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Harry-Potter-and-the-Deathly-Hallows-Part-2

A Derradeira Magia

Passaram já dez anos desde que a magia chegou aos cinemas de todo o mundo. Agora em 2011, chega a hora em que os encantamentos se quebram e os milhões de fãs têm de se despedir do jovem feiticeiro dos livros de J. K. Rowling com o derradeiro filme Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2.

David Yates volta a estar ao comando e, mais uma vez, o seu trabalho é de qualidade. Este último filme merecia, apesar de tudo, uma maior duração para que, para além de todo o espectáculo visual, se pudesse desfrutar realmente da história, que acaba por ser deixada um pouco de parte. Ainda assim, este é provavelmente o filme que mais mexe com as emoções de quem vê, é forte, comovente e, mais ainda, deixará sempre uma sensação de vazio, de saudade, por ser o último da saga.

Harry (Daniel Radcliffe), Ron (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) prosseguem a sua missão de encontrar e destruir os Horcruxes, que tornam Voldemort (Ralph Fiennes) imortal, ao mesmo tempo que não se podem deixar apanhar pelos Devoradores da Morte. O confronto final entre o bem e o mal é inevitável desde o início, e a batalha entre os dois lados vai originar uma guerra sem precedentes. Ninguém está seguro, mas é Harry Potter quem terá de fazer o sacrifício final. A luta com Lord Voldemort aproxima-se. Muitos segredos serão revelados neste último capítulo.

Se a primeira parte dos Talismãs da Morte (cuja crítica do Espalha-Factos pode ser encontrada AQUI) já tinha sido um filme sombrio, a segunda consegue superá-la a léguas nesse aspecto. É notório como os filmes de Harry Potter amadureceram muito ao longo destes dez anos. A partir de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban isso foi cada vez mais notório, chegando agora ao ponto de se poder afirmar convictamente que a segunda parte dos Talismãs da Morte deixou mesmo de ser um filme para “meninos”. Muito sangue, muitas mortes e cenas por vezes impressionantes não faltam. A própria escola de magia de Hogwarts deixou de ser o lugar seguro que sempre fora desde a Pedra Filosofal e apresenta-se como nunca antes foi vista. É ela que serve de cenário ao combate entre os feiticeiros do bem e do mal e é lá que tudo acontece.

A realização de David Yates, que está ligado aos filmes Harry Potter desde a Ordem da Fénix e que, desde aí, tem vindo a melhorar consideravelmente o seu trabalho, é, como já referi, muito boa. Contudo, teria sido importante deixar com que a acção se desenvolvesse com o tempo que merecia e não de forma tão rápida, onde algumas questões se vão perder. Ao contrário de Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 1, onde as cenas tinham tempo para respirar (por vezes até demais), e onde houve muito tempo para poucos desenvolvimentos na acção, esta segunda parte precisava que a história do livro fosse mais bem desenvolvida, bem como as cenas de acção que deixam o público com vontade de ver mais. Steve Kloves fez, a meu ver, um melhor trabalho no anterior filme no que toca ao argumento. Aqui, há questões mal explicadas, e, se o espectador não tiver lido os livros irá, decerto, ficar confuso.

Mais ainda, é impossível ver este filme e percebê-lo sem se ter assistido ao primeiro Talismãs da Morte, e esta é mais uma razão pela qual continuo contra a divisão em dois. Para além de se ter de ver obrigatoriamente ambos os filmes, de Novembro para Julho, a menos que se tenha revisto a primeira parte, muitos dos pormenores já terão sido esquecidos.

A direcção de fotografia esteve mais uma vez a cargo do português Eduardo Serra e o seu trabalho é excelente, bem como os cenários sempre impressionantes. Os efeitos visuais são, como sempre, de destacar e “fazem o filme” talvez mais do que deveriam. A caracterização é fantástica, só não se compreende a pouca caracterização na cena final, quando as personagens deveriam mesmo parecer mais velhas, não caindo no ridículo como inevitavelmente acontece.

A opção do 3D neste último filme não traz absolutamente nada de novo. É desnecessário e acaba por apenas distrair, confirmando-se que esta terá sido uma opção puramente comercial.

O elenco, sempre de luxo, continua a contar com as caras do costume, de onde se destacam as prestações dos três protagonistas, que tanto têm crescido ao longo dos dez anos. Daniel Radcliffe mostra-se à altura das muitas cenas de acção que protagoniza, Rupert Grint continua a arrancar sorrisos ao público e Emma Watson, sempre elegante, revela-se uma grande guerreira neste filme. Ralph Fiennes, mais uma vez irreconhecível como Lord Voldemort, continua a brilhar.

Matthew Lewis, na pele de Neville Longbottom, tem neste Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2 um papel de muito maior destaque. Neville deixou de ser o rapazinho tímido e ingénuo para se transformar em um dos grandes heróis do filme, mostrando toda a sua coragem, e Lewis sai-se muito bem. Quem também detém muito mais protagonismo é a veterana Maggie Smith, que encarna uma Minerva McGonagall cheia de coragem e poder, contrariando a sua imagem frágil.

Depois da muito curta aparição no primeiro Talismãs da Morte, Alan Rickman tem finalmente grande destaque neste filme. Severus Snape oferece uma das cenas mais emotivas deste Talismãs da Morte, a par das mortes e do reaparecimento de algumas personagens.

A banda sonora volta a ser uma das melhores coisas do filme. Alexandre Desplat regressa e mostra uma vez mais o excelente compositor que é. Os 25 temas são de uma intensidade tremenda que chega a arrepiar. Há uma harmonia incrível entre imagens, acção e música.

