Depois de dois anos sem qualquer intervenção no mercado musical, devido à realização do filme W.E. e com a ascensão de novas promessas durante esse tempo de pausa, Madonna provou em Coimbra que pretende continuar a ser a apelidada “Rainha da Pop” a cerca de 40 mil portugueses, num recinto longe de estar lotado.
A viagem pela MDNA Tour levou todos os espetadores para um concerto pela defesa da liberdade de expressão e virado para a verdadeira essência do ser humano. A cantora salientou-o com um discurso a apelar ao fim das guerras com o respeito pelo próximo, bem antes de cantar Masterpiece, e também com as palavras “No Fear” (“Sem Medo”) escritas nas costas para a interpretação de uma renovada Like a Virgin. Não faltaram ainda os ingredientes para defender o reino que comanda há mais de 30 anos de carreira. A cantora contou com a presença de Nicki Minaj em vídeo, durante a atuação do tema I Don’t Give A, que gritou a todos os presentes que “só há uma rainha”.
A imponência da artista ficou provada pouco tempo depois ao estar deitada com uma cruz vermelha bem no alto (na última fotografia). As tropas continuaram a defesa pelo trono na interpretação do clássico dos anos 90 Express Yourself (na fotografia abaixo), com o trocadilho das palavras “express yourself” e “respect yourself”. A provocação de Madonna começou ao colocar um pouco de Born This Way antes de cantar com toda a convicção “she’s not me”, título de um dos temas de Hard Candy (2008). Jogo de defesa para provar a todos quem é a dona do trono da Pop por direito e as intenções em continuar com o título, o outro lado da moeda para quem pediu ao público o respeito pelo próximo para terminar com as guerras.
Num espetáculo imponente pelo lado visual, por todas as coreografias e pela componente fortemente teatral, foram vários os momentos em que religião e morte estiverem presentes. Começando com a abertura, o famoso Ato de Contrição (presente no disco Like a Prayer e no início do single Girl Gone Wild) a ser ecoado com uma Madonna ajoelhada e a rezar. As gárgulas humanas e os monges dão lugar a dançarinos de salto alto com a catedral a ser estilhaçada para dançarem a primeira canção do álbum MDNA.
Ao estilo de Tarantino, as interpretações de Revolver e de Gang Bang são elaboradas com violência e referências à religião, com a artista a trepar o cenário de um quarto, colocado no meio do palco, e a pisar a cruz pendurada. O êxtase relacionado com morte, característica acentuada ao longo da carreira de Madonna, acontece com o vídeo de interlúdio Best Friend/Heartbeat, com o cenário a desenrolar-se num cemitério.
A teatralidade deixa a escuridão quando Justify My Love passa nos ecrãs, com uma cantora completamente desinibida e a relembrar a personagem Dita Parlo, famosa no início dos anos 90 na época do lançamento de Erotica. O brilho começou com os sons dos ‘flashes’ a darem início à interpretação de Vogue, com uma relembrança do soutien icónico nas roupas desenhadas por Jean Paul Gaultier para este cenário do espetáculo (na fotografia mais abaixo).
Com uma reformulação da sonoridade de Candy Shop, a interpretação de Human Nature e a atuação de uma nova versão de Like a Virgin, acompanhada por unicamente um pianista, Madonna ofereceu a noção de ausência de sensualidade para dar lugar a vulnerabilidade. A digressão MDNA serve para expulsar todos os demónios e celebrar a vida, evidenciado no início teatral negro para dar lugar a um palco recheado de luz ao longo dos diversos temas.
Todo o lado recheado de luz é mostrado com a música Like a Prayer, momento em que a artista cantou com a bandeira de Portugal nas mãos à medida que todo o palco relembrava o coro de uma igreja e um santuário, e o brilho é evidenciado com Celebration. Como se tivesse uma comunidade em mãos, Madonna pediu a toda a audiência para cantar e dançar com ela. Ainda antes, as interpretações de I’m Addicted e I’m a Sinner, do último disco, deixavam adivinhar uma beleza sem escuridão. A crítica política ficou escrita no vídeo de interlúdio Nobody Knows Me, com várias polémicas nascidas anteriormente pelo aparecimento de uma cruz suástica na líder da Frente Nacional francesa Marine Le Pen. O aparecimento de vários jovens que cometeram o suicídio por terem sido vítimas de bullying foi um dos momentos mais tocantes na pausa entre os vários cenários.
Madonna continua a ser a Rainha da Pop, é incontestável o poder e força que tem em cima de um palco. A falta de voz para cantar as músicas é compensada com uma componente extramente elevada em termos visuais e coreográficos. As provocações, a morte, a religião e a polémica estiveram presentes assim como grandes clássicos da sua carreira, como Open Your Heart e Papa Don’t Preach. As tropas e a própria Rainha defenderam bem o trono no Estádio de Coimbra.