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Festa e dança nos dois anos do Plasmodium Vivax

Os aniversários são sempre ocasiões especiais e dignas de celebração: costuma haver animação, bolos e guloseimas e, em alguns casos, boa música a acompanhar tudo. Foi com isso em mente que a equipa do Espalha Factos, composta por fãs assumidos de brincadeira, se deslocou ao Bacalhoeiro no passado Sábado, dia 8 de Junho, para assistir à festa dos dois anos do Plasmodium Vivax.

Encarregado de abrir as hostilidades, Levi deu início à noite por volta das 22 horas. Solitário em palco, acompanhado apenas pelas suas guitarras, o artista trouxe ao 125 da Rua dos Bacalhoeiros um espectáculo apoiado numa mistura de travo fácil do blues, do rock e da folk, gentilmente sublinhada pelo toque de cantautor.

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A apresentar o seu mais recente disco, If You Can’t Beat Them, registo lançado em Abril deste ano e que marca o regresso de Levi à música após um hiato de seis anos, o artista trouxe também na bagagem alguns temas dos seus primeiros álbuns, numa demonstração de um repertório que, apesar de discreto, prima pela qualidade e singeleza das canções.

Infelizmente, e apesar da competência de Levi, não se pode dizer que o concerto tenha ido muito além da morneza, algo que se deveu, em grande parte, à parca audiência nesta primeira actuação, que preferiu estar no 2.º andar a empinar imperiais a assistir às peças do cantautor luso. Ainda assim, Hino à Pátria (tema experimental com base em loops e feedback), Close Your Eyes (versão “ao contrário” e em blues de All My Loving, dos The Beatles) e João Pessoa (segundo single de If You Can’t Beat Them) afirmaram-se como pontos altos do show de Levi.

Seguiram-se os Raça, quarteto lisboeta composto por André Vale (voz), Lourenço Costa (baixo), José Vieira (guitarra) e Maximilliano Llanos (bateria). Apresentando-se aos party-goers com uma sonoridade cheia de vivacidade, assente numa inteligente fusão de jazz com reggae, world music e algum funk, o grupo trouxe ao recinto um concerto bastante convidativo à festa e à dança.

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Para esse clima festivo contribuiu, e muito, a postura de André Vale; dividido entre o papel de agitador de consciências e o de frontman incansável, o vocalista foi alternando entre as suas letras reflexivas e as tentativas bem-sucedidas de puxar pelo público. Isso, aliado com a proficiente técnica do grupo, que se demonstrou infalível na hora de disparar ritmos e grooves contagiosos, fez do concerto dos Raça a maior surpresa da noite. E a maior prova disso foi a quantidade de sorrisos que o som físico de faixas como Revolução, Queres, vai atrás ou Deixa-te Levar colocou nas caras do público.

Batiam as doze badaladas quando os The Kafkas, grupo de Cascais composto por João Garcia (voz/guitarra), Daniel Figueiredo (guitarra/teclas), João Pereira (baixo) e Fábio Musqueira (bateria), subiram ao palco para ocupar o seu lugar de headliners da noite. Consigo trouxeram uma fornada fresquinha de canções novas, representativas do “virar de página” e da surpreendente metamorfose sonora que o grupo decidiu levar a cabo.

Deixando de lado a urgência suburbana do post-punk revival que pautou a música dos primórdios do grupo, os The Kafkas apresentaram-se no Bacalhoeiro com uma sonoridade mais próxima do indie rock psicadélico, pegando em sintetizadores saltitantes, efeitos hipnóticos e letras altamente conceptuais para nos transportar directamente para um mundo tropical e tresloucado, digno das ilhas e selvas de Daniel Defoe e Rudyard Kipling.

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Tudo isto fez do concerto dos The Kafkas uma trip musical colectiva, onde a audiência foi vibrando com as imagens distópicas, os sons dançáveis e a atitude despreocupada que o grupo foi espalhando ao longo de todo o espectáculo. Apesar de ter havido alguns problemas de som (a guitarra de João Garcia esteve, pontualmente, demasiado alta para o nosso otorrino), a verdade é que peças como Maniac Maker Machine, Hard Kick e Monte Carlo conseguiram demonstrar que os The Kafkas sabem como entreter uma pequena multidão.

O final da noite esteve ao cargo de Xoices, com um dj set animado, composto por uma electronica rica no “corte e costura” de samples orelhudos e cheios de soul. Infelizmente, esta promissora mistura não encontrou repto nos convivas, a quem o cansaço já se acusava e obrigou a uma debandada geral da pista de dança. Ainda assim, e em jeito de balanço, acho que ninguém se pode queixar da festa do segundo aniversário do Plasmodium Vivax. Só esperamos que para o ano haja mais!

Fotografias por Sónia Pena.

*Este artigo foi escrito, por opção do autor, segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1945