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Criôlo

Entre 2007 e 2011 lançou, através de LP’s e EP’s vários, dez(!) registos em nome próprio, cumprindo religiosamente a promessa revelada em Zappa Português (de Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado, álbum 2009) de «lançar dois discos por ano». Agora, em pleno Verão de 2012, chega-nos o já costumeiro lançamento estival de B Fachada. Criôlo, lançado no passado dia 17 no Bandcanp do artista e com edição física marcada para o próximo dia 30, é a obra de que vamos falar hoje.

Esta é já a quinta vez que faço uma review a um disco do B Fachada, e confesso que começo a ficar sem palavras para fazer uma introdução e apresentação condigna do artista. Por isso mesmo, e para evitar repetir-me, vou ser o mais directo possível: B Fachada é um brilhante letrista e um exímio fazedor de canções Pop que, devido às suas doses massivas de criatividade (e a uma grande coragem), se recusa a repetir fórmulas e surpreende com a abordagem que toma a cada disco que lança.

Criôlo, o 11.º registo do artista, não foge à regra. Depois da Indie Pop meio “jazzy” de B Fachada (2011), Bernardo muda novamente de roupagem e “brinca” com sonoridades que lhe eram até então desconhecidas. Desta vez, vemos o cantautor a passar para uma Pop de dança em que os ritmos tropicais e as influências e texturas africanas são o prato principal. E, para isso, Fachada mudou de “ferramentas” de trabalho; para o lugar do piano, peça central do disco anterior, entram os sintetizadores upbeat e as teclas saltitonas. Também na percussão, vemos a troca da “velha” bateria pelas drum machines e os seus beats possantes. No fundo, é uma alteração radical do analógico pelo digital, por forma a conseguir uma sonoridade mas electrónica e  rica em ambientes dançáveis e grooves viciantes.

Ao nível da produção, Eduardo Vinhas volta a juntar-se ao próprio B Fachada para a criação deste Criôlo. Desta vez, a dupla traz-nos um disco cuja estética anda no fiel da balança e se equilibra entre o lo-fi cru e a limpidez cristalina. Isto resulta numa sonoridade um pouco mais radio-friendly do que a do seu antecessor, mas que retém algum do “grão” e das arestas das produções mais abrasivas dos registos anteriores, num esforço muito bem conseguido e que me agradou imenso. Ao nível da voz, Fachada apresenta-se novamente no seu registo muito sui generis, naquele que é um dos poucos pontos de continuidade deste LP.

Já que falo em continuidade, outro dos pontos que retém a “assinatura” de Fachada bem vincada é, sem dúvida, a componente lírica. Mantendo o seu estilo de escrita arguto, sarcástico e mordaz, Bernardo volta aqui a versar duma forma falsamente autobiográfica, com o intuito de juntar mais peças ao sujeito poético que tem vindo a construir com as suas canções. Em Criôlo, porém, nota-se que algumas das letras (como a de Afro-Xula) se esforçam por abordar de forma irónica as próprias influências exóticas que a sonoridade do disco assume, e isso acaba por dar ao registo um tom bem divertido e animado.

No entanto, também existem defeitos em Criôlo, e que a meu ver o afastam bastante da perfeição. A começar, um apontamento picuinhas: os 28 minutos que compõem o LP são demasiado curtos. Isso, aliado a alguma homogeneidade e a uma certa falta de consistência exacerbada pela curta duração do disco, faz com que o 11.º disco de B Fachada não consiga manter o nível de qualidade do seu antecessor e fique um bocadinho aquém das minhas expectativas.

Quanto às faixas individuais que mais se destacaram, pela positiva assinalo a melancólica Como Calha, a pululante É Normal, a sensual Carlos T ou a vibrante Tendinite. Já pela negativa, aponto as medianas Afro-Xula e Quem Quer Fumar com B Fachada e a desinspirada BelaDona como as peças que, na minha opinião, se apresentam como as mais fracas deste álbum.

Em suma, Criôlo traz-nos uma abordagem “fachadesca” da Pop de dança, com uma atitude desarmante de quem faz música por prazer e não tem medo de parecer foleiro ou de mau gosto. Quente e exótico, este disco mostra também um B Fachada em modo “tongue-in-cheek”, e isso traduz-se num álbum animado e feito para fazer mexer as ancas de forma completamente despreocupada. Pode ter algumas falhas, e estar muito longe da potencialidade que sabemos que Fachada tem, mas a verdade é que na categoria de “álbum de Verão” Criôlo passa com distinção no exame.

Nota Final: 7,7/10

*Por opção do autor, este artigo foi escrito segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1945