Haveria de ser em 1813 – precisamente dia 28 de janeiro e 15 anos após ter sido escrito em Hampshire – que o romance Orgulho em Preconceito (na tradução portuguesa) seria lançado em três volumes pela mão do editor Thomas Egerton.
Este lançamento do romance, que conta os encontros e desencontros do casal Lizzy/Darcy, foi um sucesso tão grande na altura que esgotou de imediato. Passaram-se 200 anos desde a publicação daquele que é considerado uma referência na literatura mundial.
Uma curiosidade avançada pelo site do jornal Público é o facto de Jane Austen (1775-1817) não ter assinado estes seus sucessos literários. Este livro vinha com a descrição que indicava ter sido escrito pela “autora de Sensibilidade e Bom-Senso (Sense and Sensibility)” que na altura era o pseudónimo “uma senhora“. Sabe-se ainda que a versão original, pensada pela autora, tinha como título First Impressions, mas terá sido mudado para causar maior impacto.
“É uma verdade universalmente reconhecida que um homem rico e solteiro precisa de uma esposa. Tal verdade encontra-se tão firmemente implantada nas cabeças das pessoas que, independentemente dos sentimentos ou opiniões do cavalheiro a respeito do assunto, no momento em que ele chega a uma determinada terra, é imediatamente considerado propriedade legítima de algumas das filhas dos seus novos vizinhos”, assim começa este belíssimo romance, numa tradução de José Miguel Silva para a nova edição da Relógio D’Água.
A história, de uma forma muito simples e sintética, é realmente inovadora para a época em que foi lida, já que se passa na Inglaterra ruralizada e fala de um jovem rico que parece ter uma superioridade e arrogância maiores que a sua fortuna e de uma jovem bonita, alegre, muito inteligente e com humor sarcástico e refinado (com uma família muito menos abastada), que não agradaria certamente muitos bons partidos.
Supostamente não agradaria a Darcy, não tivesse ele caído de amores pela determinada Lizzy, deixando o “orgulho” e o “preconceito” de ambas as partes cair por terra. Tão bons ingredientes para criar um enredo de amor-ódio ainda hoje tão apreciado – prova disso são os milhares de exemplares que ainda hoje são vendidos em todo o mundo, não deixando que esta obra caia no esquecimento. Só no Reino Unido estima-se que a venda anual do livro se situe em cerca de 50 mil exemplares.
O livro foi várias vezes adaptado ao grande ecrã: para além do filme de 1940 com Greer Garson e Laurence Olivier, a história chegou ao cinema numa versão de 2005 com Keira Knightley como Elizabeth Bennet (papel que lhe valeu uma nomeação ao óscar de melhor atriz) e Matthew Macfadyen como Mr. Darcy.
Também muito popular e muito provavelmente o que despoletou o regresso a Austen das camadas mais jovens em pleno século XXI foi a série de 1995 da BBC, com Colin Firth no papel de Mr. Darcy e Jennifer Ehle no papel de Lizzy. Originou-se uma pequena “piada” no livro de Helen Fielding e posterior filme de 2001, dirigido por Sharon Maguire, O Diário de Bridget Jones, em que a protagonista adora esta série da BBC e acaba por vir a namorar com um homem chamado Mark Darcy, que não é nada mais nada menos que Colin Firth, o mesmo ator que interpretou Mr. Darcy na série, anos atrás.
Foram ainda levadas a cena peças musicais sobre o livro, uma versão de filme de Bollywood foi lançada em 2004, realizado por Gurinder Chadha. Foi ainda realizada uma outra série Lost In Austen, mais recentemente, em quatro episódios no ano de 2008, adaptando o romance à vida de uma rapariga moderna que se vê literalmente no interior da sua história de amor preferida.
Outros escritores inspiraram-se nesta obra para escrever os seus livros, tais como Death Comes to Pemberley (2011) de P. D. James, ou Pride and Prejudice and Zombies (2009), de Seth Grahame-Smith, que leva a história para um outro nível, como sugere o título.
Jane Austen escreveu desde muito nova mas só perto da sua morte começou a editar os seus livros. Sensibilidade e Bom-Senso, Orgulho e Preconceito, A Abadia de Northanger, Mansfield Park e Emma terão sido todos romances publicados entre 1811 e 1816. Persuasão, por exemplo, só seria editado em 1918, um ano após a sua morte.
Para celebrar os 200 anos desta obra realizaram-se, na passada segunda-feira, em Bath (cidade onde Austen viveu de 1808 a 1806), uma maratona de 12 horas de leitura, aberta a especialistas, fãs e escritores. Para quem não pôde participar nesta maratona, nada melhor que pegar no livro para ler, assistir a uma das séries referidas ou até, quem sabe, ver um dos filmes do casamento mais improvável desde o século XIX. Fica a sugestão.