A chuva, a crise e muitos outros fatores juntaram-se para que eu tivesse uma passagem de ano em casa. Assim sendo, pelo meio de muita conversa, comida e bebida, a televisão da sala esteve ligada. Afinal, como é que se passa uma noite de réveillon em família?
Pegamos no comando e passamos em zapping pelos vários canais generalistas:
Na RTP1, o espelho da desistência – uma passagem de ano igual às últimas três ou quatro. Herman José comanda a emissão gravada de 13 Badaladas. Não é que seja mau, e até nos faz lembrar os porquês de ser um erro cancelar Estado de Graça, mas também leva à admissão de que a emissora estatal nem quando sabe que vai perder admite reconsiderar a estratégia e arriscar diferente. Serviços mínimos numa greve de ousadia.
Na RTP2, o espelho do que se tornou a situação deste canal: uma coboiada. O lendário Maverick dá as boas vindas a 2013 num canal em piloto automático. Além dos noticiários, o segundo canal nada mais parece que um automático reprodutor de K7s. E assim será em janeiro: repetições, repetições, repetições.
A SIC avança, para uma espécie de execução final, o maior falhanço dos últimos anos. Toca a Mexer, noutros tempos, teria sido cancelado rapidamente e até com direito a explosão simulada. Mas não, prolongou-se durante três meses. E até podia valer a pena, caso o programa fosse uma aposta de qualidade. Não é o caso, por mais que a Bárbara se esforce, os dançarinos suem e o cenário brilhe.
Secret Story 3 foi a aposta imparável da TVI pela terceira passagem de ano consecutiva. Para esta edição, o programa desceu todos os padrões de ‘qualidade’ e apresentou-se com pessoas ainda piores do que as que já tínhamos visto anteriormente. Um autêntico ninho de víboras, a Casa dos Segredos sobreviveu a mais uma temporada. Teresa Guilherme foi a exímia porteira da residência mais famosa do país e o público fez valer a máxima de que, quando baixa o nível, aumenta o interesse. E, com ou sem cabeçadas, a liderança foi do quarto canal, semana após semana.
No meio deste trágico cenário, e após voltinha rápida pelos quatro canais abertos, foi decidido pela família que iríamos acompanhar a noite com os videoclipes do VH1. Qualquer coisa seria melhor que aquilo. A noite de passagem de ano é o retrato perfeito daquilo em que se tornaram os canais generalistas: canais a trabalhar para um cada vez mais pequeno reduto de telespectadores, sem qualquer tipo de compromisso com a pedagogia ou a qualidade, a lutar pelo lucro das formas mais fáceis.
E infelizmente não parece que o Ano Novo vá trazer diferenças. Secret Story vai ter edição suplementar, a SIC vai ter o seu próprio A Tua Cara Não Me É Estranha. As RTPs, mesmo com o Orçamento de Estado aprovado, parecem viver em duodécimos. A crise é, acima de tudo, de criatividade e vontade de fazer diferente. Espero mesmo que a retoma chegue em 2013.