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Craig Dyer, The Underground Youth: «há alguma coisa que ainda seja original?»

Craig Dyer é o nome por detrás do projeto The Underground Youth que se estreia hoje, no nosso país, para uma série de três concertos (Évora, Lisboa e Porto). Para conhecer um pouco mais do músico, da banda que o acompanha e do que se pode esperar do concerto, trocámos um simpático e-mail com algumas perguntas e respostas.

Espalha Factos: Comecemos pelo princípio. Nasceste num incrível ninho da história da música (Manchester). Como começaste a escrever canções e a fazer música e que influências teve a tua terra natal na tua vida? Conta-nos um pouco da tua história.

Craig Dyer: Na verdade, eu comecei a pensar que podia fazer música com o Bob Dylan. Quando eu era adolescente, escrevia poesia e histórias, e foi a ouvir a música dele que me apercebi que afinal até podia ter potencial para escrever e compor canções, mesmo com as minhas limitadas capacidades musicais. O estilo psicadélico da música que comecei a fazer foi muito mais influenciado pelos artistas americanos que eu andava a ouvir na altura. Só quando comecei a descobrir e a perceber a história da música americana é que tomei contato com a cena musical inglesa que me era, obviamente, muito mais próxima.  Mas eu era demasiado jovem para experienciar qualquer um dos importantes movimentos musicais de Manchester, portanto a história é apenas isso… história.  Hoje não existe uma cena propriamente excitante aqui em Manchester, por isso tudo o que existe é a história. Mas eu amo Manchester, e a música dos Joy Division é responsável por eu estar aqui neste momento.

EFO teu projeto musical tem algumas influências mais ou menos óbvias, como Velvet Underground, The Brian Jonestown Massacre, Bob Dylan ou The Jesus and Mary Chain – como se pode ler na tua biografia. Mas quem são os teus ídolos? 

CD: Como dizes, as influências são óbvias e por causa disso eu tive de lidar com muitas críticas por “soar exatamente como“…  Mas tudo bem. Eu não estou a tentar recriar um género musical ou a tentar fazer algo completamente original. Aliás, há alguma coisa que ainda seja original? Eu apenas faço música que eu próprio gostaria de ouvir. Tento não ter “ídolos”. Há artistas que para mim ficam acima de todos os outros, mas para referir alguém como um ídolo é uma questão perigosa. É saudável enquanto artista ser inspirado e influenciado por alguém, mas não podes ficar preso a tentar ser outra pessoa, senão não chegas a lado nenhum.

EF: Qual é a música que gostarias de ter sido tu a escrever?

CD: Eu amo incondicionalmente a canção Apart dos Cure mas se eu a tivesse feito soaria muito diferente (não tão boa).

EF: Tu és um músico muito produtivo. Gravaste cinco álbuns em três anos.

CD: Eu gravo em minha casa, por isso o processo é muito simples. Não estou limitado por tempo, custos, honorários ou à espera de outra pessoa que faça parte do processo criativo. Posso trabalhar quando me sinto inspirado e investir o tempo que quiser. Posso acordar a meio da noite e gravar uma música. Ser produtivo é fácil quando estás livre de pressão.

EF: É uma produção engenhosa com um catálogo musical bastante entusiasmante que disponibilizaste gratuitamente on line e só agora te juntaste a uma editora. Porquê? 

CD: Acho que é importante inicialmente fazer música gratuitamente. Há tanta música disponível na internet e como artista tudo o que queres é que as pessoas oiçam a tua música. Disponibilizá-la gratuitamente é a forma mais fácil de te apresentares ao público. Mas eventualmente eu quis lançar os meus discos em vinyl e obviamente há um grande custo que envolve isto. Felizmente tive contato com a editora certa – a Fuzz Club Records – no momento certo.

EF: Como e quando conheceste os músicos que tocam contigo?

CD: A atual banda que toca ao vivo só existe desde o início de 2012. Além de mim tocam o Thomas e a Olya. O Thomas é um guitarrista de Liverpool, um amigo com grandes capacidades para recriar e reinterpretar a minha música. A Olya toca bateria e é a minha alma gémea musical e minha mulher. A banda vai mudar no futuro, sem dúvida. É algo orgânico que vamos desenvolvendo, tentando evoluir sempre.

EF: Dedicas-te a outras formas de arte? 

CD: Para além da música, a minha paixão é o cinema. Estudei e trabalhei no mundo cinematográfico, que é algo que eu adoro. Isso é percetível na minha música. Aliás, já me disseram que se nota claramente a influência do cinema nas músicas de Underground Youth.

EF: Tens outros projetos musicais? 

CD: A Olya tem um projeto musical chamado Noise Exposure do qual eu faço parte. Eu fiz e farei parte de outros projetos mas essencialmente tudo o que crio é para Underground Youth.

EF: O que esperas do futuro?

CD: Em janeiro vou começar a trabalhar num novo disco. As músicas estão escritas só preciso de as gravar… Promete ser negro e bonito. O lançamento deve ser no início de 2013.

EF: O que é que conheces de Portugal e da música portuguesa?

CD: Conheço muito pouco de música portuguesa. Em criança visitei Portugal mas vi pouco mais que as atrações turísticas. Eu adoro viajar e é para mim muito importante absorver o espírito de um país. Estou ansioso por ver os diferentes estilos de vida das várias cidades portuguesas. Estamos todos entusiasmados com esta viagem.

EF: que esperas destes três concertos e o que é que o público português pode esperar da vossa atuação?

Esperamos com estes concertos deixar algo de muito especial… Agora estamos mais confiantes como banda ao vivo e todos emocionalmente ligados com a música que estamos a tocar. Eu acho que ouvir uma banda ao vivo é algo muito diferente do que ouvi-la em disco. Gosto de ver energia em bruto e paixão, e é o que tento transmitir. Vais poder ver isso.

(Agradecimento à Cátia Duarte Silva, que ajudou na tradução).