Enquanto o mundo esperava por notícias do país de Uncle Sam, o Coliseu de Lisboa recebeu, mais uma vez, os britânicos Skunk Anansie. Black Traffic, o quinto álbum de estúdios da banda, gravado em Londres com o afamado produtor Chris Sheldon (Foo Fighters ou Biffy Clyro) e editado em setembro está na origem deste regresso com datas “únicas” este ano a Portugal. Hoje será a vez de o Porto receber Skin e companhia.
Esta que é a primeira data da tour europeia dá-lhes a liberdade, assumida, de experimentar o espetáculo e a adesão ao novo álbum. Os Skunk Anansie são apenas mais uma banda que escolhe Lisboa – ou o nosso país – para iniciar a sua digressão. Encontramos aqui um perfil ou será o público português assim tão especial quanto as bandas que o pisam exaltam?
O Coliseu que recebeu, desta vez, os Skunk Anansie não teve a mesma casa cheia que a última passagem da banda pela sala. Ainda assim, se analisadas a conjuntura (começa a ser uma falha se a crise não for referida numa review de um concerto), a agenda tentadora do mês de novembro e a noite eleitoral norte-americana, a moldura humana satisfazia.
O cantar gritado de Skin confere uma carga dramática e ainda mais revoltada às músicas que já por si não adivinham nenhum conto de fadas. A sua masculinidade fá-la feminina. A Skin, pouca pele lhe vemos, assemelha-se a uma catwoman versão Febre de Sábado à Noite. É um animal em/de palco (o colete de penas reforça esta imagem). Vemos-lhe o diabo no olhar, mas Skin exorciza em palco todos os males que canta (e já diz o ditado…). A violência dos movimentos percorre o palco, executa e exercita-se em provocantes exercícios rítmicos entre o tribal e o bélico. Parar é morrer.
Pouco passava das 22h quando o pano negro que dividia o palco caiu. The Shank Heads abria a noite.
Os Skunk Anansie do novo milénio ocuparam as primeiras músicas. A diferença é notória. Os dois últimos álbuns continuam a falhar nos ensaios das letras que ainda permanecem desconhecidas para a maioria dos que assinam presença no concerto. Após oito anos de hiato (e da carreira a solo de Skin), o regresso em 2009 marca uma nova página na história dos ingleses. O espírito permanece (é inegável e a vocalista comprova-o), mas a fórmula falha. Wonderlustre (2010) não é uma continuação dos loucos anos 90 que deram fama e nome à escala mundial a Skunk Anansie. Com uma ou outra exceção, os novos temas são recebidos com menos empatia, mas o registo ácido do metal-rock e funk permanece. Então o que falha? Believed In You, God Loves Only You, I Hope You Get To Meet Your Hero ou My Ugly Boy soam a pouco.
Weak arranca o primeiro coro com Skin a flutuar pela plateia, qual anjo negro em direção à luz. Estão vivos outra vez. I Can Dream, mais um regresso ao passado comprova tudo dito anteriormente. Because of You, um inédito do greatest hits Smashes and Trashes (2009), permanece num limbo entre o passado e o presente. Não consegue chegar ao estatuto de Hedonism (Just Because You Love Me) (tarefa impossível para qualquer outra música), balada egoísta capaz de arrancar corações a sangue frio.
Secretly é recebida à luz de isqueiros (e telemóveis, pois claro), cantada em plenos pulmões com uma força interior que divide a sua origem entre o coração e o estômago. A jóia da coroa da banda britânica, consagra-se e o reinado é deles.
Pausa depois de Charlie Big Potato. Os Skunk Anansie saem de palco para voltar com um demolidor encore. “Shall we do one more”, efusiva e repetidamente recebida com o rubro da sala lisboeta mais carismática.
Faltaram You’ll Follow Me Down ou Lately, entre outras, mas não houve queixas.
Para aqueles que conseguiram passar todo o concerto sentados: nota de louvor. Para aqueles que passaram metade do concerto a espreitar pelo telemóvel e a outra a escolher o filtro do Instangram que iriam utilizar: esforço em vão.
Em estreia em palcos nacionais, os australianos The Jezabels abriram a noite. Na bagagem trouxeram Prisioner, primeiro longa-duração. Senhoras e senhores de uma mistura de indie e de um rock cru que lhes valeu o Australian Music Prize para o primeiro álbum, o ambiente gélido conseguiu aquecer os corpos para o que se esperava.