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review cover def leppard

Def Leppard – 25 anos de Hysteria

O álbum Hysteria, que fez esta semana 25 anos, é um bom resumo do que foi o glam metal britânico. A banda continua no ativo até aos dias de hoje, ainda com a mesma formação histórica desde o início da década de 90.

Deste álbum com 12 faixas resultaram 7 singles. Esse número de singles (que, diga-se, podia ser ainda maior) prende-se ao facto de o produtor Mutt Lange querer que este álbum fosse uma versão hard rock da Madonna e do Michael Jackson.

A música em si é de boa qualidade, sem atingir necessariamente o patamar que é preciso para um clássico instantâneo, como o já falado Appetite For Destruction dos Guns N’ Roses. O fator de interesse neste álbum é que a sua produção utilizou alguns processos tecnológicos muito inovadores, a saber:

O baterista Rick Allen, que tinha perdido o braço esquerdo num acidente, pouco antes da gravação do álbum, teve que desenvolver uma bateria eletrónica MIDI adaptada à sua condição, que lhe permitisse controlar uma boa parte da bateria com os pés [e, ironicamente, tornou-se um dos melhores músicos do mundo por ter conseguido ultrapassar as limitações). Estes aparelhos aliavam-se a samplers – aparelhos digitais que armazenam pequenos bocadinhos de som, neste caso dos vários bombos, pratos etc. O aparelho utilizado na gravação deste álbum foi o Fairlight CMI [Computer Music Instrument], um dos primeiros sintetizadores e samplers digitais, inventado no final da década de 70. Era ridiculamente avançado para a época, e incluía uma torre, um teclado normal, um piano eletrónico e um monitor touchscreen [!].

E as guitarras não foram gravadas através dos habituais amplificadores britânicos com um microfone à frente. Em vez disso, foram ligadas a um pequeno aparelho, o Rockman, do tamanho de um dicionário de bolso, que imita o som de um amplificador real. Na verdade, não passa de um amplificador de headphones que serve para estudar sem incomodar os vizinhos. Além disto ainda se utilizaram sintetizadores para fazer o baixo e artimanhas eletrónicas para construir as vozes do coro virtual nos refrões. A juntar a isto, os músicos gravaram todos os takes dos instrumentos em separado, para serem misturados digitalmente depois. Isto é uma prova viva de que a tecnologia influência e transforma a forma de pensar na música.

Estes processos digitais já eram típicos na indústria da música pop desde 1978/79, mas foi com este álbum que se popularizou o seu uso em bandas de heavy metal e hard rock – sem perder, à primeira vista, a sonoridade “autêntica” do rock ‘n’ roll. De facto, quando alguém diz “antigamente é que se fazia música a sério, com instrumentos verdadeiros”, e se refere a este tipo de bandas, desconhece que o único instrumento “verdadeiro” neste álbum é a voz. Isto serve também para os fundamentalistas do vinil, já que a [grande] maioria dos álbuns desde finais da década de 70 passou por máquinas digitais durante a produção.

Das canções em si, vale a pena destacar a faixa de abertura, Women, que também foi o primeiro single – com um sucesso inferior ao esperado. É bastante boa, dentro dos moldes da power ballad dos anos 80. Justifica-se como começo de um álbum clássico. A Rocket e a Animal seguem no mesmo estilo, mas vão suavizando progressivamente, até chegarmos à Love Bites. Esta é o clássico instantâneo do álbum, e consequentemente o single com mais sucesso. É também a canção da banda mais reconhecida pelo público, e a única que continua a ter airplay nas rádios generalistas.

O álbum prima, não só pela qualidade das canções, mas por conseguir industrializar o heavy metal, e torná-lo radio friendly. Se isso é bom? Sim, porque foi tão bem feito que nem se nota.

Recomenda-se este álbum a quem gostar de passeios românticos de carro a dois, depois da meia-noite. Ou a quem gosta de reviver a década de 80.

Nota final: 8,0