Os autores portugueses foram distinguidos na grande Gala SPA (Sociedade Portuguesa de Autores)/RTP 2012 – Prémio Autores que se realizou na passada segunda-feira no Centro Cultural de Belém em Lisboa. Na cerimónia, conduzida por Catarina Furtado, destacou-se o “deserto extraordinário” que seria um país sem autores.
Pelo terceiro ano consecutivo, a iniciativa vem não só premiar a “mão que cria” e o “coração que pulsa”, mas também vem dar a conhecer aquilo que é feito no campo cultural em Portugal.
Um espectáculo que apesar de longo se tornou fácil de assistir, com um ritmo equilibrado. O cenário imponente e os jogos de luzes foram o palco ideal para distinguir a arte, o trabalho, a criação e a originalidade que o país e que vem demonstrar, segundo as palavras de José Jorge Letria, presidente da SPA, que “o que se aplica em cultura e educação é sempre um investimento no futuro”.
CINEMA
Sangue do meu Sangue foi o grande vencedor da secção, conquistando três das categorias: melhor filme, melhor argumento para João Canijo e melhor actriz para Rita Blanco. O filme conta já com 22 mil espectadores no cinema, 6 mil DVDs vendidos e com a presença em 22 festivais de cinema em todo o mundo.
A nova proposta de lei para o cinema foi um dos temas falados, numa altura em que a sétima arte em Portugal conta com um “corte de 100%”.
Também Nuno Melo levou um prémio para casa: o de melhor actor, pela sua participação em O Barão. O actor agradeceu “a amizade e o génio do artista global que é Edgar Pêra”. Os vencedores da secção foram anunciados por Jorge Paixão da Costa, que defendeu que “sem autores não há cultura e sem cultura não há país”.
RÁDIO
Nuno Markl, o locutor que defende “uma rádio que conta histórias”, levou para casa o único prémio da categoria, com Caderneta de Cromos a ser considerado o melhor programa de rádio. Catarina Furtado incorporou “o velho amigo Markl”, lendo o seu discurso, já que as responsabilidades de pais tinha impossibilitado a presença do criativo no programa.
DANÇA
Icosahedron, de Tânia Carvalho, levou a distinção para melhor coreografia. A coreógrafa destacou as “dificuldades em manter os projectos de pé e resistir”. “Não desistam. Faz-se com menos mas é possível”, concluiu.
MÚSICA
Fausto Bordalo Dias foi o grande vencedor da “arte de comunicação emocional”, arrecadando os prémios de melhor canção e de melhor disco pelo álbum Em Busca das Montanhas Azuis.
A categoria apresentada pelo bem disposto António Vitorino d’Almeida e por Emanuel distingiu ainda Artur Pizarro pela Interpretação da Integral de Chopin enquanto melhor trabalho de música erudita.
O maestro Pedro Osório recebeu também homenagem no CCB, numa concretização de uma promessa feita com João Lourenço. “A única coisa que não estava combinada foi o Pedro Osório não estar connosco”, contou o vice-presidente da SPA.
LITERATURA
Mário Cláudio arrecadou o prémio de melhor livro de ficção narrativa com Tiago Veiga – Uma biografia.
José Manuel de Vasconcelos, vencedor do prémio de melhor livro de poesia com A Mão na Água que Corre, dedicou o prémio “a todos os poetas portugueses” que tornam a poesia uma característica importante do país.
A literatura infanto-juvenil viu A Casa Sincronizada, de Inês Pupo e Gonçalo Pratas, com ilustração de Pedro Brito, levar a distinção de melhor livro de 2011 no género.
TEATRO
Luís Miguel Cintra foi quem mais subiu ao palco para receber os prémios da categorias apresentada por Tiago Torres da Silva, que destacou que “o valor das pessoas é sempre incalculável”.
Cintra subiu ao palco em representação de Luísa Cruz, vencedora do prémio de melhor atriz pela peça A Varanda, mas subiria também para receber ele próprio a distinção enquanto melhor ator pelo trabalho em Ela. O actor acabou por dizer que “a nossa profissão é a mais bela profissão do mundo”.
Israel, de Pedro Penim, recebeu o prémio de melhor texto português representado e A Missão – Recordações de uma Revolução, de Mónica Calle, acabaria por ser considerado o melhor espectáculo.
Um dos pontos altos da gala foi a interpretação de João Reis e Lúcia Moniz do texto escrito por Tiago Torres da Silva e com música de Tozé Brito, À Distância de um Clique. Numa actuação muito sui generis cuja temática partia do amor virtual e da possibilidade da mentira no início da relação, o público teve oportunidade de assistir a uma história leve e bem disposta.
TELEVISÃO
A RTP levou para casa todos os prémios desta categoria, apresentada por João David Nunes e Tozé Brito. Linha da Frente, O Último a Sair e Cuidado com a Língua foram os programas distinguidos.
Bruno Nogueira e João Quadros, ao receberem o prémio, deram mais uma vez prova do humor que caracterizou o programa vencedor, O Último a Sair, considerado o melhor programa de ficção de 2011.
Diogo Infante defendeu também a importância de “preservar o património que é a língua” – tarefa desempenhada por Cuidado com a Língua, que vai já com 5 anos de exibição e 94 programas.
ARTES VISUAIS
Fora de Escala, de Manuel Baptista, recebeu o prémio de melhor exposição de Artes Visuais. O melhor trabalho de fotografia foi conquistado por João Pina com O PREC já não mora aqui.
A peça de teatro A Varanda viu o trabalho de Cristina Reis ser considerado o melhor trabalho cenográfico. Foi Luís Miguel Cintra quem subiu ao palco para receber a distinção.
MELHOR PROGRAMAÇÃO CULTURAL AUTÁRQUICA
Évora e Coimbra foram distinguidas em ex-aequo nesta categoria, a única submetida a candidaturas.
PRÉMIO AUTOR INTERNACIONAL
Foi Rui Vieira Nery, que defendeu a “cultura como melhor exportação”, quem entregou o prémio desta categoria a Imanol Uribe, um cineasta espanhol que representa “um cinema de arte, um cinema de autor e um cinema de causas”.
PRÉMIO VIDA E OBRA
Mário Soares recebeu das mãos de José Jorge Letria e João Lourenço a distinção deste ano nesta categoria, anteriormente atribuida a Júlio Pomar e Eduardo Lourenço. Uma ovação de pé do Grande Auditório do CCB foi o que recebeu o político português “autor de todos os seus discursos”. O homem que afirma que “valeu a pena ter lutado” encarou a distinção como uma grande honra e não deixou de falar sobre o seu sonho de democracia.
ACTUAÇÕES
A Gala SPA/RTP 2012 – Prémio Autores recebeu actuações duplas de Sérgio Godinho e Carlos do Carmo. Amor Electro e Adriana juntaram-se também à festa com uma actuação dos seus mais recentes trabalhos.
Fotografias e Slideshow: Sofia Noronha