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Scissor Sisters: Magic Hour

O novo álbum dos Scissor Sisters, apresentado ontem à noite no Cascais Music Festival, está longe de ter o mesmo impacto que os seus antecessores, e a recepção que a banda teve ontem em Portugal, menos de um ano depois da passagem pelo Sudoeste TMN, pode ser um reflexo do deslize dos nova-iorquinos com Magic Hour. O Hipódromo Manuel Possolo não chegou a metade da lotação para receber Jake Shears e companhia, num concerto em crescendo, mas que não cumpriu as promessas de felicidade, suor e luxúria de Ana Matronic no início do espectáculo.

A hora de atraso relativamente ao previsto para o início do concerto serviu para analisar o pouco público que foi até Cascais, num dos mais tórridos fins de tarde do ano e ainda no rescaldo do Optimus Alive, onde provavelmente foi gasta a maior fatia do orçamento para maioria dos festivaleiros. O preço do concerto (25€) e a localização pouco central terão pesado na parca assistência, de onde se destacavam muitos estrangeiros e um número considerável de bears, subgrupo da cultura gay, que se distingue por um frequente forte porte físico, barba e considerável pêlo corporal, do qual o próprio Babydaddy, fundador dos Scissor Sisters é exemplo. Nada estranho, se pensarmos na origem da banda, na vida nocturna gay de Nova Iorque, e mesmo na postura vincada que ainda transmitem contra todos os preconceitos.

Também o quarto longa-duração da banda não tem sido particularmente cativante, com o single de avanço Only The Horses, produzido por Calvin Harris, a ter um escasso airplay, quando comparado com Fire With Fire, do antecessor Night Work. Magic Hour teve uma produção de luxo, que contou, além de Harris, com Pharrel Williams, Boyz Noize e Diplo, mas revelou-se menos dançável e o mais baladeiro da discografia da banda. Conscientes disto, os Scissor Sisters procuraram não destacar demais as novas canções: Keep Your Shoes On e Baby Come Home, que será single brevemente, foram tocadas quase em formato medley depois da abertura com uma Any Which Way meticulosamente coreografada.

A banda só se dirige ao público no final da terceira canção, para lembrar que há novo álbum nas lojas, mas que também vão tocar alguns temas mais antigos. Desenterram logo a seguir The Skins, faixa bónus do registo homónimo e que fez parte da banda sonora da série Queer As Folk, para depois dar o destaque a Ana Matronic que arrasa Kiss You Off, ainda que sem grande paixão. Chega depois mais uma das novas canções, Inevitable, escrita com Pharrel, a vestir a banda de uma sonoridade disco que, não caindo mal, também acaba por não convencer.

Depois de um trio de clássicos (Take Your Mama, Running Out e Fire With Fire), apresentam Let’s Have a Kiki, facilmente a pior canção do novo álbum, ainda que demasiado viciante, e que mais parece um one-hit-wonder da mais pobre electrónica dos anos 90. Let’s Have a Kiki, que é de resto o nome da tour de verão da banda, tem coreografia igualmente surreal, com Jake Shears cada vez mais despido, e leva o público ao êxtase. Shears abandona o palco em Skin This Cat, que dá a oportunidade a Ana Matronic de mostrar quanto do espírito da banda parte dela, para depois regressar, com outro visual, para Mary, um dos momentos altos da noite e que compensou a fraca prestação do vocalista aquando do concerto na Zambujeira do Mar.

Ainda assim, a melhor sequência da noite só surgiu a seguir, com a banda mais solta a recuperar a versão travestida de Comfortably Numb, dos Pink Floyd, com mais guitarra do que a versão estúdio, e Invisible Light, peça épica de Night Work. Shady Love, a canção que conta com a colaboração de Azealia Banks, foi cantada a quatro vozes, com ajuda do coro e Jake Shears a destacar-se mais do que em qualquer outro momento do concerto. I Don’t Feel Like Dancing fecha o concerto até ao encore, que traz Only The Horses, single desinspirado e demasiado próximo da fórmula simplista de produção de Calvin Harris. Para a última canção, Ana Matronic pede que se tire “pelo menos” uma peça de roupa. Ela própria tira os sapatos, Shears acaba por mostrar o peito, mas no público alguns não tiveram pudor em balançar as t-shirts nas mãos, em tronco nu. O tempo assim o pedia e a canção, Music Is The Victim, também do novo álbum, ajudava ao ambiente.

Os Scissor Sisters despediram-se de Portugal numa hora pouco mágica das suas carreiras, esperando que os espectáculos ao vivo ajudem à popularidade de Magic Hour. O pouco público que foi até Cascais parecia satisfeito. Mal talvez isso não chegue.

Autor convidado: Pedro Zambujo

Fotografia: Rita Carmo / Espanta Espíritos @ Blitz

*Artigo escrito, por opção do autor,  com as normas do acordo ortográfico de 1945.