A correspondência entre Fernando Pessoa e a sua namorada Ofélia Queiróz estará reunida, pela primeira vez, numa compilação a apresentar a 14 de junho, em Lisboa.
Com edição de Pedro Corrêa do Lago, que comprou as cartas num leilão da casa Sotheby’s, a organização da coletânea coube a Ricardo Zenith. Corrêa do Lago salienta a importância do momento para a biografia de Pessoa.
“Conseguimos com isso publicar pela primeira vez a correspondência completa, a troca epistolar que é muito importante nesta relação amorosa”, reforça Corrêa do Lago, que considera os documentos do poeta reveladores de “uma faceta importante da personalidade complexa” que se reflete na sua obra.
O encanto entre Pessoa e Ofélia sucedeu-se duas vezes, entre 1 de maio e 1 de novembro de 1920 e de 11 de setembro de 1929 a 11 de janeiro de 1930, datas que marcam o início e o término de cada período que o editor considera que “não passou de beijinhos”, uma vez que Ofélia “era uma menina perfeitamente encantadora, mas chegou a hora em que ele viu que não estava preparado para o casamento”.
Se a primeira fase pautou-se por uma paixão sôfrega, refreada pela inquietação de Pessoa, a segunda foi conturbada e descobre-se, pela leitura, alguma perturbação psíquica do autor. Pessoa ambicionava cativar-se por uma vida normal, segundo Corrêa do Lago, mas, como diria na carta que termina a primeira fase do namoro com Ofélia, o seu destino pertencia a outra lei. De facto, o seu afastamento do mundo, como sublinha o editor, humaniza-o perante o público mas denota a sua dificuldade em lidar com os sentimentos e com uma vida dita normal.
“Acho que Pessoa queria ser feliz e encontrar-se num relacionamento amoroso mas por uma série de motivos não era o destino nem a vocação dele”, sugere Corrêa do Lago.
Esta publicação é prefaciada pelo filósofo Eduardo Lourenço e foi publicada pela PT Brasil, que a apresentou em São Paulo, na passada quinta-feira. A literatura continua a ser um bom pretexto para trocas multiculturais, como é afirmado pelos mentores do projeto.