Declaração de Guerra foi o filme que abriu a Semana da Crítica no Festival de Cannes 2011 e, sem sombra de dúvida, mereceu ter esse privilégio. O quarto filme realizado pela atriz Valérie Donzelli aborda uma história de amor, que resiste a todos os obstáculos.
Observamos o poder do amor no grande ecrã com uma história que preza pela simplicidade, mas que possui uma forte carga psicológica, comovendo em cada pequeno gesto. O filme descreve uma situação limite: um jovem casal depara-se com a doença rara do seu primeiro filho. Declaração de guerra levanta várias questões sobre o amor, a vida e a família.
Os nomes dos protagonistas foram escolhidos pelo seu simbolismo literário , Romeu e Julieta (Roméo e Juliette). Tal como na obra de Shakespeare, o amor dos dois é capaz de combater todas as adversidades e é posto à prova neste filme. O pequeno filho Adam também possui um nome muito peculiar que remonta ao primeiro Homem que fecundou a terra no livro do Génesis.
Um dos aspetos mais interessantes é o modo como o filme é construído em torno da banda sonora. A música tem um papel fundamental na história, modela o ritmo das cenas e marca o compasso da passagem do tempo. Existe um grande dinamismo durante todo o filme que, por um lado, apresenta planos curtos ritmados pela música e, por outro, planos longos com uma lentidão necessária que transmite uma maior intensidade nas cenas mais emotivas. Esses planos vagarosos permitem ao espectador reflectir sobre cada momento dramático, tentando projectar-se na mesma situação que os protagonistas. A pergunta é lançada à audiência: Se fosse eu o que faria?
Outro ponto que suscitou grande interesse foi o clímax do filme, o momento doloroso em que se sabe finalmente o diagnóstico do filho, a descoberta do tumor maligno no cérebro. A notícia é transmitida a todos os membros da familia, desde a mãe, pai até aos avós e amigos. A reação de cada elemento é explorada até ao ínfimo pormenor, enquanto a música das Quatro Estações de Vivaldi, Inverno, serve de pano de fundo ao drama familiar. Essa abordagem longa de cada postura das personagens face ao problema de Adam não chega a ser maçadora, pois consegue envolver cada pessoa na trama. Não se ouve choro, nem gritos, nem lágrimas de sofrimento, apenas um silêncio profundo somente apagado pela música que vai crescendo à medida que as emoções afloram na pele.
Valérie Donzelli conseguiu como realizadora, argumentista e atriz cumprir a proeza de tornar o filme maravilhoso apenas com pequenos pormenores, gestos naturais que envolvem e aproximam o público às situações apresentadas. Também é no cinema que Donzelli consegue exteriorizar os seus sentimentos e ousar extrapolar as próprias normas. A cena da jovem Julieta a correr sem rumo nos corredores do hospital e a cair de forma harmoniosa no chão, demonstra claramente essa fuga da realidade e expressão mais artística do sofrimento de uma mãe que perdeu o norte, após saber do cancro do seu filho.
Sempre com um toque de otimismo, a Declaração de Guerra é um filme que não nos surpreende pelos efeitos especiais ou complexos enredos, mas através dos sentimentos e dos pequenos momentos da vida. Declara-se guerra à doença, ao desespero, à morte, para finalmente ser-se feliz.
httpv://www.youtube.com/watch?v=sNCBgL8_ei0
9/10
Ficha técnica:
Título original: La Guerre est Declarée
Realizado por : Valérie Donzelli
Escrito por: Valérie Donzelli e Jérémie Elkaim
Elenco: Valérie Donzelli, Jérémie Elkaim, César Desseix, Gabriel Elkaim, Brigitte Sy e Elina Lowvensohn
Género: Drama
Duração: 100 minutos