Quando, há 10 anos, Smallville começou, era mais uma tentativa teen da WB. Com a particularidade de acompanhar o crescimento de Clark Kent (Tom Welling), que viria a ser o Super-Homem, aqui numa faceta mais humana e com todos os problemas de um qualquer adolescente, a descobrir os seus poderes, as suas fraquezas, e até os amores e desamores típicos da idade. A crítica a dez anos de série, que esta semana terminou na FOX Portugal.
10 anos depois, muita coisa mudou, e Smallville ergue-se entre as séries com mais tempo de emissão televisiva. Dos enredos teen passou-se a uma aproximação muito forte aos temas da mitologia Superman e o crescimento da personagem variou entre os seus problemas enquanto ‘humano’ e a sua aceitação da condição que tinha, de kryptoniano destinado a ser ‘o maior herói que este mundo já viu’.
Num percurso bastante acidentado, e com bastantes falhas pelo caminho, Smallville termina melhor do que seria de prever e até algo reconciliada com os fãs, que se foram perdendo no meio dos avanços e dos recuos da história, e em Portugal, nas grelhas televisivas – a emissão inconstante, em múltiplos dias e horários, na RTP1, na RTP2 e nos vários canais FOX, comprova-o.
As primeiras cinco temporadas foram de grande sucesso. A combinação entre os meteor freaks, alguns pormenores mais relacionados com a futura história do Super-Homem, como o conturbado relacionamento amor-ódio com Lex Luthor (Michael Rosenbaum), e a vida ‘normal’ em Smallville: com a família Kent, a amiga Chloe Sullivan (Allison Mack) e a sempiterna musa Lana Lang (Kristin Kreuk), eram o truque por detrás deste cocktail bem-sucedido.
A partir daqui, e já saindo do plano inicial da série, que pelo sucesso acabou por sucessivamente esticada até à 10.ª temporada, partiu-se para temas mais intergalácticos, com a CW a esticar a corda e a levar um herói que não era ainda Super-Homem a enfrentar adversários que supostamente só chegariam quando ele estivesse nessa fase. No meio de tanta invenção, até houve personagens a chegar antes do tempo, como Jimmy Olsen (Aaron Ashmore), mais velho da oitava temporada, curiosamente igualzinho ao mais novo, que surge no final da décima, ou Lois Lane (Erica Durance), a saber quem era o herói antes do tempo previsto na história oficial.
Mas contra isto não tenho nada, porque eu sou daqueles que considera que Smallville podia, a exemplo de alguns filmes e séries sobre super-heróis, ter feito uma ‘recriação’ dos enredos, criando uma mitologia própria, como adaptação livre, e ter dado novos destinos a Clark. Mas se era para fazer isto, evitavam-se os equívocos com Lana ou Chloe, cujos perfis das personagens foram tantas vezes alterados que nem pareciam as mesmas que estavam nas primeiras duas ou três temporadas e evitava-se ainda o prolongar do sofrimento com os diversos avanços e recuos no romance ‘Clana’ – acrónimo designado pelos fãs para definir o casal Clark e Lana.
A própria Lois Lane, lançada cedo demais na série – surgiu na quarta temporada sem função nenhuma – acabou por sofrer com tudo isto, tendo demorado a encontrar o seu papel na trama e até mesmo a conseguir uma química aceitável com Clark. Só no fim, numa décima temporada ardilosamente preparada para o efeito, conseguimos todos perceber, graças à excelente interpretação de Erica, o porquê de os dois terem de ficar juntos.
Clark foi-se construindo, ao longo destes dez anos, como uma personagem cada vez mais complexa e largando um pouco as suas facetas mais inseguras e ‘deprimidas’, que acabavam por esconder, muitas vezes, a sua atitude heróica. O seu percurso final, aceitando já o destino que lhe está reservado, e tornando-se na luz que vira o jogo contra a escuridão, acaba por ser demasiado minimalista, tendo em conta os muito mais difíceis e demorados duelos que enfrentou nestes 10 anos de Smallville.
No fim, vemos ao longe o herói vestido de Superman, na transição para um novo ciclo, uma nova vida, já em 2018, o Homem de Aço. A hipótese de uma continuação, já em Metrópolis, fica em aberto e, depois de tudo isto, apesar dos altos e baixos, sabemos que a série deu também uma nova vida ao herói. No entanto, será difícil partir para um filme, como o que está actualmente a ser rodado, sem as inevitáveis comparações e colagens, e a verdade é que Tom Welling fica a merecer, depois de tudo, a consagração nos cinemas. E ele não põe de parte esse destino.
Até lá, e soubemos hoje, quem quiser recordar toda a história, não perca todos os dias, às 09h40, 12h40 e 01h30, a repetição de Smallville desde a primeira temporada na FOX Portugal – esperemos que agora dê até ao fim.