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Bublé Christmas

Natal à la Bublé

Parece que o Natal chegou mais cedo este ano. O novo disco de Michael Bublé, intitulado Christmas, está nas lojas de todo o mundo desde o passado dia 24. É o álbum que Bublé sempre quis fazer e é também aquele que sempre quisemos que ele fizesse. Moderno, inteligente, sereno, é um maravilhoso álbum de Natal e um grande regresso do músico, dois anos depois de Crazy Love.

De facto, a quase dois meses do Natal, It’s beginning to look a lot like Christmas. A canção assim designada, popularizada por Bing Crosby, é aqui tratada por Bublé de forma semelhante, com o classicismo sempre presente. Adquire, no entanto, um toque de modernidade, e é maravilhosa a forma como Bublé lhe oferece uma melodiosa e suave voz. Não podia abrir melhor o álbum.

Christmas prossegue com os clássicos. Santa Claus is Coming to Town está também semelhante ao original, com grande destaque dado à banda de Bublé e algumas variações de voz do cantor canadiano, que fazem a música ganhar ritmo. Já o dueto com as The Puppini Sisters dá uma sonoridade totalmente nova a Jingle Bells, com as três vozes em tons diferentes a dominarem por completo o refrão. Bublé confere-lhe o seu charme musical e impede que a música, que estamos já fartos de ouvir, se torne monótona e aborrecida.

O ponto menos positivo do álbum é a versão de White Christmas, em dueto com Shania Twain. Tem um ritmo diferente e, com duas ou três audições, acaba por agradar ao ouvido, mas a uma primeira audição fica muito aquém do original. A banda tenta dar-lhe um tom clássico, ao mesmo tempo que o conjuga com o ritmo moderno. No entanto, a meu ver, peca pela exagerada tentativa de modificação. E o original de Bing Crosby é tão, mas tão bom.

A primeira aposta ganha é All I Want for Christmas is You, consideravelmente melhor do que o original de Mariah Carey. Bublé dá-lhe o seu toque pessoal, alterando o ritmo, dando uma nova entoação à música. Não deixa de ser pop, mas tem uma serenidade que uma voz feminina não lhe oferece tão bem, e que a voz de Bublé transmite na perfeição. É uma deliciosa balada natalícia que não pretende ser mais do que é, uma versão que fica no ouvido.

Bublé deseja um Holly Jolly Christmas na sexta faixa, uma boa música, ritmada, que apetece acompanhar com alguns passos de dança. No mínimo, é impossível não bater o pé no chão e abanar a cabeça. Por seu lado, a Santa Baby falta compasso, falta algo que a diferencie no contexto do álbum. Não deixa de ser, contudo, agradável de ouvir, como se de uma versão clássica se tratasse.

Have Yourself a Merry Little Christmas beneficia muito com a voz de Bublé, forte, afinada, sempre melodiosa. É uma canção fantástica e é um prazer ouvi-la cantada por ele. O arranjo transmite na perfeição o espírito natalício da música. Christmas (Baby Please Come Home) continua a tradição de boas versões deste álbum. Quando Bublé canta “please!”, apetece implorar com ele, pedir que ela volte para casa. Afinal de contas, é Natal. E o pedido dele é tão sincero que a música se torna sua, sem ele ou o próprio ouvinte do álbum se aperceber.

Blue Christmas retrata um Natal mais sombrio, mas é tudo menos uma música sombria. Tem um ritmo jazz que cativa desde o primeiro momento e a banda merece ser destacada pelo magnífico trabalho. Bublé faz de si próprio, canta com a alma que já lhe conhecemos, uma aura clássica que poucos conseguem transmitir. E interpreta aqui uma das melhores músicas do álbum. A versão de I’ll be Home for Christmas é outro clássico que mantém o espírito da original, calmo e cativante – é nestes momentos que relembra Bing Crosby e Frank Sinatra, com os arranjos igualmente tradicionais.

As músicas mais religiosas não faltam nesta ode ao Natal. Em Silent Night, Bublé é acompanhado por um coro de crianças e, mais uma vez, cumpre o que se propõe. É harmoniosa, não fica atrás das que ouvimos frequentemente na época natalícia. Em Ave Maria, Bublé até canta em latim. Volta a não se afastar muito da música em si, oferecendo-lhe, no entanto, uma melodia peculiar, que a torna verdadeiramente agradável.

O álbum contém apenas duas músicas originais, escritas por Bublé e o seu amigo pianista Alan Chang. Cold December Night é uma balada pop que tem um ritmo natalício próprio, e a verdade é que não é difícil ‘fall in love’ por ela. Conjuga o Natal e o romance, como tantas outras, sem se tornar demasiado aborrecida. A segunda é Mis Deseos, mesclada com a conhecida Feliz Navidad no dueto com Thalia, em espanhol. O refrão introduz um ritmo latino que dá um tom versátil ao álbum, e sabe bem ouvir Bublé cantar em inglês por cima do espanhol de Thalia. Uma música natalícia bem alegre.

httpv://www.youtube.com/watch?v=oKkC46QZa0k

De destacar ainda os seis segundos em que Michael Bublé deseja um feliz Natal aos ouvintes do álbum, ao terminar o lote de quinze músicas do álbum. As restantes três são um bónus natalício encantador, que se inicia com uma versão animada de Winter Wonderland. Frosty the Snowman volta a juntar o canadiano às The Puppini Sisters, que fazem lembrar os coros burlescos e combinam agradavelmente com a voz dele. Para finalizar, os Naturally 7 fazem os back vocals de Bublé em Silver Bells, numa versão tranquila do clássico natalício.

Very soon it will be Christmas day’. Não falta assim tão pouco, mas este Christmas parece ter antecipado o espírito natalício. Muitos álbuns foram já editados sob o tema Natal, alguns grandes álbuns que ainda hoje circulam na boca do povo. Espero que este seja mais um. Apesar de ser maioritariamente composto por covers, assim como muitos outros álbuns de Bublé, merece ser ouvido e apreciado, no Natal ou quando o Homem quiser. É longo, mas é consistente. É uma boa hora de música. E não podia haver melhor prenda de Natal.