O duende completa este ano quatro primaveras, mas foi no ano passado, com o álbum de estreia, que alcançou verdadeiramente o sucesso. Tem nome de personagem da Guerra das Estrelas, fala das vidas dos outros e coloca sempre no ar questões que normalmente ficam guardadas cá dentro. Senhoras e senhoras, é o Anaquim.
José Rebola nem trinta anos tem, ainda, e no seu rol de projectos musicais contavam-se já as bandas The Speeding Bullets e The Cynicals, quando decidiu enveredar por um caminho diferente. O cantor, compositor e guitarrista de Coimbra é o mentor de Anaquim, o seu alter-ego, cujo nome se baseia num dos seus grandes heróis de infância, Anankin Skywalker, da Guerra das Estrelas. Anaquim nasce em 2007 e desde aí não tem parado de surpreender.
Começa por ser um projecto a solo, no qual Rebola descobre efectivamente o propósito da sua voz, mas depressa sente necessidade de lhe juntar um conjunto de músicos para o acompanharem nesta jornada. Seus cúmplices tornam-se então João Santiago (bateria, percussão), Pedro Ferreira (melódica, guitarra acústica, jogo de sinos, guitarra eléctrica, piano, voz), Filipe Ferreira (baixo, voz) e Luís Duarte (guitarra acústica, banjo, jogo de sinos, kazoo).
2008 é o ano da estreia oficial dos Anaquim, com a primeira aparição pública em Abril, numa iniciativa da Rádio Universitária de Coimbra, e com o reconhecimento do talento da banda na compilação Novos Talentos FNAC 2008. Meses depois, é a vez dos Anaquim figurarem no primeiro Kilómetro Zero, programa apresentado por JP Simões na RTP2, com o intuito de divulgar novas bandas portuguesas fora do circuito comercial. JP Simões fora já um dos mentores da formação da banda e um dos mais elogiosos do seu trabalho.
O primeiro EP dos Anaquim, Prólogo, é também lançado em 2008, contando com cinco faixas, entre as quais se destacam Na Minha Rua e Horas Vagas. Prólogo é o ponto de partida para um sem número de concertos nos meses que se seguem e para o despertar da atenção da Universal, que decide apostar num projecto estreante.
As Vidas dos Outros surge em 2010, marcando a estreia discográfica dos Anaquim. José Rebola vê Anaquim como “um duende que cai aqui vindo do nada e que tem oportunidade de fazer uma crónica sobre o que se encontra à sua volta sem estar marcado pelo peso da tradição ou de um passado”. Assim, o álbum é um retrato de Portugal aos olhos de uma personagem fictícia, em dezasseis crónicas urbanas, tendo como primeiro single a canção homónima, As Vidas dos Outros, que começa logo por mostrar a simplicidade das vidas das outras pessoas, em comparação com a nossa própria.
httpv://www.youtube.com/watch?v=l_fNv8k5ZnA
Não se limitando a um só género, Rebola admite que o álbum é uma “grande salada de fruta em termos musicais, porque abarca muitos estilos” e influências, de cantores portugueses como Sérgio Godinho e Zeca Afonso, da música francesa, balcânica ou country. Numa mistura de bluegrass com jazz, rock’n’roll, indie e acústico, entre outros estilos, Anaquim canta na primeira pessoa, de forma alegre, contando histórias de nós e dos outros, pondo a dançar os monstros que nos atormentam.
Lusíadas é o mais recente single deste A Vida dos Outros, fazendo um retrato profundo do país, de forma oposta à epopeia de Camões, numa representação crítica dos portugueses e da sua forma de enfrentar a vida. Lídia é outro dos pedaços do álbum, com uma forte presença do estoicismo e epicurismo, num dilema moral do duende Anaquim, que prefere viver a vida e aprender com os seus erros.
Do álbum fazem ainda parte temas como Chama-me Vida e O Meu Coração, viagens pelo amor e a entrega, a primeira mais calma, a segunda mais animada. O Meu Coração marca ainda a colaboração de Anaquim com Deolinda, nas pessoas de José Rebola e Ana Bacalhau, mostrando a ligação inevitável entre as bandas, na subtileza com que cantam sobre Portugal e com Portugal na voz.
httpv://www.youtube.com/watch?v=YngOO6bK4DE
Já em 2011, os Anaquim gravaram a sua própria versão de Tom Sawyer, para o álbum Missão Sorriso do Continente, encontrando-se a preparar uma reedição do disco de estreia. Os concertos vão-se sucedendo, passando pela Queima das Fitas de Coimbra e pelo Cinema S. Jorge, em Lisboa. Ainda na semana passada a banda passou pelo Festival Marés Vivas e, entre os próximos concertos, encontram-se o espectáculo no Dolce Vita Tejo State, a 25 de Agosto, e outro em Ponta Delgada, nos Açores.
As Vidas dos Outros entrou directamente para o 12º lugar do Top nacional de vendas e consolidou a banda como uma das revelações dos últimos anos no nosso país, bem como a voz e a caneta de José Rebola, que fazem dele um dos grandes cantores e letristas da actualidade.
Como o próprio define, este primeiro disco “é um álbum não para se ouvir uma vez e entrar logo. É como o vinho do Porto: é para se ir ouvindo, ir envelhecendo e ir redescobrindo. É um álbum que se pode ouvir 100 mil vezes sem cansar e há sempre qualquer coisa para descobrir”. Tal como o Anaquim, que continua a andar por aí à procura da portugalidade que falta à sua volta e que incorpora nas suas músicas. E que tem a missão de revelar ao mundo as suas descobertas.
“Anaquim, é o Anaquim, andando por aí em tropelias sem fim. (…) Preparem-se para escutar, o Anaquim está a chegar”. Mais informações sobre a banda podem ser encontradas no Myspace oficial, no Facebook oficial e no Youtube oficial.