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Doclisboa12: Entrevista com José Magro, realizador de Teles

Uma das novidades deste Doclisboa’12 é a secção Verdes Anos, onde são apresentados filmes produzidos em contexto académico, de modo a que jovens realizadores possam mostrar o seu trabalho. Um desses jovens realizadores é José Magro, que apresenta Teles, uma curta-metragem sobre o marcador de linhas do União Sport Clube de Baltar. O Espalha-Factos esteve à conversa com o realizador e o resultado é esta entrevista. Teles é exibido hoje, às 19 horas na Sala 3 do Cinema São Jorge.

Para começar, fala-nos de ti. Quem é o José Magro,  de onde vem e como se apresenta? 

Sou aluno da Universidade Católica do Porto e estou no Mestrado de Som e Imagem, especialização em Cinema e Audiovisual. E acabei a licenciatura o ano passado. Vim parar ao cinema porque desde pequeno que escrevia muito, e gostava  muito da imagem. Sabia que queria seguir a área das artes, fui falando com várias pessoas e achei que uma boa forma de juntar a paixão pela literatura e pela imagem era o cinema. Nessa altura, comecei a ver muitos filmes, apaixonei-me por cinema e inscrevi-me em Som e Imagem. Desde então, tenho tentado fazer alguns filmes, sendo que um deles ainda não saiu. Tenho o Teles, o meu primeiro documentário, e a minha ideia é um dia ser um realizador, quer dizer, sou um realizador nesta altura mas espero vir a sê-lo profissionalmente. Fundamentalmente, sou um grande apaixonado por histórias, sejam elas inventadas por mim ou encontradas por mim. Gosto muito de ouvir histórias, sou eu.

É inevitável perguntar: como surgiu a ideia para Teles? Porquê um marcador de campo? Como chegaste até ao Teles? 

Por acaso é uma história engraçada. Um vez, eu e um colega, o José Dinis Henriques, tivemos que fazer um trabalho para a faculdade em que foi necessário filmar num campo de futebol, à noite. O meu colega jogou futebol no União Sport Clube Baltar e um dia à noite fomos então fazer as filmagens nesse relvado. Mal entramos no campo, pisamos sem querer as linhas e aparece-nos um senhor a correr, do meio da noite, a gritar connosco e a dizer “alto aí, não pisem as linhas”. Bem, nós rimo-nos e começámos logo a meter conversa com o senhor e ele explicou-nos que era o marcador de linhas. Entretanto chegou a altura de uma disciplina em que era necessário fazer um documentário, abordando uma pessoa, sob o tema “um dia na vida de”, surgiu-nos então o Teles como tema. Fomos um dia, falámos com ele, ele não se apercebeu muito bem do que nós íamos fazer, fomos ter com ele cedinho às 5/6 da manhã, o que para nós foi perfeito porque nessa altura havia uma luz bonita, fomos lá e começou a nascer assim o filme.

Em relação à equipa com que trabalhaste, e sendo este um projecto universitário, houve alguma aleatoriedade na escolha da equipa ou foi uma escolha tua? 

A equipa foi escolhida naturalmente. O José Dinis Henriques conheço-o há cerca de dez anos, desde a escola e foi um acaso ele ser um óptimo profissional de som e por isso integrou automaticamente a minha equipa. O Gerardo Burmester conheci-o na faculdade mas é também meu amigo e um excelente profissional. A equipa ficou então naturalmente escolhida porque erámos todos muitos próximos e confiávamos muito no trabalho uns dos outros.

Como é que te sentiste quando soubeste que Teles tinha sido seleccionado para o Doclisboa?

Senti-me muito contente com o facto de o Teles ter sido aceite no Doclisboa. Estava até receoso porque teoricamente os resultados deveriam ter saído mais cedo e nunca mais saíam, mas depois veio a feliz notícia e celebrámos em equipa. Ficámos mesmo muito contentes porque o Doclisboa era o principal sítio onde queríamos mostrar o Teles, pelo facto de eu gostar muito do Doclisboa, não só por ser uma dos maiores festivais de documentário mas também por ser um festival português e achei que antes de o Teles ser possivelmente mostrado no exterior, primeiro deveria ser mostrado em casa, em Portugal, até porque retrata uma temática muito portuguesa, acho eu. Ficámos muito contentes, radiantes mesmo, porque é para nós um privilégio enorme o filme ser exibido no festival.

Entretanto, submeteste o filme a outros festivais? Sei que foi também seleccionado para um festival na China, como é que vês isso?

Sim, nem fui eu que enviei, foi a produtora da Universidade Católica que enviou para um festival em Pequim e eu nem sabia que tinha sido enviado, só soube quando foi seleccionado e fiquei contente por saber que esta temática tão particular e tão própria daquele local, perceber que esta temática era bem acolhida fora de Portugal. Eu tinha muito essa dúvida, se isto iria ser especial para alguém que não fosse português e foi a confirmação disso mesmo, eu percebi que lá fora também se consegue dar valor à história do Teles e que ele também consegue emocionar pessoas lá fora. O mais engraçado é que o Teles não percebe de modo algum a dimensão de um documentário sobre a vida dele estar a ser exibido na China.

Apenas por curiosidade, mostraste o resultado final ao Teles?

Mostrei, há pouquíssimo tempo, há cerca de duas semanas, aproximadamente. Foi engraçado porque ele já nem se lembrava muito bem que uns meses antes tínhamos estado a fazer o filme com ele e foi quase uma surpresa para ele que nós lhe tivéssemos mostrado o resultado final. Mais engraçado ainda foi o facto de, durante as rodagens, o Teles dizer muitas vezes a expressão “vida real”, o que para ele significava que era algo genuíno e sincero, e eles aplicava essa máxima a tudo. Então, mal acabou de ver o filme, a primeira coisa que disse foi “é a vida real, isto é a vida real”, ele achou que aquilo traduzia muito bem a realidade dele.

Tens algum projecto actualmente? Soube que estiveste envolvido no filme Mahjong, com o João Pedro Rodrigues e o João Rui Guerra da Mata, como foi a experiência? 

Actualmente, estou a acabar um filme de ficção, cujo título provisório é José Combustão dos Porcos. É uma curta-metragem, com cerca de 17 minutos, da qual a equipa do Teles faz parte. É um argumento que surge adaptado de muitas histórias que o meu avô de trás-os-montes me contava. Trabalhei com o João Pedro Rodrigues e com o João Rui Guerra da Mata no Mahjong, subordinado ao Festival de Vila do Conde. Foi uma experiência inacreditável, acho que fiz um óptimo trabalho e sobretudo aprendi imenso com eles. Eles sabem mesmo muito de cinema, aprendi na prática, foi uma escola viva durante duas semanas. Foi um projecto lançado pelo Curtas Vila do Conde, com realizadores conhecidos e estudantes a integrar a equipa. Fui a um casting primário, eles viram os meus filmes e depois um casting particular com os realizadores. Eles gostaram de mim e decidiram que seria o director fotográfico. Em relação a projectos futuros… eu gosto de alternar ficção e documentário, estou à procura de algo para documentário e cheio de vontade para começar a filmar, o mais cedo possível.

Para terminar, há mais alguma coisa que queiras acrescentar? 

Gostaria de acrescentar ainda que também já trabalhei com o Luís Alves de Matos, no projecto Estaleiro também, num documentário sobre o Rio Ave. Tenho muito que agradecer a Vila do Conde pelo facto de ter trabalhado com estes realizadores fantásticos.