O último dia do Vodafone Paredes de Coura foi de obediência ao repto lançado pela organização: Partilha amor. Os Palma Violets acenderam no anfiteatro de Coura o rastilho do barril que Justice haveriam de rebentar.
Já sabemos que quando as coisas têm um prazo são vividas com maior entrega. Por isso, ontem durante a tarde, nas margens do Taboão, o convívio foi ainda mais rijo que nas anteriores e durante a noite os festejos ainda mais duradouros, terminando a festa quando já amanhecia.
Ao fim da tarde, já os portuenses :papercutz tocavam no Palco Vodafone FM quando os barcelenses Black Bombaim invadiram o palco principal com as descargas de decibéis que os caraterizam. Uma viagem bonita ao pôr-do-sol pelos sons exploratórios dos autores de Saturdays & Space Travels.

Uma breve passagem pela tenda permite-nos ouvir uns deliciosos Ducktails, felizes e entregues ao pouco mas fiel público que procurava ouvir algumas das novas músicas do disco The Flower Lane, editado já este ano. À tarde, tinham tocado no Monte de S. Silvestre, no âmbito das Vodafone Music Sessions.

Rapidamente nos dirigimos para o palco principal, onde o endiabrado Chilli Jesson, vozes e guitarra dos Palma Violets, acabava de entrar de rompante e já instigava a plateia sem um único acorde tocado. E assim foi o concerto todo: no palco a energia frenética e a dinâmica perfeita entre os outros membros da banda; nas primeiras filas saltos, mosh e crowdsurf. Com o aclamado 180, único registo de originais, os ingleses meteram-se nas bocas do mundo, mas ao vivo as músicas tornam-se ainda mais poderosas. Vibrante.

Corremos para o palco secundário onde Matthew Houck, mentor de Phosphorescent, tentava afinar a guitarra emprestada pelos Ducktails, porque a sua tinha sido perdida no aeroporto. A ele se juntaram mais quatro músicos (teclados e percussão) para tocarem, durante brevíssimos e felizes 40 minutos, os temas do seu sexto e mais recente álbum (e para nós o melhor do corrente ano), Muchacho. De uma beleza quase atroz, músicas como Terror in the Canyons ou Song for Zula revelam ao vivo uma melancolia quase obscura que convida mesmo à partilha do amor. Belíssimo.

Mudar o chip não foi fácil. Das melodias quase tristes de Phosphorescent passámos para a alegria contagiante dos Calexico, que já tinham um bem composto anfiteatro rendido aos seus ritmos mariachi. Com uma composta secção de cordas e metais e o “toque de Midas” dos sopros, passaram por temas do mais recente disco, Algiers, mas também pelo aclamado Feast of Wire (2003), metendo pelo meio pequenos trechos de músicas que apreciam, como por exemplo Love Will Tear Us Apart dos Joy Division ou Clandestino de Manu Chao. Foi bonito.

Estávamos, pois, prontos para o amor. Os – e sobretudo as – fãs dos escoceses Belle & Sebastian foram-se chegando à frente do palco e trocando impressões sobre “aquele concerto no Coliseu de Lisboa” há 7 anos. É verdade que desde então a banda de Glasgow não nos visitou – como notou o simpático Stuart Murdoch – e que Belle and Sebastian Write About Love (2010) passou um pouco despercebido, mas aquilo que nos ligava à banda ainda se mantém.

A beleza simples das composições, a languidez dos arranjos e as letras encantadoras levaram-nos um pouco por todos os discos, não faltando os admirados The Boy With The Arab Strap, Mayfly, Didn’t See It Coming, Simple Things e, já no encore, Get Me Away From Here I’m Dying.
Com uma autêntica orquestra em palco – chegaram a ser 13 os elementos, entre eles um quarteto de violinistas portugueses – as músicas ganharam uma distinta graciosidade que a voz doce e tímida de Sarah Martin ajudou a compor. A ajudar estiveram alguns elementos do público, que subiram ao palco para dançar a convite do comunicativo e bem disposto Stuart Murdoch. No final, escorríamos nostalgia.

Para nos reanimar o coração chegaram Justice em formato DJ set que, literalmente, rebentaram com tudo (desde very lights a casas de banho, as explosões foram diversas). Passando por grandes malhas suas (D.A.N.C.E., Phantom Pt. II) e de outros, impecavelmente remisturadas (Metronomy ou Chemical Brothers), ainda ofereceram ao público mais velho grandes clássicos dos anos oitenta com fortes batidas e um impecável jogo de luzes emanado por robots.
Sem saberem, e em jeito de homenagem (merecidíssima) à patrocinadora desta edição, até passaram Bohemian Like You dos The Dandy Warhols, música que já serviu de campanha à marca de telecomunicações. No final, o pó dentro das narinas e por cima dos cabelos fez-nos pensar que estávamos no Sudoeste ’97. Grande festa!

De barriga cheia tivemos de arranjar energia extra para o concerto de And So I Watch You From Afar, vindos da Irlanda com um post-rock poderoso que conseguiu alimentar a plateia sedenta de mais batidas eletrónicas. Oxalá voltem ao nosso país para tocar mais cedo e numa sala fechada.
Madrugada dentro a festa continuou com o DJ set de XXXY, pois havia ainda muito amor para partilhar e um ano, até voltarmos, é muito tempo.
Fotografias de Gonçalo Loureiro