Sou uma assumida fã de Harry Potter e talvez por isso tenha elevado demasiado as expectativas para este capítulo final, mas a verdade é que saí um pouco desiludida da sala de cinema. Contudo, reconheço que Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2 não deixa de ser o digno final da saga. Tem momentos de acção muito bons, desempenhos de alto nível e banda sonora e fotografia de uma qualidade muitas vezes subvalorizada. É, acima de tudo, o último filme dos oito que marcaram não apenas uma geração (que cresceu com eles), mas muitas outras. A magia acaba aqui, mas irá permanecer decerto bem presente, já que esta é uma das sagas que ficará na história do cinema.

8/10

Ficha Técnica

Título original: Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2

Realizado por: David Yates

Escrito por: Steve Kloves, a partir do livro de J.K. Rowling

Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, John Hurt, Ralph Fiennes, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Matthew Lewis, Maggie Smith

Género: Acção, Aventura, Fantasia, Drama

Duração: 130 minutos

Crítica escrita por: Inês Moreira Santos

  1. Olá Inês,

    Antes de mais nada, concordo com algumas coisas que dizes, nomeadamente o referido afunilamento do filme, o pouco desenvolvimento da história e a caracterização “quase ridícula” das personagens 19 anos depois.

    Ainda assim, tenho algumas coisas a apontar.

    O pouco desenvolvimento da história é uma coisa que marca não só este último filme como todos os outros filmes da saga. Eu, que li os livros na versão original e em português (sim, sou um fã do caraças do HP), demorei um pouco até me deixar de sentir “enganado” por não aparecerem nos filmes pormenores que, para mim, são essenciais no filme e marcam o livro, o género e até a escrita de Rowling. Mas a verdade é que não se adaptam livros inteiros, há argumentos e adaptações, tudo bem. Portanto, embora seja uma coisa incómoda, é uma coisa que está sempre inerente a uma adaptação como foram estas da saga Harry Potter. Assim, talvez o mais certo, na minha opinião, fosse dizer que este filme tem ainda menos desenvolvimento e aprofundamento da história que os outros.
    Por exemplo, não lendo o último livro e só vendo estes dois filmes, nem sequer se percebe a importância da personagem do irmão de Dumbledore (Aberforth). Vendo apenas o filme, é como se fosse uma toque de leve numa personagem que no livro é crucial para a história! Fiquei com pena pois é um twist muito engraçado no livro, por sinal.

    Concordo plenamente contigo no que toca ao sombrio dos filmes, à nuvem negra que se vai aproximando. Acho que está muito feito à imagem dos livros. Embora seja uma saga juvenil, Rowling não se coibiu de imprimir na história essa vertente e penso que é essencial a sua presença nos filmes. Aliás, fico contente por ela existir e até gostaria que este último filme, fosse mais sombrio, mais negro.
    Mas acho que é importante fazer uma menção honrosa ao Alfonso Cuáron que embora só tenha dirigido o Prisioneiro de Azkaban, foi quem apostou de início nas sombras e trevas da história de Harry. Foi quem disse: “hey, isto tem um lado mau!”. Yates acaba por seguir na continuidade.

    Concordo com o teu 8 em 10, Inês e parabéns pelo teu trabalho aqui no EF.

    Um abraço e cumprimentos, obrigado pelo tempo de antena.

    Diogo Alpendre

    1. Olá Diogo,

      Antes de mais, obrigada pelo comentário. Gosto sempre de receber feedback por aqui.
      Sim, eu sei que não se pode pôr tudo o que está nos livros nos filmes, claro. 😛 Achei sinceramente que a parte 1 dos Talismãs da Morte foi dos filmes da saga que mais foram fiéis ao livro, tirando claro, uma ou outra questão, principalmente no que toca à história de Dumbledore, e aí entra essa história do Aberforth, que foi, como bem disseste, completamente deixada de parte aqui, sendo de extrema importância. Acho que se o filme tivesse pelo menos mais 15 minutos (como a primeira parte), poderia ganhar um pouco mais em certos aspectos de desenvolvimento.

      Quanto à parte sombria, que eu também tanto adoro, deu um gostinho ainda mais especial a este final. É provavelmente o filme mais negro de todos e ainda bem que assim é. E claro, todo o mérito para o Cuáron e para o seu Prisioneiro de Azkaban, como bem referes. 🙂

      Mais uma vez agradeço o teu comentário, Diogo,
      Um abraço.

  2. Não consegui perceber a desilusão de imensas pessoas com quem falei. Apesar do filme estar afunilado, de muitas vezes querer fazer desenrolar a narrativa de forma abrupta e sem a tal “respiração” necessária que o Parte 1 teve a mais, eu achei um final bastante digno e merecedor de reconhecimento. O David Yates, tal como dizes, está a melhor muito e a fotografia do Eduardo Serra confere um toque de tamanha seriedade que se torna já singular perante os outros filmes da saga.

    Eu gostei, talvez quisesse ver mais espectacularidade mas para isso o filme teria de ter uma extensão muito maior. Afastaria o generalidade do público e a facção comercial deixaria de existir.

  3. Concordo totalmente com o que foi dito. A tua opinião é a minha. E destaco os seguintes pontos:

    “Este último filme merecia, apesar de tudo, uma maior duração para que, para além de todo o espectáculo visual, se pudesse desfrutar realmente da história, que acaba por ser deixada um pouco de parte. ”

    “(…) esta segunda parte precisava que a história do livro fosse mais bem desenvolvida, bem como as cenas de acção que deixam o público com vontade de ver mais.”

    “Sou uma assumida fã de Harry Potter e talvez por isso tenha elevado demasiado as expectativas para este capítulo final, mas a verdade é que saí um pouco desiludida da sala de cinema. ”

    “só não se compreende a pouca caracterização na cena final, quando as personagens deveriam mesmo parecer mais velhas, não caindo no ridículo como inevitavelmente acontece.”

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