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Jamie - Sunset

Night + Day Warm Up no Lux

Desde 2009 que os The XX se afirmam como um fenómeno urbano, apelativo o suficiente para atrair as mais variadas tribos urbanas de adolescentes e jovens adultos à sua música e também ao seu padrão estético. Apesar dos membros da banda primarem por uma atitude bastante discreta e até introvertida no que toca a aparições públicas, os inúmeros jovens que se encontravam nas imediações do Lux pelas 21 horas da noite de ontem primavam por um visual baseado em roupas caras e adornos vistosos e, como alguém murmurou na fila para entrar: “parece que estamos num casting para a próxima temporada de Skins“.

A entrada foi ordeira e muito pacífica, uma vez que o público chegava esporadicamente, em pequenos  grupos e sem grande entusiasmo aparente. Sentia-se uma expectativa bastante curta no ar face ao principal pretexto para o acontecimento deste noite de Warm Up para o festival de maio: o anúncio do cartaz. Por sua vez, a maior ânsia parecia circular em torno da actuação de Jamie XX – membro da banda, conhecido pelos seus DJ sets carismáticos e intimistas. Por isso, foi com considerável desalento que a maioria do público recebeu a notícia que Jamie só actuaria à 01h30 – o que, numa noite de terça para quarta-feira, para uma plateia maioritariamente sub-30, significa a existência de aulas ou trabalho na manhã seguinte. Para animar, os DJ residentes do Lux, juntamente com Tic e Jon Rust garantiram que público mantinha o seu interesse em ali estar, com a construção de sets que incluíram dubstep minimalista (ninguém aqui espera ou quer ouvir Skrillex) e faixas clássicas do último disco de John Talabot, por exemplo.

Warm Up

Durante uma sequência longa de synthpop downbeat, rica em baixas frequências pulsantes (havendo até oportunidade para chegar a  Atoms for Peace), a cave do Lux tornava-se bem composta com a chegada de bastante público mais adulto. Um pouco antes das 23h30, sobem a palco os três membros dos The XX acompanhados por Kalaf Angelo (dos Buraka Som Sistema) que vinha em missão de tradutor, mas ficou reduzido a mero entertainer que puxava pela plateia quando se mostrava plenamente apática aos nomes que a banda anunciou para o seu festival. “Não estou a ouvir nada, Lisboa!“, dizia Kalaf.

Night & Day Warm Up

Assim que o anúncio dos nomes para o festival terminou, a música continuou na cave do Lux, com Radiohead e remisturas dos temas que integram Coexist (segundo e mais recente disco dos The XX) a soar pelas colunas, acompanhadas de interlúdios que primavam por sonoridades mais house nas suas formas, mas cuja linguagem se fazia ouvir em electrónica bastante pujante.  Romy (também dos The XX), tinha um DJ set marcado para as 00h30 no piso de cima da discoteca, o que infelizmente acabou por não acontecer, por motivos pouco claros.

Night & Day Warm Up

Por sua vez, Jamie XX fez valer a pontualidade britânica e, à hora marcada, tomou o controlo dos discos, consagrando-se como o grande vencedor da noite. Com uma remistura de Missing (uma das mais notáveis canções de Coexist) a aparecer bastante cedo no seu set, fez vibrar toda a plateia, socorrendo-se de padrões de percussão digital de grande expansividade, o que constituiu um espanto para quem aguardava os sets downbeat que primam pelo minimal, pelos quais Jamie é de facto conhecido.

O público pareceu adorar, cantando sempre que sabia a letra, e delirou com a ideia de estar na objectiva do fotógrafo da banda. A noite prosseguiu com mais uma remistura, desta vez Fiction, que desaguou numa muito bem mapeada secção de afrobeat que deixou os presentes eufóricos e com energia mais que suficiente para seguir o set de Jamie XX até altas horas. As aulas podem esperar.

 

*Artigo escrito, por opção do autor, ao abrigo das normas do acordo ortográfico de 1945.