DIA 3 – 28 DE ABRIL
A nona edição do Indie Lisboa continua a deixar a sua marca por Lisboa. O Espalha-Factos marcou presença na Culturgest para assistir à segunda sessão de curtas portuguesas em competição, com Do Céu e da Terra, Cerro Negro e Cama de Gato. A noite prosseguiu com a estreia de 4:44 – Last Day on Earth, que integra a secção Observatório. Tempo ainda para assistir a Il n’y a pas de rapport sexuel no Cinema Londres. As salas, essas estavam cheias, à exceção da sessão de curtas.
DO CÉU E DA TERRA – 7/10
A curta de animação portuguesa assinada por Isabel Aboim Inglez traz uma história entre O Incrível Homem Bala e uma princesa de um reino distante. Uma explosão de cores é o que nos traz esta curta, que mostra que mundos tão diferentes se podem encontrar. Há momentos em que o sentimento é de confusão face àquilo que se vê, mas no fim é recompensador ter acompanhado a história. Uma corrente de valores à velocidade da luz.
CERRRO NEGRO – 7/10
João Salaviza volta a marcar presença este ano no Indie Lisboa. Cerro Negro acompanha um casal de imigrantes brasileiros em Lisboa cujas vidas seguiram um rumo diferente: ele está na cadeia, ela tem de ficar em casa e tomar conta do filho. O filme tem muito potencial mas sabe a pouco. Parece que nada se desenvolve, não se entra nas entranhas daquela história. Cada um segue o seu caminho numa luta que falhou à partida. O imaginário do realizador, esse está lá do princípio ao fim.
CAMA DE GATO – 8/10
Naturalidade e simplicidade são as palavras que melhor descrevem Cama de Gato, de Filipa Reis e João Miller Guerra. Num registo que roça o documentário, esta curta-metragem traz-nos a história de uma mãe adolescente que procura conciliar as novas responsabilidades com as atividades normais da juventude. Um retrato perfeito de uma geração representada através da protagonista e das pessoas que a rodeiam, que foge a lugares-comuns e estereótipos. Uma história de amor que correu mal, as esperanças desfeitas, um sorriso perante as dificuldades. Um trabalho que agarra do princípio ao fim, pensado como um todo, em que tudo parece verdadeiro.
4:44 – LAST DAY ON EARTH – 8/10*
Abel Ferrara propõe uma temática que vem acompanhando a humanidade desde os seus primórdios: o último dia na terra. Em 4:44 – Last Day on Earth viajámos até um apartamento onde se encontram Skye e Cisco, um casal que, tal como a restante população do mundo, espera que o universo acabe exactamente às 4:44. Faltam cerca de 14 horas para tal. Preocupado com a existência humana, melancólico, reflexivo – assim se carateriza o filme e toda a ação que nele acontece. O homem põe em causa a sua condição e define no quadro das prioridades aquilo que lhe é mais importante na vida. Mesmo no fim do mundo e numa situação em que as personagens têm tudo para cair na demência é a serenidade que marca o registo deste trabalho. Porque, afinal, não há volta a dar. O destino está traçado. Traçada está também a estreia de 4:44 – Last Day on Earth nas salas de cinema portuguesas a 31 de Maio.
IL N’Y A PAS DE RAPORT SEXUEL – 5,5/10
O conceito, pelo menos, é original: como serão os bastidores dos filmes porno? Il n’y a pas de rapport sexuel, realizado por Raphael Siboni, aproveita milhares de horas de cenas de bastidores de produções realizadas por HPG (Hervé P. Gustave) e constrói uma espécie de espelho do ramo. Quem assiste rapidamente desconstrói toda a idealização feita pela sociedade em relação aos filmes pornográficos e apercebe-se que o uma área aparentemente tão desafiante afinal não o é. Também o mundo porno não é perfeito. Não podemos pedir ao filme que seja uma obra-prima (porque essa está longe de ser a sua intenção) mas percebemos que o seu objetivo é cumprido: a desconstrução de um universo envolto em mitos.
*Informação: O Espalha-Factos desenvolverá críticas mais aprofundadas aos filmes assinalados com * aquando da sua estreia nas salas de cinema portuguesas.