HH – HITLER À HOLLYWOOD – 9/10
HH – Hitler à Hollywood foi o primeiro de dois filmes com a portuguesa Maria de Medeiros a passar no quarto dia de Festa do Cinema Francês (cuja análise pode ser encontrada aqui). A actriz não faltou à sessão, assim como o realizador deste “falso documentário”, Frédéric Sojcher. E chamo-lhe assim pois tudo o que à partida começa por parecer um documentário sobre uma actriz mítica, revela-se muito mais que isso. Maria de Medeiros parte pela Europa numa aventura como se fosse uma espécie de “Tintin feminino”, como ela própria se classificou, na descoberta dos segredos que envolvem o desaparecimento de dois filmes e do seu realizador.
Neste filme insólito, Sojcher coloca Maria de Medeiros a vestir a sua própria pele, como a realizadora que prepara um documentário sobre a actriz francesa Micheline Presle, que começou a filmar nos conturbados anos 30. Micheline fala-lhe de um realizador com que trabalhou em 1939, Luis Aramcheck, que terá desaparecido misteriosamente em 1946. O filme em que entrou, Je ne vous aime pas, também se perdeu. Em busca desse filme, Maria de Medeiros descobre a existência de um outro absolutamente desconhecido, Hitler à Hollywood. Na procura incessante por qualquer sinal dos filmes e do realizador, ela não sabe que está a pôr a sua vida e a de outros em risco.
HH – Hitler à Hollywood consegue explorar de forma divertida e, por vezes, hilariante o que há de mais obscuro na história do cinema mundial, por entre conspirações, perigo e muito mistério. Muito presente é a crítica ao facto de nunca até agora se ter conseguido colocar os filmes europeus aos mesmo nível dos de Hollywood em termos de distribuição, lembrando a ausência de uns estúdios semelhantes por cá. O que se faz por terras americanas parece ficar sempre muito mais na memória do que o cinema europeu de autor, e, neste filme, brinca-se com isso através de Maria de Medeiros e Pulp Fiction.
No debate posterior à projecção do filme o realizador focou esse ponto. E não se coibiu de falar do problema dos sucessivos cortes financeiros na cultura, que hoje se dá em Portugal mas que se estende da mesma forma aos outros países europeus. “Sabemos qual o preço da cultura, não sabemos qual o preço a incultura”, disse, relembrando a ideia já desenvolvida por Victor Hugo.
HH – Hitler à Hollywood é brilhante também por não se perceber exactamente onde começa a ficção e pára o documentário, o que é verdadeiro ou falso, e isso torna-o mágico. Como a própria Maria de Medeiros afirmou em tom de brincadeira: “Frédéric manipula tudo, até os arquivos”.
As cores do filme são outro ponto que o torna diferente e único, bem como a banda sonora. E, mais ainda, para além de Maria de Medeiros (com uma prestação divertidíssima) e Micheline Presle, Sojcher consegue aqui reunir nomes como Théo Angelopoulos, Nathalie Baye, Manoel de Oliveira, Marc Ferro, Gilles Jacob, Andrei Konchalovski, Emir Kusturica e Wim Wenders.
httpv://www.youtube.com/watch?v=OAzEwDu-DkE
Crítica escrita por: Inês Moreira Santos