“A sua necessidade de amar é maior que o seu amor”
É já de 2009 o último filme de Karim Dridi que apenas esta semana chegou a Portugal. O Último Voo é o filme que volta a reunir, enquanto protagonistas, Marion Cotillard e Guillaume Canet, que formaram um dos mais marcantes pares românticos do cinema francês da década de 2000 em Jeux d’ Enfants (Amor ou Consequência).
Ao Sahara francês, em 1933, chega Marie Vallières de Beaumont (Marion Cotillard), uma aviadora que tenta a todo o custo encontrar Bill Lancaster, o homem por que está apaixonada e que crê se ter despenhado com o seu avião naquela região de África após ter tentado bater o record na ligação entre Londres e a Cidade do Cabo.
Marie procura ajuda na companhia militar francesa estabelecida na área, contudo acaba por encontrar recusas por parte do capitão Vincent Brosseau (Guillaume Marquet), que nada mais faz por ela senão recolhê-la. Os conflitos iminentes com os rebeldes tuaregues levam a que o problema da desesperada aviadora seja posto em segundo plano por parte do capitão.
O tenente Antoine Chauvet (Guillaume Canet) é quem procura acalmar o desejo de luta do capitão, apresentando o diálogo e a compreensão pelos quais foi lutando ao longo dos anos como meio de manter a paz. Obstinado, o capitão decide ir em frente na ideia da luta para impor a soberania francesa, levando Chauvet a abandonar a comitiva militar.
Para dar algum sentido à sua fuga, o tenente decide ajudar Marie na sua busca por Bill. Juntos enfrentam um dos mais perigosos desertos, numa luta constante pela sobrevivência e pela sanidade. Ambos creem que vão conseguir encontrar Bill, custe o que custar. A busca continua até ao fim das suas capacidades e energias.
Marion Cotillard e Guillaume Canet não voltam enquanto casal, mas sim enquanto equipa, o que acaba por resultar bem. À expressividade tão natural e característica de Cotillard junta-se a força e empenho de Canet. A conjugação só poderia ser positiva para o filme, com interpretações que funcionam bem enquanto personagens individuais, mas sobretudo enquanto par que procura encontrar o aviador desaparecido.
Quanto ao argumento, ficamos um tanto ou quanto em dúvida. Se por um lado temos uma história que foge aos padrões normais do cinema, por outro lado somos confrontados com alguns espaços em branco na trama que poderiam ajudar a conseguir prender-nos mais. Somos levados para algumas situações, mas ficamos sem saber o que está por detrás delas, o que as justifica.
A isto se junta um ritmo um tanto ou quanto lento que conduz ainda mais ao nosso desprendimento, sobretudo na parte inicial do filme. Contudo, quando a busca no deserto começa, é como se nós espetadores também estivéssemos a percorrer aquelas mesmas dunas em busca de Bill Lancaster.
Mesmo num espaço que nos parece sempre igual como o deserto, Karim Dridi consegue oferecer diversidade de planos. A aposta em situar as personagens em zonas diferentes dos planos, bem como alguma ousadia em filmar a partir de locais inesperados, tornam visualmente atrativo o filme.
Somos levados para a envolvência do norte de África, não só pela riqueza visual e estética dos figurinos, cenários e planos, mas também pela banda sonora. A música que vai acompanhando o filme marca o ponto final no quadro que Dridi quis pintar através da câmara, com grande distinção.
O Último Voo é visivelmente um filme que deu trabalho a ser criado. A isto se junta uma história de amor, procura, sobrevivência e luta contra o poder. Uma narrativa que nos leva a fazer força na cadeira do cinema como se isso fosse alterar o destino das personagens no seu momento de maior aflição.
Um filme em que o sofrimento e a esperança dão as mãos e entram no próprio espetador, com uma facilidade que poucos conseguem atingir.
7/10
Título original: Le Dernière Vol
Realizado por: Karim Dridi
Escrito por: Pascal Arnold, Karim Dridi, Rémi Waterhouse a partir do livro Le Dèrniere Vol de Lancaster de Sylvain Estibal
Elenco: Marion Cotillard, Guillaume Canet, Guillaume Marquet
Género: Drama, Aventura, Romance
Duração: 98 minutos