No Gira o Disco de hoje o Espalha Factos tem o prazer de vos apresentar o perfil de uma das bandas mais influentes e polémicas da história do Rock, os Sex Pistols.
Tudo começou em Londres. Depois de uma temporada em Nova Iorque, passada a agenciar os destinos dos New York Dolls, o manager e impresario Malcolm McLaren decidiu entregar-se à tarefa de transformar um bando de putos sebosos e delinquentes num dos fenómenos mais provocatórios da cultura Pop.
Este bando tinha o nome de The Strand, e era composto por Steve Jones, nas vozes, Paul Cook, na bateria, e Wally Nightingale, na guitarra. Porém, tudo mudou quando, em 1975, McLaren decidiu fazer daqueles rapazes uma coisa “séria”. Com Nightingale de fora, Jones a passar para a guitarra e Glen Matlock a entrar para o baixo, nasciam os Sex Pistols. Tudo o que faltava era um vocalista.
Filho de operários irlandeses e com um jeito natural para a provocação e desordem, John Lydon era um jovem de 19 anos quando, em Agosto de 1975, foi descoberto por Bernard Rhodes (que supervisionava os Sex Pistols, a pedido de McLaren) num pub, envergando uma t-shirt que dizia “I Hate Pink Floyd”. Depois de uma audição na loja de roupas Sex de McLaren e Vivienne Westwood (e que levou todos os membros da banda às gargalhadas), Lydon juntava-se à banda e “renascia” como Johnny Rotten.

Seguiram-se dois intensos anos marcados por tours e concertos sucessivos, e que fizeram com que os Sex Pistols começassem a criar um culto à sua volta. Com actuações caóticas e que muitas vezes degeneravam para a violência e para o motim, o grupo conseguiu construir uma imagem que lhe permitiu tomar a dianteira do crescente movimento Punk que se começava a construir na Grã-Bretanha.
Depois de um acordo com a editora EMI, e de onde saiu um conjunto de bootlegs e demos Spunk (1977), o quarteto conseguiu chocar os ingleses com a sua aparição no programa Today da Thames Television, onde o guitarrista Steve Jones se envolveu numa troca de insultos em directo com o apresentador Bill Grundy. Após o incidente, a EMI recusou-se a distribuir Anarchy in the UK, a Tour de promoção do single viu 17 dos 20 concertos cancelados e a banda estava nas capas de todos os tablóides do Reino Unido. Aos olhos de McLaren, os Sex Pistols estavam a fazer exactamente o que se pedia deles: que disseminassem o caos na sociedade britânica.

Depois de nova sessão de gravações, desta vez para o segundo single, God Save the Queen, Glen Matlock sai, em Fevereiro de 1977, dos Sex Pistols (reza a lenda que foi devido ao seu gosto por The Beatles). É imediatamente substituído por Sid Vicious, proeminente fã da cena Punk londrina e amigo de Rotten. Sem credenciais musicais absolutamente nenhumas, Vicious toma a posição de baixista do grupo devido à sua imagem, que segundo McLaren incorporava perfeitamente o espírito niilista e destruidor do Punk que ele imaginava para os Sex Pistols.
Após uma quebra de contrato, em Março, com a A&M Records, devido a distúrbios causados pela banda nos escritórios da editora, os Sex Pistols lançaram, pela Virgin de Richard Branson, God Save the Queen, em Maio de 1977. Coincidindo com o jubileu de prata do reinado de Isabel II, God Save the Queen veio mais uma vez escandalizar a sociedade britânica de então, tendo desta vez como alvo a monarquia britânica.
O ponto “alto” do lançamento de God Save the Queen deu-se a 7 de Junho, quando McLaren planeou uma viagem de barco pelo rio Tamisa, com os Pistols a actuarem à frente do Parlamento inglês, imitando a cerimónia de festejo do jubileu que iria ocorrer dois dias depois, e que culminou com a intervenção da polícia britânica, que deteve o manager e Vivienne Westwood e apreendeu todo o material do grupo. Depois disto, os Sex Pistols dedicaram-se à gravação do seu LP, Never Mind the Bullocks.

Produzido por Chris Thomas e Bill Price, Never Mind the Bullocks contou principalmente com as gravações de Jones, Cook e Rotten, tendo Vicious sido afastado do processo devido à sua fraca capacidade musical. Lançado a 27 de Outubro de 1977, o álbum serviu como despertador para uma crescente comunidade Punk, e veio mostrar a capacidade do género de se revestir de mensagens e significados políticos. Altamente influente para a maioria das bandas Punk que se seguiram, Never Mind the Bullocks ainda é hoje apontado como um dos momentos mais importantes da história do Rock.
Depois do lançamento do disco, o resto é história. Seguiram-se alguns concertos, e uma tour americana que veio arruinar o que restava da dinâmica dos Sex Pistols. Rotten, cada vez mais isolado dos companheiros de grupo, abandona a banda a 14 de Janeiro de 1978, depois de um concerto em São Francisco. Apesar de mais algumas gravações de singles e bandas-sonoras para filmes que nunca chegaram a ver a luz do dia, este foi, efectivamente, o fim dos Sex Pistols enquanto força-motora do Punk.
http://www.youtube.com/watch?v=dtUH2YSFlVU
Após o fim, Vicious tentou seguir uma carreira a solo, e morreu a 2 de Fevereiro de 1979, vítima de uma overdose de heroína. Lydon abandonou o nome de “Johnny Rotten” e fundou em 1978 os Public Image Ltd., uma das bandas mais influentes do Post-Punk. Steve Jones e Paul Cook fundaram os The Professionals, grupo que lançou um álbum, e depois seguiram para carreiras mais ou menos modestas na música.
Nos últimos 20 anos, porém, e apesar das recusas iniciais de Lydon, os Sex Pistols já se reuniram várias vezes, para concertos esporádicos e curtas tours (tendo uma delas passado em Portugal, no festival Paredes de Coura, em 2008). Estas reuniões foram feitas com o line-up “clássico” dos Sex Pistols, que consistia de John Lydon na voz, Steve Jones na guitarra, Glen Matlock no baixo e Paul Cook na bateria.
http://www.youtube.com/watch?v=l7vvSO_nhaI
Não se pense, porém, que os quatro ficaram mais brandos com a idade. Polémicos por natureza, os Sex Pistols continuam a atrair a controvérsia de forma exemplar. A recusa em comparecerem à cerimónia de inclusão no Rock and Roll Hall of Fame, em 2006, com uma carta a chamar à instituição uma “nódoa de mijo”, ou a recente recusa em actuar na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres deste ano são só exemplos de como, mesmo depois de velhos, os Sex Pistols mantêm a atitude que os colocou no panteão dos grandes da música.
*Por opção do autor, este artigo foi escrito segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1945