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Noites Ritual, dia 31: Uma combo nada dead

Na última semana de Agosto, showcases, workshops, debates e exposições inundaram o Hard Club. Assim se iniciaram os festejos do aniversário do Noites Ritual, com 4 dias repletos de atividades. Contudo, sexta-feira e sábado são dias de abrir as portas dos Jardins do Palácio de Cristal e fazer a tradição cumprir-se… pela vigésima vez.

O ritual arrancou com um rufar de tambores. A batida do grupo Ecosons foi  acompanhando a entrada da multidão, pouco depois da tradicional hora de jantar portuguesa, ligeiramente antes do primeiro concerto da noite de sexta-feira.

É com a melodia quente de Rumbero que os Dead Combo saúdam o público do Porto. A Royal Orquestra das Caveiras trouxe uma miscelânea de sons, que enriqueceu aquela centena de minutos. Lusitânia Playboys tocava e instantaneamente conseguíamos ouvir as «duas raparigas com os namorados, marinheiros, à perna», como Tó Trips descrevera. A graciosidade do piano imitava as vozes das mulheres, enquanto que a gravidade do saxofone se assemelhava disfarçadamente aos timbres dos seus lovers. A “combo” de sonoridades tão perfeitamente conjugadas ao vivo envolve-nos na história da canção, mais ainda do que se uma letra acompanhasse as notas musicais. Aliás, Tó Trips e Pedro Gonçalves têm vindo a ensinar pelos palcos portugueses o que é a música, na sua mais intrínseca e crua simplicidade. Num jogo de melodias que mistura influências (aparentemente) tão díspares quanto o fado e a música africana, por exemplo, os Dead Combo cativam pelo modo como sentem o trinar do contrabaixo e da guitarra: um de cigarro aceso, o outro numa deliciosa convulsão constante.

Por entre uma improvável parceria musical com Paulo Furtado, «uma pessoa que, enquanto ser humano e músico, admiramos muito», acrescenta Pedro Gonçalves, figura que os portuenses esperavam ver em palco apenas no concerto dos Wraygunn, e uma Lisboa Mulata que dispensa apresentações, a atuação dos Dead Combo deixou os presentes certamente rendidos e embevecidos, embebidos pela música. Quanto às dezenas de fãs que se encontravam ainda na fila das bilheteiras, o infortúnio do atraso trouxe consigo a amargura de perder o concerto.

Ao tradicional encore, que fecha o primeiro concerto da noite com chave de ouro, ao som de Esse olhar que era só teu, Cacto e Malibu Fair, segue-se uma performance do Cabaret Ritual do Meio Morto, grupo que marca presença na Concha Acústica nas duas noites do festival.

Já as doze badaladas haviam soado nos relógios da Invicta na primeira noite do Ritual quando os Wraygunn subiram ao palco que haviam pisado pela primeira vez em 2005, com Ecclesiastes 1.11, o trabalho mais recente da banda, na altura. Tales of Love deu o mote.

Qual viagem no tempo, apesar de dar especial atenção ao novo L’Art Brut, o concerto foi saltitando entre álbuns, correndo sobretudo as últimas três obras discográficas do grupo. Temas como (She’s a) Go-go dancer, Juice ou Love Letters from a Motherfucker fizeram as delícias dos fãs mais antigos.

«Ser português, para mim, é uma grande honra. E é uma grande honra poder estar aqui convosco esta noite», confessou o carismático Paulo Furtado, congratulando o festival pelos 20 anos de atenção voltada para a música feita em Portugal. O guitarrista chegou ainda a admitir, emocionado, que o Noites Ritual foi o primeiro lugar onde sentiu que alguém estava realmente atento e valorizava os Wraygunn. O carinho e empatia para com o palco portuense e a audiência é algo sinceramente notório no discurso do músico.

Pouco depois de dedicar uma canção a Adolfo Luxúria Canibal, mítico vocalista dos Mão Morta, a meia dúzia de músicas do fim estava o concerto quando o legendary Furtado anuncia a Teenage Kicks. «Um adolescente para subir ao palco! Tu. E tu. E tu. E tu… Quem quiser pode subir ao palco! Venham cá para cima!», grita. Dito e feito: os que desfrutavam do privilégio de assistir ao concerto na primeira fila penduram-se nas grades sofregamente, num assalto animalesco à zona de imprensa, no intuito de saltar para o palco. Lado a lado com Raquel RalhaSelma Uamusse e Paulo Furtado, os jovens cantaram e dançaram o tema electricamente, contagiando o público. No final de contas, só os seguranças é que não encontraram diversão naquele momento.

All Night Long fechava a setlist. Os ânimos estavam verdadeiramente em alta: um fã sobe ao palco, novamente a convite do guitarrista, e acompanha os Wraygunn com o seu cavaquinho; as vozes femininas do grupo, na companhia de Marta Ren, zarpam num inesperado e atribulado crowd surfing, em relação ao qual a cantora convidada brinca, sem qualquer pudor, realçando a destreza das atrevidas mãos do público. Não fosse Marta nascida e criada na cidade invicta, e não fosse o Noites Ritual no Porto!

O ritual continua na noite de sábado e o mês de Setembro começa da melhor maneira, nos Jardins do Palácio de Cristal, com PAUS e A Naifa na companhia da 20ª edição do Noites Ritual.

Fotografias: Beatriz Sá Queirós