O suspense fala português (ou inglês) no novo filme de Nicolau Breyner. Depois de Contrato (2009), o actor e realizador volta a aventurar-se na realização cinematográfica com A Teia de Gelo. E num ano onde o cinema nacional tem marcado forte presença, aqui surge uma boa hipótese para os amantes do género. Filmado em São Tomé e Príncipe, Serra da Estrela e Torres Vedras, A Teia de Gelo proporciona-nos paisagens deslumbrantes, e reúne um elenco com alguns nomes de peso do cinema e da televisão: Diogo Morgado, Elisa Lisboa, Nuno Melo, Paula Lobo Antunes, Margarida Marinho ou Patrícia Tavares são alguns deles. Estreia amanhã, dia 3 de Maio nos cinemas.
Nicolau Breyner quis ainda trazer novidades: este será o primeiro filme português filmado integralmente em duas línguas – português e inglês -, numa “tentativa de vender o nosso cinema para o estrangeiro, o que é fundamental”, segundo o realizador. Mais ainda, A Teia de Gelo lembrará, com certeza, alguns filmes americanos, percebendo-se facilmente o seu tom hollywoodesco. De carácter comercial, é um filme leve, onde a acção e o suspense estão presentes, e que nos deixará curiosos até ao fim.
Com argumento de Nicolau Breyner e João Nunes, A Teia de Gelo segue o percurso de Jorge (Diogo Morgado), de São Tomé e Príncipe à Serra da Estrela, um jovem ambicioso, que tenta enriquecer rapidamente desviando dinheiro da empresa onde trabalha para a sua conta pessoal. Ao ser descoberto pelo chefe (Nicolau Breyner), e já em Portugal, sente que a sua vida corre perigo e refugia-se na montanha, onde é apanhado por um forte nevão. Perseguido, gelado e perdido no meio da neve, após ter um acidente, Jorge entra nas profundezas da serra onde avista uma casa antiga, julgando-se a salvo. Mas esta casa e os seus ocupantes são mais estranhos do que se espera e há segredos que assombram o local.
A história não é original e apresenta algumas quebras, alguns vazios que ficam por preencher, coisas que ficam por contar, mas parte de uma ideia interessante, que poderá interessar aos fãs de acção e mistério. Depois de uma parte inicial mais descontraída, em São Tomé e Príncipe, a partir do momento em que o protagonista coloca os pés em território nacional os problemas, começam, e poderemos assistir a interessantes momentos de acção, com perseguições à mistura. Seguidamente, entra em cena o mistério, à medida em que nos são apresentadas as personagens que habitam a casa perdida no meio da serra.
No que toca ao elenco, o balanço é bastante positivo. Diogo Morgado revela-se uma boa escolha para o papel de Jorge, saindo-se bem, numa personagem descontraída. Margarida Marinho, como Verónica, a dona da casa que recebe o protagonista, aparece com um ar mais pesado do que o habitual, e apresenta-nos uma anfitriã com tanto de simpático como de sinistro. A veterana Elisa Lisboa tão habituada a este tipo de papel, não desilude, uma vez mais. Estreante no cinema, Patrícia Tavares oferece-nos uma interpretação consistente da jovem empregada Estela, que vive aterrada com os segredos da casa onde trabalha, conseguindo transmitir ao público o medo que a consome.
Nuno Melo, na pele do caseiro da casa, que diz apenas uma ou duas frases ao longo de todo o filme, que se passeia pela serra com uma figura ameaçadora, sempre de machado na mão, cumpre na perfeição o seu papel. Depois do incrível desempenho no filme O Barão, do ano passado, prova também aqui o grande actor que é, mesmo em pequenos papéis. Uma surpresa, para mim, foi Paula Lobo Antunes, que nunca me tinha convencido como actriz até este filme, onde confere à personagem um tom misterioso e, ao mesmo tempo, assustador. Consegue perturbar-nos verdadeiramente (a nós e ao protagonista), somente através de expressões faciais. Por outro lado, a jovem Sara Salgado foi uma péssima escolha para este filme. Apesar de aparecer em poucas cenas, o seu desempenho é demasiado forçado e com um nível muito inferior ao das restantes interpretações.
Em termos técnicos não haverá muito a apontar. A realização tem momentos muito bons, planos interessantes, aliados a uma fotografia muito boa, a cargo de Miguel Sales Lopes, com um óptimo trabalho de iluminação, e paisagens que potenciam a beleza visual das cenas exteriores. Cores quentes em África (os amarelados predominam), onde tudo era mais “fácil”, contrastam com as cores frias da Serra da Estrela. Já a banda sonora surge com altos e baixos. Com uma perseguição acompanhada por um tema de Moonspell, tudo corre bem até à escolha de The Only Thing That I Wanted de Áurea, que introduz uma quebra terrível na cena em que surge.
Não se está perante um filme arrebatador, nada disso, haverão muitas falhas a apontar a A Teia de Gelo, mas chega ao cinema comercial português algo de novo, pensado para agradar a uma boa maioria, com belos cenários e boas interpretações. A serra tem mistérios por desvendar e ninguém lhes ficará indiferente.
6/10
Ficha Técnica:
Título Original: A Teia de Gelo
Realizadores: Nicolau Breyner
Argumento: Nicolau Breyner e João Nunes
Elenco: Diogo Morgado, Paula Lobo Antunes, Margarida Marinho, Patrícia Tavares, Sandra Cóias, Nicolau Breyner, Elisa Lisboa, Nuno Melo, Pedro Giestas, Victor Gonçalves, Sara Salgado
Género: Drama, Comédia, Mistério
Duração: 100 minutos
Crítica escrita por: Inês Moreira Santos
*Por opção da autora, este artigo foi escrito segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1945.