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Um festival de cancelamentos

Soubemos a poucos dias do início do Super Bock Super Rock que, um dos mais esperados nomes do cartaz, Pete Doherty, foi obrigado a cancelar o seu concerto no Meco. Imprevistos como este aconteceram já este ano no Optimus Primavera SoundSumol Summer Fest e Marés Vivas TMN. A época dos festivais começa com um valente festival de cancelamentos. E nomes repetidos, também.

O cancelamento do concerto no SBSR da voz dos Babyshambles, em cima da hora, deve-se à sua entrada, mais uma, numa clínica de reabilitação, para enfrentar a sua dependência de drogas. Mesmo sendo o motivo válido, não atenua o desconforto dos fãs. É o segundo nome a sair do cartaz deste ano do festival do Meco, depois da rapper norte-americana Azelia Banks ter justificado a necessidade de dedicar mais tempo às gravações do seu primeiro disco para riscar da agenda a sua tour de verão, que incluía a passagem pelo Palco EDP no dia 5 de julho.

Sem tempo para encontrar um substituto à altura de Pete Doherty, a organização promove Capitão Fausto (eles merecem!) para o palco principal e integra The Happy Mess, que mostrarão o seu trabalho no Palco EDP. As soluções nacionais, felizmente, não nos têm deixado mal, mas ficou aberta uma lacuna substancial num alinhamento que, comparado com o do ano passado, já deixava muito a desejar.

Se o ano passado a febre pelos Arctic Monkeys e o espectáculo a roçar a perfeição de Arcade Fire fizeram esquecer sem esforço a infinitude do pó e das filas para os chuveiros, é bom que este ano sejam cumpridas as melhorias que Luís Montez prometeu em conferencia de imprensa.

Optimus Primavera Sound azarado

Para além do cancelamento da tour dos Death GripsExplosions in The Sky viram-se impedidos de atuar devido a um «sério problema familiar» com um dos membros da banda, ao passo que uma inflamação dos nódulos das cordas vocais também afastou Björk do palco do festival, que se realizou no Porto. A artista islandesa foi substituída por Kings os Convenience, que regressaram a Portugal um ano depois de terem atuado em Paredes de Coura. Reconhecendo a importância de Björk no cartaz do festival, a promotora do evento permitiu mesmo o reembolso.

Death Cab for Cutie, por sua vez, já na cidade do Porto e prontos para o concerto, foram tramados pela chuva, que danificou o palco. Do extenso rol de desmarcações, esta foi a única cujas responsabilidades foram alheias à banda.

Maré de nomes repetidos

A chuva havia abençoado o concerto de Scissor Sisters no Sudoeste TMN do ano passado, e o público português preparava-se para voltar a dançar com os bem dispostos americanos, desta vez no Marés Vivas, em Gaia. O «cancelamento forçado» da banda, sem mais pormenores, abriu espaço a The Hives, que no dia 21 de julho, quarto e último dia do festival, darão o seu terceiro concerto em Portugal em menos de três meses (depois da Queima das Fitas em Coimbra e  do Enterro da Gata, em Braga).

Kaiser Chiefs é que não falham uma. Vistos como a pedra de toque para qualquer cartaz, darão o segundo concerto em solo nacional este ano, repetindo a dose de 2011. Ricky Wilson, o vocalista, bem tem tentado variar o show-off, mas não há como esconder o desgaste dos refrões tão batidos do grupo britânico.

O Marés Vivas TMN é, aliás, conhecido por resgatar alguns nomes que pisaram palcos portugueses há bem pouco tempo, mas afigura-se como uma excelente solução, low-cost, para quem ainda não teve oportunidade de ver ao vivo grupos como, por exemplo, Gogol Bordello.

Mais imprevistos de última hora

O Sumol Summer Fest, festival de reggae que se realizou na Ericeira no último fim-de-semana, também não ficou imune aos contratempos. Uma greve dos controladores aéreos impediu a viagem do jamaicano Beenie Man. Já o DJ Gui Boratto cancelou o concerto no próprio dia, por «motivos familiares», justifica a organização. Os portugueses Souls of Fire e DJ Ride substituiram, respetivamente, os dois artistas.

As notícias de cancelamentos estenderam-se aos concertos em nome próprio

Gallows tiraram da agenda um concerto no Hard Club, no Porto, a 16 de junho, por problemas com a logística dos transportes. A polémica em torno da atuação no TMN ao Vivo (Lisboa) do jamaicano Sizzla, fortemente contestado pelas suas letras homofóbicas, terá sido o motivo para cancelamento do concerto, apesar de não ter sido adiantada uma versão oficial por parte dos responsáveis pelo evento.

Os cinco concertos de Chico Buarque em Portugal, projetados para a primeira quinzena de setembro, também estão em risco de não se realizar. O jornal Público adianta «razões económicas». A procura de patrocínios junto de empresas portuguesas não tem tido sucesso. O último espectáculo do cantor brasileiro em Portugal data de 2006.

Nem o Optimus Alive! escapa

Não só por fazer regressar ao nosso país Radiohead, dez anos depois, mas pela coesão e diversidade, o cartaz do Optimus Alive! só pode deixar água na boca a todos os amantes de música. Mas nem este escapou à torrente de desmarcações: Lostprophets alegaram problemas de agenda, o que fez avançar Danko Jones. O canadiano atua a 13 de julho.

As notícias de cancelamentos em Portugal não são, obviamente, inéditas, mas a sua frequência nos últimos meses não tem paralelo nos anos anteriores. Apesar de algumas perdas que fazem mossa, felizmente em Portugal estamos muito bem servidos a nível musical, com a generalidade dos cartazes bastante apetecíveis. As impressões relativamente ao Rock in Rio e Optimus Primavera Sound foram muito positivas, espelhadas nas reportagens do Espalha-Factos (OPS, dias 7 e 8; 9 e 10; RiR, dias 25; 26; 1; 2; e 3).