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As Lágrimas Amargas de Petra von Kant ©António Ferreira_5

Lágrimas que caem Amargas

Quarenta anos após a sua estreia, uma das obras mais conhecidas do cineasta alemão do pós-guerra Rainer Werner Fassbinder, de seu nome As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, chega às salas de teatro nacionais.

A Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II recebe de 15 de Setembro a 6 de Novembro, de quarta a sábado às 21:15 e aos domingos pelas 16:15, a história de Petra Von Kant, uma estilista de sucesso alemã com uma personalidade arrogante e egocêntrica.

A peça, que marca a estreia do realizador António Ferreira na encenação em teatro, dá a mote para a reflexão, entre outras coisas, sobre as relações amorosas e a sua evolução em sociedade. Um confronto entre o que o texto apresentava há quarenta anos atrás e o que se passa na contemporaneidade. Um confronto esbatido pelas vastas semelhanças que saltam à vista.

Custódia Gallego, Diana Costa e Silva, Inês Castel-Branco, Isabel Arnauth, Paula Mora e Cláudia Carvalho reúnem-se em palco para dar corpo e alma a estas personagens, com interpretações irrepreensíveis e realistas. Destaque ainda para os figurinos, a cargo de José António Tenente, que adicionam um toque bastante feminino e que reforçam uma época intemporal.

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Um cubo no escuro. Soa o barulho de saltos altos no silêncio. É Marlène, a secretária e a única pessoa próxima de Petra Von Kant. Um cenário que se transforma de forma soberba. A história pouco conhecida da solitária estilista ao pormenor.

Petra acaba de sair de uma relação que falhou. “Quando uma relação se estraga vem o nojo, o ódio”. Um ódio não só contra o marido, mas contra o género masculino na sua totalidade. Um nojo das tentativas pouco inteligentes de salvar aquilo que já estava morto à partida. “Acabar o meu amor por ele” é a única solução.

A partir daí uma luta para estabelecer uma nova vida. Uma nova vida sem partilha, em que os problemas são guardados para nós mesmos, uma vida solitária. A noção de que o processo não é fácil e que há-de fazer cedências. A noção de que o apoio que necessitamos pode vir de onde menos se espera. Marlène é o suporte de Petra Von Kant, mais do que sua secretária é a sua confidente e sobre a patroa sabe tudo o que há para saber. Escuta atentamente sem soltar qualquer som. Ouve e apaixona-se. Uma paixão silenciosa, mas forte. “Também eu tive de lutar, e com força, muita força”.

A vida da estilista estava prestes a mudar com a chegada de Karin, uma bela jovem com todas as condições para vingar como modelo. A paixão de Petra surge na hora, no minuto, no segundo em que os seus olhos se cruzam com os da jovem. A partir daí surgem planos, vontades, desejos que não podem deixar de ser cumpridos.

“Você tem uma bela figura Karin, merece uma oportunidade. Venha-me visitar quando puder. Eu vou fazer… de ti um modelo de grande classe. Palavra! És bela, Karin”. Uma beleza que conquista, uma beleza que descontrola, uma beleza que enlouquece, uma beleza que aproveita a oportunidade. Um aproveitamento máximo da oportunidade por parte de Karin. A convite de Petra, acaba por mudar-se para a sua casa e passa a viver às suas custas. Isto em troca de um amor que ela própria sabe ser incapaz de retribuir.

Mas os sonhos de Petra não se desfazem porque a estilista acredita que “está tudo traçado de antemão, de uma maneira ou de outra”. Ultrapassam-se os preconceitos que envolvem a homossexualidade por parte de quem “nunca, nunca senti amor por uma mulher”, porque no final” juntas seremos felizes”. Sentimentos nunca dantes experienciados, dúvidas que se esbatem com o passar do tempo, certezas que se reforçam.

Perde-se a conta das vezes que os lábios solta “Amo-te. Amo-te Karin, amo-te”. Um amor que roça a loucura e com perfeita noção de que se sabe para onde ele se encaminha. “Sou louca, Karin, louca! É belo ser louco. É loucamente belo ser louco”.

A traição esperada acontece, mas o desejo de que tal não passe de um pesadelo é mais forte. O saber-se que se foi usada e nada poder fazer. O engano a si própria torna-se arma de defesa.” Sim, mente-me. Por favor, mente-me”. O adeus impiedoso e que por vezes é encarado como irreal. O regresso ao que já fomos, ao que já vivemos, ao que já sofremos.

“Dói-me tanto o coração. Como se me tivessem enterrado uma faca no peito. Amo-te, não posso fazer nada contra isso. Preciso de ti, Karin. Preciso tanto de ti. Se soubesses como dói…”.

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