o rock progressivo e instrumental dos Capitão Galvão, ainda com o recinto extremamente despido de público, como continuou durante a atuação dos Plane Ticket, banda torreense que veio apresentar o seu novíssimo album, Currents. Com o seu indie rock/new wave, os Plane Ticket não se deixaram afectar pela pouca audiência, dando um belíssimo concerto. Apesar da sua sonoridade original, é impossível não notar influências de Interpol ou The National. O concerto fechou com o tema In to the ground, tal como acaba Currents.
Já sem luz natural e com o recinto ligeiramente mais povoado, foi a vez dos The Bourbons fazerem ecoar o seu poderoso rock por todo o recinto. The Bourbons fizeram-nos dançar ao som de temas como Lady Queen ou Red Lips Black Widow e deixaram-nos Money Honey no ouvido.
Se até aqui poderíamos estar desanimados, não pela qualidade musical mas pela fraca afluência de público e pelo vento e humidade característicos da zona Oeste que se faziam sentir no recinto, a noite aqueceu exponencialmente com o aproximar do concerto dos Linda Martini, espetáculo que recebe certamente o título de concerto mais intenso do festival. O número de pessoas no recinto aumentou a olhos vistos e os Linda Martini entraram a pés juntos com o tema Elevador. Com os seus vários sucessos, tais como Mulher a dias, Belarmino, 100 metros cereia ou Juventude Sónica, a banda levou o público ao rubro, com as grades da frente do palco a abanarem, o chão a tremer e as letras a serem cantadas de cor.
Parecíamos putos e, de facto, não tínhamos aulas amanhã. Naquele que foi o último concerto dos Linda Martini antes de irem de férias, Cláudia Guerreiro (baixista) dedicou todo o espetáculo a Santa Cruz, “terra à qual não vinha para aí desde 89”. Houve ainda tempo para “uma das novas” do álbum Turbo Lento, com lançamento previsto para 30 de setembro, bem como o mais recente single Ratos, tema que resulta extremamente bem ao vivo.
A primeira noite acabou em grande, com mais público old-school no recinto para receber os não menos old-school Peste&Sida. Os veteranos do punk-rock português brindaram-nos com os seus clássicos Sol da Caparica, Paulinha, Gingão, mas também com temas mais recentes, como Já Foste, do álbum Não há crise (2011). Apesar dos seus 27 anos de carreira, os Peste&Sida mostraram, em Santa Cruz, estar mais-que-em forma e com ânimo para continuar a rockar por muitos mais anos.
Se no primeiro dia de festival o rock foi o fio condutor entre as várias bandas, no segundo dia o tema foi o reggae. Com uma adesão superior à do primeiro dia e um público mais ativo, o segundo e último dia de festival contou com Puntzkapuntz, Strugglaz e Arsha, mas foram os Kussondulola, com a sua boa vibração, que abanaram o recinto com o seu sucesso Pim pam pum, entre outros êxitos. O festival terminou com o reggae rouco e interventivo de Bezegol, naquele que foi considerado pelo público o melhor concerto da noite.
Apesar de se tratar de um projecto embrionário e ainda com algumas arestas por limar no que toca à logística do evento, o Santa Summer Sounds teve um arranque bastante positivo. É de louvar a preocupação com as datas e o local do festival (junto ao parque de campismo e perto da praia), bem como os preços low cost do bilhetes e a pontualidade dos concertos. Todos estes pontos positivos fazem com que este festival tenha potencial para continuar por muitas mais edições e, quem sabe, passar a fazer parte do leque dos principais festivais de verão do país. Despedimo-nos com um “até para o ano!“.
Fotografias por Bárbara Botelho Correia
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