«Já cá não vinha desde as festas dos anos 80» dizia um dos fãs que, no passado sábado, encheram o Ritz Clube para receber a música soul de Cody Chesnutt.
Passavam cerca de 40 minutos da hora marcada para o início do concerto quando os músicos de Cody subiram ao palco, mas o atraso foi totalmente compensado e perdoado logo nos primeiros acordes. «How are you feeling, Lisboa?», pergunta o músico de Atlanta, mal entra em cena, fazendo a festa. Foi então That’ Still Momma o tema que abriu as hostes, com o pouco espaço disponível no Ritz a impedir-nos de dançar livremente.
Seguiu-se Till me Thee, bem como as apresentações dos músicos (sendo a banda que atuou neste espetáculo, a original da gravação do mais recente disco – Landing on a Hundred – editado em 2012) e um «é bom ver-vos de novo», depois da passagem de Cody e companhia por Lisboa, em dezembro do passado ano, aquando do festival Vodafone Mexefest. Apesar de ser só o terceiro tema das cerca de duas horas de concerto que ainda estavam para vir, Everybody’s Brother conseguiu um sing-a-long de toda a plateia, com o refrão no turning back, cantado a plenos pulmões por todo o Ritz Clube.
Under the Spell of the Handout e What kind of Cool (Will We Think of Next) foram os temas que se seguiram, com uma plateia já totalmente rendida e contagiada pelo groove de Cody Chesnutt, em plena sintonia com os seus músicos. Impossível aguentarmo-nos sem abanar as ancas e estalar os dedos ao ritmo perfeitamente sincronizado da banda.
O momento mais intimista da noite deu-se ao som de Love is more than a wedding day, o tema favorito do próprio Cody de Landing on a Hundred, dedicado a todos os casais da sala, e à esposa de Cody que estará «algures na América». Passado o momento romântico, a festa continuou, desta vez com Cody no meio do público, deixando os fãs ao rubro, querendo tocar-lhe, abraçá-lo ou tirar fotos com o seu ídolo.
Where is all the Money going? foi um dos momentos altos da noite, com Cody a dirigir o coro afinadíssimo da plateia do Ritz, a sussurar o refrão de um tema extremamente interventivo.
As despedidas antes do encore deram-se ao som de Don’t wanna go the other way, com Cody visivelmente emocionado, tirando o capacete (a sua imagem de marca) a um Ritz lotado que o aplaudia completamente em êxtase, e cumprimentando, com apertos de mão, aqueles que se encontravam na frontline.
Os músicos voltariam depois de uma ovação estrondosa, sendo Cody o último a entrar em palco, já mais recomposto do banho de emoções que foi o espetáculo, com uma toalha aos ombros e uma chávena de chá a fumegar na mão. O cantor aproveitou o momento mais calmo para agradecer a todos os que o apoiaram desde o início da sua carreira, e para nos contar que ter sido pai mudou a sua maneira de ser e de se expressar, sentindo-se agora muito mais maduro. Foi tempo também para nos alertar que, com as distrações do dia-a-dia e as novas tecnologias, muitas vezes nos esquecemos de olhar olhos nos olhos, uns aos outros. «Não podemos fazer isto no twitter!», disse, apertando a mão a uma fã e deixando-nos a concordar, completamente rendidos.
I’ve Been Life transformaria o Ritz numa pista de dança, mas foi com Cody a cantar Thank you so much from me to you, com um falsete absolutamente incrível, que se deram as despedidas finais.
«Mais do que um público, vocês foram um membro da banda». De facto, foi exactamente isso que Cody e os seus músicos nos fizeram sentir. Depois do fim do concerto, os músicos ficaram ainda em palco para cumprimentar e tirar fotos com os fãs.
A afinação de Cody, o funk e o soul que lhe correm nas veias e o virtuosismo dos músicos são absolutamente louváveis mas, para além disso, é impossível assistir a um concerto de Cody Chesnutt e companhia sem se ficar rendido à simpatia, generosidade e humildade de todos os músicos. Na verdade, entrámos no Ritz para assistir a um concerto, e saímos com lições de vida para encarar o futuro da melhor forma. Cody Chesnutt saiu visivelmente deste espetáculo com o coração cheio. E nós também.
Fotografias por Rita Sousa Vieira