Vistos como os “sucessores” dos U2, tanto pela forma como fundem influências no seu Pop-Rock como pela maneira como enchem estádios, os Coldplay não são uma banda consensual, mas é certo que são um dos grupos mais famosos dos últimos 10 anos, tendo construído uma discografia baseada em grandes sucessos de vendas – Parachutes (2000), A Rush of Blood to the Head (2002), X&Y (2005), Viva la Vida (2008) – que já rendeu à banda cerca de 50 milhões de cópias vendidas. Este ano, em finais de Outubro, Chris Martin e companhia lançaram o seu quinto LP, Mylo Xyloto, que será hoje analisado.
Confesso que nunca morri de amores pela música dos Coldplay. Contudo, devo reconhecer que são uma banda com provas dadas no campo do Pop-Rock, e estaria a mentir se dissesse que me são indiferentes. Porém, a verdade é que o rumo que a banda decidiu tomar a partir do seu terceiro álbum, X&Y, não me tem agradado particularmente. Acusações de plágio à parte, a música de Viva la Vida soou-me, apesar dos pontos fortes, algo dispersa e pouco sincera, pelo que fiquei de pé atrás com o grupo londrino. E, infelizmente, as minhas suspeitas confirmam-se, pois Mylo Xyloto consegue ser, a meu ver, ainda pior que o seu antecessor.
Se em Viva la Vida tínhamos uns Coldplay a apostarem num som grandioso e forte, alicerçado em portentosos arranjos orquestrais, em Mylo Xyloto assistimos a uma viragem para tendências mais próprias da Electropop, que se misturam com a estética acústica que sempre caracterizou o som da banda. Porém, a mudança para terrenos mais dançáveis não se traduz numa alteração de raiz do som do grupo, que mantém a sua identidade de forma bastante vincada, e que faz com que o quarteto continue a produzir viciantes canções Pop.
Na produção, a cargo dos já repetentes Brian Eno, Markus Dravs, Rik Simpson e o “estreante” Daniel Green, consegue-se reparar na aposta por uma sonoridade polida e bem definida, mas bastante diferente do “esplendor” do seu antecessor. Na voz, Chris Martin mantém-se igual a si mesmo, enquanto que nas letras a banda continua-se a sentir o tom “romântico” que caracteriza as líricas dos Coldplay. Resumindo, os quatro britânicos continuam, apesar das mudanças, a fazer a Pop que sempre fizeram.
No entanto, se há coisas boas a dizer deste Mylo Xyloto, a verdade é que as críticas também existem, e não são poucas. A começar, a falta de audácia que tem vindo a caracterizar a música dos Coldplay, e que continua a ser evidente neste quinto registo; apesar de mostrarem uma face mais dance floor friendly, os Coldplay continuam a apostar em “terreno seguro”, mostrando-se incapazes de saírem da sua zona de conforto para mostrar algo de verdadeiramente inovador ou surpreendente.
Outro defeito que devo apontar é a inconsistência do disco, que se faz notar a partir da segunda metade de Mylo Xyloto; se é verdade que as primeiras músicas do álbum estão bastante boas, a verdade é que este LP acaba, a meu ver, por perder a meio o seu fulgor inicial, caindo para um marasmo que não me agradou de todo.
Como pontos altos deste Mylo Xyloto destaco a viciante Every Teardrop Is a Waterfall, a bela Charlie Brown, e a minha favorita, a fervilhante e fresca Hurts Like Heaven. As peças mais fracas deste LP são, no meu entender, Us Against the World, Princess of China e Up With the Birds, canções que me pareceram bastante pobres e desinspiradas.
Resumindo, Mylo Xyloto é, apesar da roupagem mais dançável e da abordagem mais electrónica, tudo o que se poderia esperar um disco dos Coldplay, e isso tanto é bom como mau; se por um lado a fórmula, assente em ritmos Pop viciantes e letras extremamente catchy, produz aqui algumas canções de inegável brilho, por outro também forjou peças que não me encantaram de todo. O som dos Coldplay precisa, a meu ver, de uma remodelação urgente, que mostre uma nova face do grupo de Chris Martin e que os retire da espiral de declínio em que os seus álbuns entraram.
Nota Final: 5,4/10