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Optimus Primavera Sound 2013: Está quase

É normal que a um dia de começar um dos festivais mais aguardados do ano haja um bichinho de nervosismo na vossa barriga, o que não é para menos, pois falamos daquele que será com certeza um dos eventos culturais nacionais que marcará 2013. Falamos, claro, do Optimus Primavera Sound, que irá decorrer na cidade do Porto entre os dias 30 de Maio e 1 de Junho e que tem nomes como My Bloody Valentine, Nick Cave & The Bad Seeds ou Blur a figurar no cartaz.

Esta é a segunda edição portuguesa do festival, cuja “entidade paternal” está sediada em Barcelona, e se no ano passado o certame contou com nomes como Wilco, Yo La Tengo, The xx, Yann Tiersen ou Jeff Mangum, dos Neutral Milk Hotel (banda que já está confirmada para a edição de 2014 do OPS), a organização este ano cumpre as expectativas e presenteia-nos com um cartaz repleto de artistas que nos enchem o olho.

Actuação dos Wilco no OPS’12

Há muita coisa a causar-nos uma vontade súbita em rumar até ao Parque da Cidade. Podemos começar por falar do espaço propriamente dito: o Porto é, inegavelmente, um dos mais belos sítios europeus, e se há coisa que diferencia o festival catalão do festival portuense, para além do cartaz (já lá vamos), é sem dúvida a beleza natural que o Parque da Cidade nos tem para oferecer e que deixa a promessa que o evento é muito mais que um “festival urbano”.

Um aspecto curioso é o facto de o Optimus Primavera Sound ter uns níveis de adesão peculiares; na edição do ano passado registou-se que mais de 60% dos festivaleiros eram de nacionalidade estrangeira. Este ano há, por isso, uma natural curiosidade em saber se se inverte, ou não, esta tendência, e se os portugueses se convertem ao encanto primaveril do evento. É certo que os contornos mais alternativos da filosofia sónica que reinam grande parte do cartaz do evento criam (ainda por cima em Portugal) um certo entrave para que haja uma adesão bastante significativa dos portugueses, mas também temos que assimilar que o Optimus Primavera Sound é, para além de um festival que celebra a massificação indie, um momento de descoberta  e um palco para os novos valores do panorama musical alternativo actual.

Parque da Cidade

O cartaz deste ano está, acima de tudo, repleto de artistas que são idolatrados pelas massas alternativas, reforçando também o ecletismo do ano passado (viaja-se do doom metal à música electrónica num ápice). E com grandes nomes, na verdadeira acepção do termo: é o caso de My Bloody Valentine, uma das bandas que mais deu à música no século passado, através de toda a sua retórica do ruído. Inovaram com o seu shoegaze e construíram um legado simplesmente único e avassalador, que volvidos vinte anos demonstraram estar intacto, igual a si mesmo, com a edição de m b v (ler crítica aqui).  É o caso de The Swans, banda que um dia Kurt Cobain disse ter nela uma das suas maiores influências para compor, e que detém um som simplesmente medonho, transcendente e infernal.É também o caso de uma das bandas mais consagradas do movimento post-rock do novo século, os belos Explosions In The Sky, e o seu amor pelas melodias.

É-o Nick Cave, juntamente com os seus The Bad Seeds, que suportam na sua identidade sonora uma das cumplicidades mais belas que existem e que fazem do Sr. Cave, a quem muitas senhoras apelidam de “o senhor mais sexy do mundo”, um autêntico senhor canção (e que nos traz na bagagem o mais recente Push The Sky Away, cuja review pode ser lida aqui). É-o também James Blake, prodígio precoce da música electrónica mundial, que concilia os princípios básicos da r&b, da soul e do dubstep num só (traz-nos Overgrown, cuja crítica pode ser lida aqui). E é também o caso dos Blur e da sua britpop inolvidável, que prometem um autêntico desfile de êxitos, da electrónica de Four Tet, do indie rock atrevido das The Breeders, da freak folk experimental dos grandiosos Grizzly Bear, do alternative rock dos Dinosaur Jr. ou do psicadelismo da banda de Bradford Cox, os Deerhunter.

Os My Bloody Valentine são um dos nomes mais ansiados da edição deste ano do Optimus Primavera Sound

No prisma da descoberta existem também nomes que não devem deixar de ser mencionados, como a concepção de barulho criada pelos próprios Fuck Buttons (que são uma das bandas por quem mais anseio), o stoner rock imponente dos OM (que nasceram das cinzas dos já extintos Sleep), o math rock bestial dos Shellac (que, para azar de muitos, actuarão ao mesmo tempo que os Grizzly Bear) ou a celebração punk dos Titus Andronicus, a banda mais azarada da edição deste ano, que actuará ao mesmo tempo que os My Bloody Valentine. Dum ponto de vista mais actual, repescando as revelações dos últimos dois/três anos do mundo indie, temos a dream pop persuasiva e bastante interessante dos Wild Nothing, a beleza aliada à harmonia de Melody’s Echo Chamber, o experimentalismo dos Liars, a imponência dos Metz (banda a que já assistimos a um concerto seu, ler reportagem aqui) ou a mais recente revelação de 2013, as Savages.

Festival português não o é se não constarem nomes portugueses no cartaz, e o OPS’13 respeita a lei: as bandas nacionais que se mostrarão ao mundo nos palcos do Primavera Sound serão os Mão Morta, grupo do quase lendário Adolfo Luxúria Caníbal (que foram repescados à última hora para completar a vaga deixada pelo cancelamento de Sixto Rodríguez), os Memória de Peixe, dupla de rock instrumental que teve no seu disco de estreia um sucesso admirável e notável, os Dear Telephone, banda que recentemente lançou Taxi Ballad, os barcelenses The Glockenwise, sempre enamorados pelo lo-fi rock e pertencentes à grandiosa família que é a Lovers & Lollypops (tal como os Memória de Peixe), e os  Paus, já semi-consagrados em terra de “nuestros hermanos” e que prometem meter toda a gente a gingar ao som da sua sonoridade estonteante, em muito potenciada pela energia da sua peculiar bateria siamesa.

A toda a panóplia de bandas que figuram no cartaz do OPS’13 junta-se ainda, entre muitos, outro factor de interesse: a gastronomia. E se o Porto se compactasse todo no Parque da Cidade e fosse possível, dentro do recinto, visitar cada lugar que mais reveste a mística da cidade invicta? É mais ou menos isso que vai acontecer; vamos poder saborear as luxuosas bifanas do Conga ou as incríveis francesinhas da casa Cufra, e quando nos apanharmos com um jarro de vinho do Porto na mão vamos todos brindar ao encanto primaveril de um festival que se adivinha quase tão grande como as nossas vidas. Começa já amanhã. Temos Primavera.

*Este artigo foi redigido, por opção do autor, ao abrigo do acordo ortográfico de 1945